sábado, 10 de outubro de 2009

Dubai: Paraíso artificial.



O Dubai, visto como um paraíso, com o dinheiro fácil do petróleo. Aqui é relatado sua face mais real. Construído com o esforço dos emigrantes que nele trabalham. Este é o relato de Johann Hari.





Quem é Johann Hari? Nascido em 1979, Johann Hari, é um dos jornalistas britânicos mais brilhantes da sua geração. Colunista do diário The Independent, também escreve reportagens e grandes entrevistas com personalidades de todo o mundo. Foi nomeado jornalista do ano em 2007 e, em 2008, tornou-se o mais jovem laureado com o George Orwell Prize, atribuído a textos políticos.
https://webmail.netcabo.pt/exchweb/bin/redir.asp?URL=http://www.independent.co.uk/opinion/commentators/johann-hari/the-dark-side-of-dubai-1664368.html





DUBAILAND?





O sheik (xeque) Mohammed bin Rashid Al Maktoum, o soberano de Dubai, vendeu este ao mundo como a cidade das Mil e Uma Luzes, uma Sangri-lá do Oriente Médio protegida das tempestades de areia que assolam a região


Estamos em abril de 2009, e alguma coisa está mudando no sorriso do xeque Mohammed.


Nessa "terra do Nunca" edificada num extremo do mundo, as rachas começam a aparecer.

Dubai é uma metafora num mundo globalizado neoliberal que pode estar desmoronando.

Entre os guindastes espalhados por toda parte, muitos estão paralisados, como que perdidos no tempo, e há inúmeros canteiros de obras inacabados, num abandono completo.

A canadiana Karen Andrews, chegou a Dubai quatro anos atrás.


O marido tinha conseguido um bom emprego numa multinacional. "Parecia uma Disneylândia para adultos, com o xeque Mohammed no papel de Mickey", relembra.


A vida era fantástica". Não tardou muito e Daniel, o marido de Karen, comprou dois imóveis. Mas, pela primeira vez na vida, ele teve problemas com as finanças. Karen começou a estranhar as confusões financeiras do marido.


Passado um ano, descobriu que Daniel tinha um tumor malignono cérebro. "Até então, eu não sabia nada a respeito das leis de Dubai, imaginei que o sistema local deveria ser parecido com o do Canadá, ou quaquer outra democracia liberal".


Ninguém lhe disse que no Dubai não existe o conceito de falência. Quem se endividar e não tiver para pagar vai para a cadeia.

No Dubai, quando um funcionário deixa o emprego, o empregador tem o dever de comunicar o facto ao seu banco.


Caso tenha dívida em aberto, todas suas contas são bloqueadas e ele fica proibido de sair do país.

"De repente, os nossos cartões de crédito deixarem de funcionar. Fomos despejados do nosso apartamento e não tínhamos mais nada". Daniel foi preso no dia do despejo, condenado a seis meses de prisão diante de uma corte que só falava árabe, sem tradução.

"Agora estou aqui, sem nada, aguardando que ele saia da prisão", explica a mulher. Karen dorme dentro de um Range Rover há meses, no estacionamento de um dos hóteis mais chiques de Dubai, graças à caridade dos funcionários bengaleses, que não tiveram coragem de expulsá-la.




O caso de Karen não é único. Por toda a cidade existem imigrentes dormindo clandestinamente nas dunas de areia, no aeroporto ou no próprio carro.


"É preciso entender que em Dubai nada é o que aparenta ser", resume a canadiana. "é atraído pela idéia de um lugar moderno, mas por trás dessa fachada o que temos é uma ditadura medieval.


"Trinta anos atrás, quase toda a área onde se ergue hoje o emirado deDubai era deserta. Foi então que os ingleses o deixaram no século XVIII. Até que em 1971, o Dubai se juntou a seis pequenos estados vizinhos e formaram a federação dos Emirados Árabes Unidos. A retirada britânica coincidiu com a descoberta de lençóis de petróleo na região.



Al Maktoum decidiu fazer o deserto enriquecer. Planejou construir uma cidade que se tornasse o centro do turismo e de serviços financeiros, atraindo dinheiro e profissionais do mundo inteiro. Convidou o mundo ao seu paraíso fiscal - e o mundo veio, esmagando os habitantes locais, que agora representam apenas 5% da população total de Dubai. Em apenas três décadas uma cidade inteira surgiu do nada. Um salto do século XVIII para o século XXI em apenas uma geração.

Todas as noites os milhares de estrangeiros que constroem o Dubai são levados dos seus locais dormitórios para as obras, em pleno deserto, distante uma hora da cidade. Ali permanecem isolados. São levados em autocarros fechados de volta após o seu dia de trabalho.

São cerca de 300 mil homens que moram amontoados. Nesse local que cheira a esgoto e suor que visitei o primeiro acampamento, logo fui cercado por moradores, ávidos para desabafar com quem se dispusesse a ouvi-los. Depois algum tempo, alguém rompe o silencio: "Sinto saudade do meu país, da minha família, da minha terra. Aqui, não dá para plantar nada. Só tem petróleo e obras."

Um cidadão inglês que trabalhou no sector da construção disse-me: "Ocorrem inúmeros suicídios nos acampamentos e nas obras, mas ninguém quer saber do assunto. Dizem que foi um acidente."


Um estudo da ONG Human Rights Watch revelou que existe um ocultamento da real extensão das mortes causadas pela exposição ao calor, excesso de trabalho e os suicídios.

Na distância, a cintilante silhueta de Dubai se ergue indiferente. O dia tem sempre a mesma luminosidade artificial, o mesmo piso brilhante, o mesmo luxo. Neles, Dubai se reduz à sua essência: compras e mais compras.

Como se sente o cidadão local diante da ocupação de seu país por estrangeiros? Quando abordados, as mulheres calam-se e os homens ofendem-se, respondendo secamente que está tudo bem.

Concluo que não é prudente sair perguntando essas coisas para dubaienses. Dubai não é apenas uma cidade vivendo além de seus recursos financeiros.


O emirado vive além de seus recursos ecológicos. Dubai bebe o mar. A água dos emirados, dessalinizada em fábricas espalhadas por todo o Golfo, é a mais cara do planeta. Segundo Dr. Raouf, caso a recessão se transforme em depressão, Dubai pode ficar desabastecida. O aquecimento global piora ainda mais a situação."Estamos construindo todas essas ilhas artificais, mas se o nível do mar subir afunda tudo...

" Na minha última noite no emirado, já a caminho do aeroporto, parei numa pizzaria perdida no meio da autoestrada. Pergunto à rapariga filipina do balcão se ela gosta do lugar. "Gosto", diz ela, inicialmente. "Pois eu detesto", rebato. Ela concorda e desabafa: "Demorei alguns meses para perceber que tudo aqui é falso. Tudo. As palmeiras são falsas, os contratos de trabalho são falsos, as ilhas são falsas, os sorrisos são falsos.. Dubai é como uma miragem. Você acha que avistou água, mas quando chega ao perto vê que é só areia."

O estacionamento do aeroporto está repleto de carros de luxo, abandonados por pessoas que voltaram aos seus países de origem esseparaíso, chamado Dubai.



2 comentários:

  1. Isso é só uma pequena a mostra da real face de Dubai em breve o mundo verá o que esta por vim...

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  2. Morei em Dubai 3 anos e realmente é tudo o que está na reportagem, quem migrou no começo , fez muito dinheiro, agora quem já foi do meio para o fim, só ver hotéis de l luxo que pagam aos seus funcionários uma merreca, os alojamentos são péssimos os empregos melhores são apenas para os Ingleses, que eles tem ainda um certo respeito, e tem alianças diplomatas.
    Dubai vai cair, e aqueles magnatas de merda, vão sucumbir, e eu vou estar na plateia assistindo a queda e a volta desses bando de beduínos ao tempo dos camelos e tendas sujas. É o que eles merecem! porcos!

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