sábado, 29 de setembro de 2012
Taxa sobre as transacções financeiras: roubar de volta quem rouba não é solução!
Taxar as transacções financeiras, é um dos objectivos do próprio poder estabelecido - que quer consolidar o seu poder e que o Capitalismo que temos passe de um modelo de chamado "Mercado Livre" para um modelo de Economia Planeada.
Planeada, claro, por esse mesmo poder estabelecido (constituído pelos grandes capitalistas e banqueiros internacionais) através dos seus governos-fantoche, de um modo semelhante ao que se fazia nos regimes fascistas. Tudo para que o cartel formado pelo Clube Bilderberg, e afins, passe a constituir, de facto, uma espécie de Governo Mundial / Empresa Mundial S.A.
Não sendo por acaso que quem anda a pressionar por esta reforma são grupos controlados por esse mesmo poder estabelecido - como é o caso da ATTAC, que surgiu por iniciativa do jornal Le Monde Diplomatique, criado pelo jornal Le Monde, membro do Clube Bilderberg.
Sou, de um modo geral, contra os impostos e subsídios. Que considero, na sua maioria, ilegítimos e injustos. E não acho que roubar, de volta, quem rouba seja a solução. (O qual não é sequer o caso, no que falamos, pois o dinheiro que é extorquido a todos os capitalistas, neste tipo de impostos, nem sequer vai parar, de volta, às pessoas, mas sim passa para as mãos dos vários Estados e, através das dívidas fraudulentas por estes contraídas, por sua vez, para as mãos dos banqueiros e grandes capitalistas que constituem o Clube Bilderberg e afins, acabando os grandes capitalistas por reaver, deste modo, o seu dinheiro e constituindo também tudo isto, em boa parte, uma forma de roubo dos grandes capitalistas aos pequenos capitalistas.)
Penso que o que é preciso é acabar com os roubos em si. E que, para isso, é preciso mudar a sociedade pela raiz e substituir o modelo económico que temos por um outro onde não haja roubos. Se isto é possível ou não, já é outra questão a debater. Mas é esta a única maneira correcta e coerente que vejo de mudar as coisas.
Estar a pressionar por este tipo de reformas acaba por ser até uma maneira de legitimar, pelo menos em parte, o próprio sistema. E de dizer que o mesmo pode ser algo benéfico para as pessoas. Acabando também por diminuir a contestação das pessoas ao mesmo e por permitir a este que sobreviva e, através dos mencionados esquemas, se fortaleça até.
Texto do meu amigo Fernando Negro
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quinta-feira, 27 de setembro de 2012
Taxa sobre as transacções financeiras: uma medida positiva.
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O governo português está a estudar a introdução de uma taxa sobre as transacções financeiras, ao nível europeu essa medida, também conhecida como Taxa Tobin, tem estado em cima da mesa.
A CGTP propõe uma taxa de 0,25% sobre todas as transacções de valores mobiliários, independentemente do local onde são efectuadas (mercados regulamentados, não regulamentados ouo fora de mercado), com a excepção do mercado primário de dívida pública.
Essa medida permitiria uma receita de cerca de 2 mil milhões de euros.
(A CGTP também preconiza a criação de mais um escalão de 33,33% no IRC para as empresas com volume de negócios superior a 12,5 milhões de euros (o que permitiria mais mil milhões de euro), uma sobretaxa sobre os dividendos distribuídos (1,6 mil milhões de euros) e um maior combate à fraude e evasão fiscal.)
Vantagens:
A especulação exagera no sistema económico actual é a grande responsável pela actual crise económica, as operações financeira não gerem riqueza, fazem apenas que essa riqueza mude mãos. O sistema financeiro actual está extremamente inflacionado, não correspondendo a qualquer valor produtivo.
Ao desestimular o fluxo de capitais para operações a muito curto prazo, penaliza-se a especulação, isentando os investimentos, o que também confere uma maior estabilidade ao sistema financeiro. Coloca-se assim um freio numa economia excessivamente especulativa.
A França foi o primeiro país da Europa a impor uma taxa sobre transacções financeiras, no dia 1 de agosto deste ano. Essa taxa é de 0,2% sobre a compra e venda de acções e obrigações, não cobrido os produtos derivados. Essa taxa não foi seguida de qualquer fuga de capitais, sendo que o CAC 40 não sofreu qualquer queda acrescida desde essa data.
Desvantagens:
Esta medida é difícil de por em pratica unilateralmente. Sendo o mercado cambial descentralizado, não regulamentado e bastante volátil, o país que proceda desta forma poderá sofrer da saída de capitais para outro país onde esta taxa não é aplicada.
Apesar de muitos países da União Europeia concordarem na sua introdução, os bancos têm muito poder e são eles que controlam a economia mundial e não estão dispostos à introdução dessa taxa.
Este imposto sobre as transacções financeiras poderá prejudicar a bolsa portuguesa, não esquecer que as mais valias já estão taxadas a 26,5%, quando há dois anos ou não eram ou no limite tinham uma txa de 10%.
Os investidores estrangeiros e nacionais irão investir o seu dinheiro nos mercados onde essa taxa não existe, sendo que actualmente as transferências de valores financeiros está apenas ao alcance de um simples "click".
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quarta-feira, 26 de setembro de 2012
França encarece despedimentos
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Hollande planeia algo revolucionário no âmbito da nova lei de trabalho. Pretende aumentar o custo dos despedimentos.
“A ideia principal é encarecer de tal ordem os despedimentos que não compense às empresas [fazê-lo]“, disse Sapin em entrevista à rádio France Info. “Não se trata de sanções, mas de dar compensações adequadas aos trabalhadores”, complementou.
A iniciativa de encarecer os despedimentos em França, onde já estão altamente regulamentados e, muitas vezes, são muito dispendiosos para os empregadores, contrasta com as medidas em curso noutros países da Zona Euro, como Itália e Espanha, onde o despedimento se tornou mais barato. (fonte)
É preciso tê-los no sítio, mas vamos esperar para ver se não são falsas bandeiras.
De qualquer forma já afrontou o capital
com a promessa de taxar a 75 por cento os rendimentos anuais
superiores a 1 milhão de euros. Não admira a perda de popularidade já sobejamente noticiada.
As tácticas do FMI para sugar os países credores
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As novas instâncias internacionais, tais como o FMI, o Banco Mundial e o Banco de Colonização
Internacional (Bank of International Settlement), foram criados para estender a supremacia da
economia do planeta inteiro.
As contribuições que cada nação deve pagar anualmente são da ordem de bilhões. Se uma nação tiver problemas para pagar sua contribuição, são os operários os mais atingidos eque se ressentem do problema. Atualmente o FMI procura, sob a ordem dos banqueiros internacionais,os meios para controlar toda a economia mundial.
O membro do “Comitê dos 300” Harold Lever fez uma proposta conhecida pelo nome de “Plano
Ditchley”. Segundo o plano Ditchley, a política financeira e monetária dos Estados Unidos passaria, ao
largo da lei, para o controle do FMI. Esse plano permitiria ao FMI reunir no Banco Mundial todos os
bancos centrais das diferentes nações.
Em 1982, os mais eminentes bancos de Wall Street e o governo dos Estados Unidos decidiram de
comum acordo impor a cada país devedor as pesadas condições de reembolso que foram colocadas pela
Kissinger Associates Inc. (o conselho de direcção é composto de Robert O. Anderson, magnata do
petróleo e presidente do instituto Aspen, do ex-secretário de estado das relações exteriores de Thatcher,
Lorde Carrigton e de Lorde Roll of Ipsden, diretor do Bank of England e do Banco S. G. Warburg).
O FMI, o Federal Reserve Bank e o Bank of England devem assegurar o papel de “polícia mundial” para recuperar as dívidas. A América teve a idéia de colocar o FMI, conhecido pela sua intransigência, no centro de todas as negociações de dívidas.
As condições do FMI foram elaboradas pelos representantes do FMI Irving Friedman - o que lhe
valeu uma posição elevada no Citibank.
Os capitais do Fundo Monetário Internacional (FMI), representaram para os países uma espécie de isca.
Quando as dificuldades de um país são detectadas, os especialistas do FMI mostram-lhe o que é
preciso que seja absolutamente mudado. Eles declaram em seguida ao país endividado que se ele quiser
mesmo obter qualquer crédito que seja de um banco estrangeiro, ele deve reduzir suas importações ao
mínimo necessário. Ele deve também fazer baixar de forma drástica as despesas de Estado e
principalmente todas as subvenções para a alimentação básica e outras concessões para as pessoas
carentes. A condição sine qua non é sempre desvalorizar a moeda. Isto aparentemente para que as
exportações fiquem mais baratas e se tornem, assim, mais competitivas no mercado mundial.
Mas, na verdade, o preço das importações elevavam-se e as dívidas aumentavam. Este é o primeiro
passo. O segundo consiste em obter do país que ele consinta em um vasto programa de conversão de
dívidas. Era então que os bancos credores asseguravam-se da futura penhora sobre o país endividado.
Eles contavam, além disso, com os pagamentos dos lucros e das amortizações. O FMI tornou-se a
polícia ecónomica internacional dos grandes bancos privados. Um após outro, os países devem negociar
as condições de reembolso com o FMI e os bancos do grupo Ditchley.
Segundo informações do Banco Mundial, os bancos credores privados receberam de 1980 a 1986 o
equivalente a US$ 326 bilhões como pagamento de juros de 109 países devedores. No mesmo período,
US$ 332 bilhões foram reembolsados. Foi assim que as dívidas de US$ 658 bilhões foram pagas, sendo
que o montante original das dívidas era de US$ 430 bilhões. Apesar disso, os 109 países deviam ainda
US$ 882 bilhões aos bancos credores.
Essa ação conjunta de lucros demasiado elevados e de valor de câmbio oscilante mergulha os países num
emeranhado de dívidas inestimáveis, que é lucrativa para os bancos.
Fonte: Sociedades Secretas de Jan Van Helsing Capítulo 42
Publicado no blogue "Acorda Portugal" : http://omeuministerio.blogspot.pt/2012/09/o-fundo-monetario-internacional-fmi.html
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sábado, 22 de setembro de 2012
O isco da TSU
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Perplexo, o povo português defrontou-se com uma medida demasiado grosseira para ser verdade: iriam tirar aos trabalhadores o seus rendimentos para entregar directamente o dinheiro do seu trabalho ao patronato.
Todos estavam contra essas medidas, desde a oposição, o que é normal, até aos próprios membros do PSD. Tinha-mos unanimidade. Com uma medida desta, era normal, quando nos vão ao bolso é normal tal reacção básica, ainda para mais essas medidas nem sequer estavam prevista no memorando da Troika, toda gente estava mais contra.
Reunião do Conselho de Estado, e depois volta tudo atrás, essas "medidas não são bem assim, vão ser alteradas, mas são necessárias novas medidas para colmatar essa perda de receitas".
Tudo não passa de um embuste, uma manobra de diversão, as privatizações de sectores fundamentais da nossa economia passam então como necessárias, entre muitas outras medidas, como as mexidas no IRS que irá afectar os que não podem escapar ao fisco, ou seja, o rendimento do trabalho. As novas mediadas que vêem aí serão mais gravosas do que as actuais decorrentes das alterações da TSU, mas disfarçadas de medidas necessárias, que a maioria das pessoas não irá perceber.
As manifestações populares promovidas pela "sociedade civil" foram curiosamente difundida por todos os meios de comunicação social, falava-se em 90 mil pessoas convocadas, mas após a divulgação mediática, chegaram aos 500 mil, só em Lisboa, muito à custa dessa mesma comunicação social que tudo fez, curiosamente ou não, para as promover. Tiveram direito a toda a divulgação durante horas. Chega-se a pensar que foram promovidas por essa mesma comunicação social, nas mãos dos grandes grupos económicos. Até tiveram direito à cobertura de helicópteros, quanto o mesmo não acontece com greves ou manifestações promovidas por organizações sindicais.
Depois vêem-nos dizer que o recuo das medidas sobre a TSU foi uma vitória do descontentamento, da vontade popular, quando na realidade essas medidas, que todos sabíamos injustas (propositadamente demasiado grotescas) tinham esse objectivo: fazer crer que foi uma derrota popular, fazer crer que o "povo" tem uma palavra dizer, que é dono das decisões tomadas. Nada mais falso, estas medidas "injustas" foram construídas para dar lugar a outras menos mediáticas, que essas sim irão afectar a vida de todos os portugueses sem que esses se apercebam e por consequência, se manifestem.
Estas medidas absurdas da TSU, que ninguém concorda, não passam de medidas que se sabia iriam ser "chumbadas" à partida, para dar lugar a medidas que serão aceites por todos como necessárias, essas sim sem descontentamento, equivalentes ou superiores à famosa TSU, mais gravosas do que esta teatralidade, mas sempre a favor do capital.
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Perplexo, o povo português defrontou-se com uma medida demasiado grosseira para ser verdade: iriam tirar aos trabalhadores o seus rendimentos para entregar directamente o dinheiro do seu trabalho ao patronato.
Todos estavam contra essas medidas, desde a oposição, o que é normal, até aos próprios membros do PSD. Tinha-mos unanimidade. Com uma medida desta, era normal, quando nos vão ao bolso é normal tal reacção básica, ainda para mais essas medidas nem sequer estavam prevista no memorando da Troika, toda gente estava mais contra.
Reunião do Conselho de Estado, e depois volta tudo atrás, essas "medidas não são bem assim, vão ser alteradas, mas são necessárias novas medidas para colmatar essa perda de receitas".
Tudo não passa de um embuste, uma manobra de diversão, as privatizações de sectores fundamentais da nossa economia passam então como necessárias, entre muitas outras medidas, como as mexidas no IRS que irá afectar os que não podem escapar ao fisco, ou seja, o rendimento do trabalho. As novas mediadas que vêem aí serão mais gravosas do que as actuais decorrentes das alterações da TSU, mas disfarçadas de medidas necessárias, que a maioria das pessoas não irá perceber.
As manifestações populares promovidas pela "sociedade civil" foram curiosamente difundida por todos os meios de comunicação social, falava-se em 90 mil pessoas convocadas, mas após a divulgação mediática, chegaram aos 500 mil, só em Lisboa, muito à custa dessa mesma comunicação social que tudo fez, curiosamente ou não, para as promover. Tiveram direito a toda a divulgação durante horas. Chega-se a pensar que foram promovidas por essa mesma comunicação social, nas mãos dos grandes grupos económicos. Até tiveram direito à cobertura de helicópteros, quanto o mesmo não acontece com greves ou manifestações promovidas por organizações sindicais.
Depois vêem-nos dizer que o recuo das medidas sobre a TSU foi uma vitória do descontentamento, da vontade popular, quando na realidade essas medidas, que todos sabíamos injustas (propositadamente demasiado grotescas) tinham esse objectivo: fazer crer que foi uma derrota popular, fazer crer que o "povo" tem uma palavra dizer, que é dono das decisões tomadas. Nada mais falso, estas medidas "injustas" foram construídas para dar lugar a outras menos mediáticas, que essas sim irão afectar a vida de todos os portugueses sem que esses se apercebam e por consequência, se manifestem.
Estas medidas absurdas da TSU, que ninguém concorda, não passam de medidas que se sabia iriam ser "chumbadas" à partida, para dar lugar a medidas que serão aceites por todos como necessárias, essas sim sem descontentamento, equivalentes ou superiores à famosa TSU, mais gravosas do que esta teatralidade, mas sempre a favor do capital.
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quinta-feira, 20 de setembro de 2012
A verdade escondida por trás do escandalo do BPN
Porque é que o estado injectou 5,7 mil milhões de euros para salvar o BPN evocando um risco sistémico quando este banco representava apenas 2% de quota de mercado?
Porque, para além da corrupção e das altas personalidades envolvidas, o que muita gente não sabe, porque não foi divulgado, é que muito dinheiro da Segurança Social estava lá depositado, e essa verdade não convêm a ninguém.
Jogar na bolsa o dinheiro das reformas.
Os descontos que fazemos para a reforma são geridos pela Centro Nacional de Pensões da Segurança Social ou a Caixa Geral de Aposentações (no caso das reformas da Função pública e empresas do Estado). Mas, como é óbvio, esse dinheiro não fica a "dormir" durante anos para ser utilizado para pagar as pensões mais tarde.
No caso da Caixa Geral de Aposentações, a carteira de investimentos é composta quase exclusivamente por títulos de dívida do Tesouro português, o que em caso de queda de valor de mercado, como tem sido o caso nos últimos anos, as perdas podem ser significativas. Só no ano de 2011, essas perdas foram de 1,46 mil milhões de euros. Esta política de investimentos, adoptada pelos sucessivos governos, há muito tempo que deixou de ser considerada segura.
No caso da Caixa Geral de Aposentações, a carteira de investimentos é composta quase exclusivamente por títulos de dívida do Tesouro português, o que em caso de queda de valor de mercado, como tem sido o caso nos últimos anos, as perdas podem ser significativas. Só no ano de 2011, essas perdas foram de 1,46 mil milhões de euros. Esta política de investimentos, adoptada pelos sucessivos governos, há muito tempo que deixou de ser considerada segura.
No caso da Segurança Social, o dinheiro das reformas é gerido pela Caixa Geral de Depósitos (CGD) que investe esse dinheiro em títulos de dívida portuguesa, sendo assim a CGD um dos maior credores do próprio Estado com um valor superior a 5 mil milhões de euros. Mas a CGD também investe esse dinheiro em outras áreas.
O dinheiro da Segurança Social no BPN.
Sabe-se que a CGD tinha várias contas no BPN aproveitando os juros irreais praticados nesse banco, quanto não se sabe ao certo, falava-se na altura em mais de 500 milhões de euros, mas talvez seja muito mais. O BPN foi criado 1993, e em 1999 foi aberta uma ou várias contas pela CGD utilizando os fundos da Segurança Social, sendo nessa altura José Oliveira e Costa o seu presidente e o ministro responsável pela Segurança Social no governo Ferro Rodrigues.
Pela administração e órgãos sociais do BPN e da Sociedade Lusa de Negócios (SLN) passaram muito dirigentes de vários quadrantes políticos, principalmente do PSD, daí que quando da nacionalização, tenha havido poucas críticas. Dias Loureiro, por exemplo foi compadre de Ferro Rodrigues, quando da casamento dos seus filhos João Ferro Rodrigues e Joana Dias Loureiro, o mundo é pequeno.
A conta da Segurança Social no BPN dá-se portanto em 1999, sendo legítima tal abertura de conta, mas depressa se verificaram grande movimento nas entrada e saída de dinheiro pouco claras. Ainda não é claro se parte desse dinheiro era aplicado em depósitos, acções ou obrigações, ou se era usado nas dezenas de off-shores desse banco, ou até para financiar certas personalidades.
Desde 2001 que decorriam vários processos relativos ao BPN/SLN no Ministério Público, na Polícia Judiciária e na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários, o próprio Banco de Portugal tinha conhecimento das prática pouca claras praticadas pelo BPN.
As apostas perdidas...para alguns.
Com a gestão de um fundo de maneio de 2 mil milhões de euros, a Segurança Social teria um depósito de cerca de 500 milhões no BPN (ou mais) o que representa 25% de todo o fundo num banco que tinha apenas 2% de quota de mercado. Esse dinheiro investido pela Segurança Social foi o principal motivo da nacionalização do BPN, um banco que custo ao Estado, segundo alguns cálculos 8 mil milhões, e que foi vendido ao BIC por apenas 40 milhões. Esse escândalo não podia ser revelado.
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segunda-feira, 17 de setembro de 2012
O que fazer com as manifestações?
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As manifestações deste fim de semana foram as maiores de sempre em Portugal, espontâneas, legítimas e com testemunhos comoventes. A revolta estendeu-se a todo os estratos sociais. No dia seguinte ficar a pergunta: o que fazer com estas manifestações?
Ao longo de décadas, fizeram-nos acreditar que o único sistema democrático viável era aquele em que vivemos, pautado por eleições regulares dominadas por partidos políticos. Acreditamos que ao colocar o nosso boletim de voto de quatro em quatro anos numa urna somos donos dos nossos destinos. Vivemos neste sistema esquecendo que, na realidade, o nosso voto não é escolhido livremente, mas sim fruto de vários factores dos quais o mais importante, a manipulação mediática, nas mãos dos grandes grupos financeiros, é que "decide" em que candidato iremos votar, no meio de uma mão cheia de candidatos impostos pelos partidos políticos.
Após a votação, o candidato escolhido tem carta branca para fazer o que os grandes grupos financeiros lhes ditam. Este sistema está construído, muito em particular através do método d' Hondt, para perpetrar no poder, alternadamente, dois grandes partidos, um de centro-direita e outro de centro esquerda, que são exactamente a mesma coisa. É o que se passa em todos os países ocidentais.
Outras soluções são possíveis para ter um sistema mais democrático, mas o poder, e quem o manipula, não está interessado noutras vias para não perder os seus privilégios. Nestas condições, é praticamente impossível combater o sistema capitalista instalado actuando por dentro, isto é com as mesmas armas.
As manifestações, mesmo desta amplitude, são apenas cócegas para este sistema capitalista, com a vantagem de servir de panela de escape à revolta popular.
Muitas das várias revoluções mundiais "apenas" conseguiram substituir uma ideologia partidária de direita por uma outra de esquerda ou vice-versa. O nosso sistema democrático não tolera verdadeiras democracias populares, aquelas que invertem a pirâmide do poder, aquelas que a nível local, de bairro ou de vila, decide as suas prioridades, que as transmite ao nível regional e por fim ao nível nacional. Com o actual sistema, o topo da pirâmide na maior parte das vezes não faz a mínima ideia, nem está preocupado com o que se está a passar na parte de baixo.
O actual modelo afastou o poder da realidade, desvalorizando o trabalho e a justa distribuição dos rendimentos. Privilegia uma elite política que troca favores entre si para manter imutável uma sistema corrupto e especulativos com o qual partilha o fruto do trabalho produzido pela multidão de escravos que financia os seus altos rendimentos.
A legítima revolta popular traduzida nesta manifestação que ficará para a História, coloca também a questão de saber o que fazer no dia seguinte com essa manifestação. Existem muitas alternativas às medidas anunciadas por este governo, mas é pouco provável que ele irá voltar atrás nas suas decisões.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2012
Medidas e mentiras
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As medidas apresentadas pelo governo em nome do emprego e dos compromissos com a Troika estão inundadas por mentiras. O discurso de Passos Coelho representa uma estratégia criminosa delineada pelos grandes grupos financeiros internos e externos para destruir o país e os portugueses.
Não se trata de um imposto.
Mentira, por muitas voltas que alguns lhe querem dar, trata-se não só de um imposto, como de um verdadeiro roubo aos trabalhadores para engordar as grandes empresas. Isto representa uma transferência de 2,3 mil milhões de euros anuais para os grandes grupos económicos. Além disso, o estado ainda arrecada a diferença entre o aumento de 7% pago pelos trabalhadores e os 5,75% da redução da TSU paga pelo patronato, ou seja 1,25%.
A baixa da TSU para as empresas irá promover o emprego.
Mentira, em teoria até poderia ser verdade se essa baixa não fosse paga pelos trabalhadores.
Assim sendo, a diminuição do poder de compra irá diminuir o consumo interno que sustenta as PME que representam mais de 90% das nossas empresas. O ganho de algumas dezenas de euros mensais para cada uma das PME não será suficiente para a contratação de nenhum trabalhador. Os principais beneficiados são as grandes empresas que virão os seus lucros aumentados, mas esse dinheiro será aplicado no estrangeiro. Além disso as grandes empresas de distribuição, Sonae e Jerónimo Martins, irão perder dinheiro por haver menor consumo.
O aumento da contribuição para segurança social equivale a um salário.
Mentira, a perda é sempre superior a um salário e pode até ser de dois.
No caso de quem ganha o salário mínimo, ou seja 485 euros ilíquido por mês, a antiga contribuição para a segurança social (11%) era de 53 euros por mês, agora (18%) será de 87 euros por mês, ou seja a remuneração líquida, após a contribuição, recebida pelo trabalhador passa de 432 para 398 euros, o que representa uma perda anual de 475 euros equivalente a 1,1 salários.
Para quem ganha 3470 euros ilíquido mensal, feitas as mesmas contas, a perda anual equivale a 1,5 salários.
Em nome da equidade os reformados vão também perder dois salários.
Mentira, aqui não existe qualquer equidade, os descontos para a reforma são obrigatórios, esse dinheiro não "pertence" ao Estado, destina-se a pagar as reformas mais tarde, trata-se uma legítima expectativa.
Os mais desfavorecidos vão beneficiar de um ajustamento no IRS.
Mentira, a redução do número de escalões irá aumentar os impostos por reenquadramento e deverá afectar os três
primeiros escalões, que abrangem três milhões de contribuintes. Mas o
maior impacto deverá sentir-se no segundo escalão que agrega a maior
fatia de contribuintes: dois milhões. Esta mudança está construída para apanhar o maior número de pessoas nos escalões mais baixos que são os que dão mais dinheiro através deste imposto.
Os "ricos" também irão contribuir.
Mentira, além de não existir qualquer pormenor quanto a uma suposta taxa sobre carro de alta cilindrada e barcos, a taxa extraordinária de 5% sobre imóveis com valor superior a um milhão vai afectar 120 imóveis que pertencem ao estado, portanto esse valor será pago pelos contribuintes. Estas medidas a serem aplicadas não passam de uma manobra de diversão.
O Governo vai aumentar ainda este ano de 25 para 26,5% as taxas
liberatórias, que incidem sobre dividendos, mais-valias mobiliárias e
royalties, mas esse aumento de 1,5% representa apenas 25 milhões de euros.
O corte de um dos subsídios mantém-se para a função pública e reformados.
Aqui existe um flagrante desrespeito pelo que foi proferido pelo Tribunal Constitucional. A manter-se será a primeira vez. Num Estado de direito não se pode aceitar tal atitude, caso contrário, é o principio do fim desse mesmo Estado.
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quinta-feira, 13 de setembro de 2012
O sonho de Passos Coelho
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“Se
os deficientes não tiverem uma família que possa suportar o custo da
sua assistência não se pode atirar o fardo para cima da sociedade”
“Um
terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a
verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por
nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar,
aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos
matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre.
Há gente muito
piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o
que custar, e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar
melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo.
Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos.
E as estatísticas já mostram isso.
O Mota Soares está a fazer bem o seu
trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não
são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa
que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso
favor. A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência.
Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos
tratamentos. A natureza faz o resto.
O Paulo Macedo também faz o que
pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é
importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar
toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre
sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são
mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos
que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.
Estas
tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram
inventados quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres
para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há
cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso
podar estes sub-humanos.
Que
há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o
terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não
contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho
muita pena... os recursos são escassos.
Ainda no outro dia os jornais
diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os
analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão
engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto são: os
analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os
pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não
somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo,
os pedintes e os ciganos, claro.
E os deficientes. Não são todos. Mas se
não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não
se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E temos
de promover a justiça social.
O
outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de
alguns operários e assim, mas esta pouca vergonha de pensarem que mandam
no país só porque votam tem de acabar.
Para começar, o país não é
competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar
à escravatura - é outro papão de que não se pode falar - mas a verdade é
que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura. Libertam-se
recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e
permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam.
A chatice
de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que
precisamos destes gajos para fazer algumas coisas chatas e, para mais
(por enquanto) votam - ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em
nós. O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem
com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm
de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários.
Acabar
com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o
nível de vida de maneira que percebam quem manda. Estes têm de andar
sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser
sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e
telenovelas e reality shows para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.
O
outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços
essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os
convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de
mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem
viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os
ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde
deles não podemos pagar a saúde dos pobres.
por José Vítor Malheiros
Texto publicado no jornal Público a 11 de Setembro de 2012
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segunda-feira, 10 de setembro de 2012
As 10 perguntas sobre os incêndios em favelas paulistas
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Mais um incêndio atingiu na segunda-feira, dia 3, uma favela da cidade de São Paulo. Desta feita, as vítimas foram os moradores da Favela do Piolho, no bairro do Campo Belo, na zona sul da capital, numa área que fica próxima, bem pertinho mesmo, do aeroporto de Congonhas, imponentemente encravado em região nobre da metrópole.
Em 2012, foi o 32º incêndio dessa natureza em São Paulo (média de quatro por mês). Já tinham sido registados outros 79, no ano passado. Só no de segunda-feira, quase 300 casas foram destruídas e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas. Não tenho, confesso, condições de fazer afirmações. Mas, como sugeria e ensinava o filósofo grego Sócrates, ao reconhecer que “só sei que nada sei”, posso fazer perguntas.
Questionar não ofende. E ajuda a pensar. Minhas dúvidas:
1. Será que a Prefeitura de São Paulo nos considera mesmo tolinhos e imagina que vamos acreditar, num exercício de fé profunda, que os incêndios são apenas coincidências, lamentáveis tragédias?
2. Incêndios em favelas nessa quantidade acontecem em alguma outra cidade do planeta? Ou São Paulo é um foco isolado, um ponto fora da curva, uma “metrópole incendiária exclusiva”?
3. Será que apenas os moradores de favelas não sabem acender o gás ou riscar um fósforo, não sabem lidar com o fogo?
4. Por que essa mesma quantidade de incêndios não acontece em condomínios de luxo dos bairros nobres da cidade?
5. Por que a prefeitura paulistana, à época da administração de José Serra, desactivou o Programa de Segurança contra Incêndio, implantado durante a gestão da prefeita Marta Suplicy e que tinha como propósito justamente desenvolver acções de prevenção e orientação especificamente em favelas? E por que o actual prefeito, Gilberto Kassab, não retomou o programa?
6. Por que os bombeiros e as demais autoridades públicas responsáveis pelas investigações não conseguem explicar ou definir as causas e os responsáveis pelos incêndios, com os laudos finais invariavelmente apontando para “motivos indeterminados”?
7. Será que o que de fato move esses incêndios é uma deliberada política de higienização e limpeza social, destinada a expulsar os moradores das favelas, que “enfeiam as paisagens”, para aproveitar os terrenos finalmente “limpos” para a especulação imobiliária, tornando assim a fotografia da capital “mais bela e atraente”?
8. Por que nenhum jornal de referência e de grande circulação faz as perguntas que devem ser feitas, com intuito de construir a melhor versão possível da realidade?
9. Por que os repórteres de emissoras de rádio e de TV que transmitem informações ao vivo sobre os incêndios (incluindo os repórteres aéreos) parecem sempre mais preocupados com os reflexos dos incêndios sobre o trânsito, em apontar rotas alternativas para os motoristas, do que em dedicar atenção às vítimas das tragédias (muitas fatais) ou à destruição de casas e de sonhos?
10. Por que nos acostumamos aos incêndios nas favelas e passamos a considerá-los algo “natural, normal”, como se já fizessem parte da paisagem urbana e do quotidiano da metrópole, aceitando resignadamente a banalização da tragédia e da violência? Em que lugar do passado ficou perdida nossa capacidade de indignação e de reacção?
Publicado por Francisco Bicudo em:
http://oblogdochico.blogspot.com.br/2012/09/dez-perguntas-sobre-os-incendios-em.html
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Mais um incêndio atingiu na segunda-feira, dia 3, uma favela da cidade de São Paulo. Desta feita, as vítimas foram os moradores da Favela do Piolho, no bairro do Campo Belo, na zona sul da capital, numa área que fica próxima, bem pertinho mesmo, do aeroporto de Congonhas, imponentemente encravado em região nobre da metrópole.
Em 2012, foi o 32º incêndio dessa natureza em São Paulo (média de quatro por mês). Já tinham sido registados outros 79, no ano passado. Só no de segunda-feira, quase 300 casas foram destruídas e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas. Não tenho, confesso, condições de fazer afirmações. Mas, como sugeria e ensinava o filósofo grego Sócrates, ao reconhecer que “só sei que nada sei”, posso fazer perguntas.
Questionar não ofende. E ajuda a pensar. Minhas dúvidas:
1. Será que a Prefeitura de São Paulo nos considera mesmo tolinhos e imagina que vamos acreditar, num exercício de fé profunda, que os incêndios são apenas coincidências, lamentáveis tragédias?
2. Incêndios em favelas nessa quantidade acontecem em alguma outra cidade do planeta? Ou São Paulo é um foco isolado, um ponto fora da curva, uma “metrópole incendiária exclusiva”?
3. Será que apenas os moradores de favelas não sabem acender o gás ou riscar um fósforo, não sabem lidar com o fogo?
4. Por que essa mesma quantidade de incêndios não acontece em condomínios de luxo dos bairros nobres da cidade?
5. Por que a prefeitura paulistana, à época da administração de José Serra, desactivou o Programa de Segurança contra Incêndio, implantado durante a gestão da prefeita Marta Suplicy e que tinha como propósito justamente desenvolver acções de prevenção e orientação especificamente em favelas? E por que o actual prefeito, Gilberto Kassab, não retomou o programa?
6. Por que os bombeiros e as demais autoridades públicas responsáveis pelas investigações não conseguem explicar ou definir as causas e os responsáveis pelos incêndios, com os laudos finais invariavelmente apontando para “motivos indeterminados”?
7. Será que o que de fato move esses incêndios é uma deliberada política de higienização e limpeza social, destinada a expulsar os moradores das favelas, que “enfeiam as paisagens”, para aproveitar os terrenos finalmente “limpos” para a especulação imobiliária, tornando assim a fotografia da capital “mais bela e atraente”?
8. Por que nenhum jornal de referência e de grande circulação faz as perguntas que devem ser feitas, com intuito de construir a melhor versão possível da realidade?
9. Por que os repórteres de emissoras de rádio e de TV que transmitem informações ao vivo sobre os incêndios (incluindo os repórteres aéreos) parecem sempre mais preocupados com os reflexos dos incêndios sobre o trânsito, em apontar rotas alternativas para os motoristas, do que em dedicar atenção às vítimas das tragédias (muitas fatais) ou à destruição de casas e de sonhos?
10. Por que nos acostumamos aos incêndios nas favelas e passamos a considerá-los algo “natural, normal”, como se já fizessem parte da paisagem urbana e do quotidiano da metrópole, aceitando resignadamente a banalização da tragédia e da violência? Em que lugar do passado ficou perdida nossa capacidade de indignação e de reacção?
Publicado por Francisco Bicudo em:
http://oblogdochico.blogspot.com.br/2012/09/dez-perguntas-sobre-os-incendios-em.html
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sexta-feira, 7 de setembro de 2012
Era uma vez um país que gastava 215 milhões de euros na cultura e 327 milhões de euros na televisão pública...
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... e esse país é Portugal...
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... e esse país é Portugal...
O Orçamento da Cultura para o ano de 2011 foi de 215 milhões de euros, menos 8,8 por cento do que em 2010, ou seja 0,4 por cento da despesa total prevista da administração centra, enquanto isso, a televisão pública custou ao Estado, ou seja a todos nós, 326 milhões de euros.
O dinheiro pago à RTP serve para pagar ordenados bastante acima da média para a mesma função noutra empresa (num total de 113 milhões de euros), alimentar um sistema de "cunhas" para ingressar e progredir no seu interior, e realizar despesas astronómicas na compra de programas de qualidade medíocre.
Como escrevia recentemente o blogue "oinsurgente": «Deve um governo ter um canal de televisão na sua posse? Precisamos dum canal da televisão na posse do estado para que exista qualidade e isenção nas televisões?»
«Olhando para a programação da RTP1 (música pimba de manhã, novelas e música pimba de tarde, “entretenimento” pago a preço de ouro à noite) e para os shares da RTP2 (consistentemente abaixo dos 5%) parece evidente que em termos de qualidade e de necessidade as coisas não estão propriamente bem entregues. Olhando para sucessivas polémicas de sucessivos governos que são acusados de querer usar a televisão pública em proveito próprio ter-se-á uma ideia pelo menos quanto à percepção da permeabilidade da RTP ao poder político.»
Quanto custa a RTP?
Em indemnizações compensatórias e em transferências de capital, a RTP custou ao Estado, desde 2009, cerca de mil milhões de euros. Acresce a este valor as contribuições do audiovisual que os portugueses pagam mensalmente com a factura eléctrica.
De acordo com a Direcção-Geral do Tesouro e Finanças, as indemnizações compensatórias recebidas pela RTP foram de: 109,5 milhões de euros em 2011
(Este valore integra o IVA que a RTP, depois, tem de devolver ao Estado.)
De acordo com dados da Direcção-Geral do Tesouro, as transferências de capital na RTP foram de: 66,2 milhões de euros em 2011
De acordo com os relatórios e contas da RTP, as contribuições do audiovisual foram de: 151,1 milhões de euros em 2011
Ou seja um valor total para 2011 de 326,8 milhões de euros
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quinta-feira, 6 de setembro de 2012
França: medidas sociais em tempo de crise
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François Hollande viaja de comboio para ir às reuniões em Bruxelas |
Apesar dos partidos situados ao centro direita e ao centro esquerda nunca irem desenvolver qualquer mudança política de relevo, dado que fazem parte do mesmo projecto e são filhos dos grandes grupos económicos, os de esquerda sempre tiveram uma maior preocupação social.
O actual presidente da república francesa, François Hollande, socialista, tomou posse há apenas quatro meses e já concretizou algumas medidas sociais e económicas bastante interessantes.
Não estando sob resgate financeiro, a saúde económica da França sofre com alguns dos problemas a que estão sujeitos todos os países da zona euro, no entanto as medidas tomadas são a prova que durante as crises existe margem de manobra para uma maior equidade social.
As apostas são: uma maior transparência das políticas seguidas pelo Estado perante os seus cidadãos, taxar as grandes fortunas, taxar as transacções financeiras, apoio aos mais desfavorecidos, criação de emprego, aposta na educação e na cultura.
Segue uma lista de algumas medidas já realizadas:
- Redução de 30% nos salários dos ministros (que passam assim de 14 200 para 9 940 euros), do Primeiro Ministro e do Presidente da República.
- Criação de um "Pacto Deontológico" para os membros do governo, com uma declaração de não existência de conflito de interesses com o sector privado, a não aceitação de prendas com um valor superior a 150 euros, a não participação em qualquer organismo incluindo os sem fim lucrativo que interfira com as suas funções, a renuncia aos mandatos autárquicos, privilegiar as deslocações em comboio para percursos inferiores a três horas,...
- Retirada das tropas francesas do Afeganistão até ao final do ano.
- Criação de um "Livro Branco" sobre a defesa, em que será claramente definida a estratégia de defesa, as missões das forças armadas, as prioridades militares francesas e as colaborações com outras forças de defesa estrangeiras.
- Reforma aos 60 anos de idade para os trabalhadores com um longo período de descontos.
- Aumento de 25% no abono à famílias para a escolarização dos filhos.
- Baixa do tecto máximo salarial dos gestores públicos, que será agora de 450 000 euros anuais, ou seja este valor não poderá ser superior a 20 vezes a média dos ordenados mais baixos praticados nessas empresas.
- Construção de 150 000 alojamentos sociais em 2012, contra 110 000 em 2011.
- Baixa do imposto cobrado pelo estado sobre a venda de gasolina.
- Bonificação nas ajudas ao alojamento dos jovens.
- Imposto extraordinário de 74% para os rendimentos superiores a 1 milhão de euros anuais.
- Criação de mais 1 000 postos de trabalho para professores no ensino básico, 280 para o ensino superior e 14 500 para auxiliares de ensino.
- Aumento em 0,6% do salário mínimo, para além do aumento anual (1,4%) baseado sobre a taxa de inflação.
- Redução do IVA sobre os livros e os espectáculos culturais, que passa assim de 7 para 5,5%.
- Duplicação da taxa sobre transacções financeiras (que será agora de 0,2%) .
- Governo com o mesmo numero de homens e mulheres e criação de um ministro do Direito da Mulheres.
- Imposto excepcional, de 4%, sobre os stocks de produtos petrolíferos, para evitar a especulação.
- Limite de aumento anual em 2% sobre as tarifas regulamentadas do gás e electricidade.
- Aumento de 2,1% nas bolsas para estudantes.
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terça-feira, 4 de setembro de 2012
O negócio dos incêndios em Portugal
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Pela oportunidade, e porque continuam a fazer-nos crer na inevitabilidade dos incêndios acontecerem todos os anos devido unicamente às condições meteorológicas, volto a publicar um texto de José Gomes Ferreira, escrito em 2010.
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?
Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?
Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.
Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.
"A indústria dos incêndios", um texto de autoria de JOSÉ GOMES FERREIRA , sub-director de informação da SIC.
Pela oportunidade, e porque continuam a fazer-nos crer na inevitabilidade dos incêndios acontecerem todos os anos devido unicamente às condições meteorológicas, volto a publicar um texto de José Gomes Ferreira, escrito em 2010.
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1 - Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros países europeus da orla mediterrânica?
Porque é que os testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem 700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?
Porque é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2 - A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta realidade.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente. (Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5 - Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.
Com uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve prazo.
"A indústria dos incêndios", um texto de autoria de JOSÉ GOMES FERREIRA , sub-director de informação da SIC.
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