A velhice, outrora sinónimo de sabedoria, deixou de ter qualquer lugar na nossa sociedade actual baseada no "eternamente jovem". O velho foi relegado a lixo, desprezável e desprezível porque velho. Abandonados pela sociedade e pelos próximos, que nada têm a aprender com eles, dado que o neto e até o próprio filho "sabem" mais do que ele, ficam relegados ao isolamento.
A situação em Portugal
Hoje, temos mais de 19% da população com mais de 65 anos de idade, e mais de 40 000 idosos não têm capacidade financeira para comprar alimentos.
Cerca de 38% dos idosos portugueses vivem com a família, mas cada vez mais são abandonados em hospitais nos momentos de férias, por incomodarem, porque são um fardo, e assim ficam afastados, escondidos, entregues às instituições.
Só no ano passado, a PSP registou cerca de 3 000 casos de idosos encontrados mortos em casa, abandonados, sem que ninguém se preocupa-se com as suas vidas. Na "operação Censos Sénior", a GNR identificou 23 000 casos de idosos a viverem isolados.
Os idosos, além do isolamento, têm problemas dentários (35%), dificuldades económicas (24%), falta de apetite (13%) e falta de medicamentos (12%). 40 000 idosos deixarem de poder comprar o passe de 3ª idade, com 50% de desconto, por falta de dinheiro, esse facto, de não se poderem deslocar a um preço acessível, isolou-os ainda mais.
Os países "atrasados" dão o exemplo.
Claro que nas nossas sociedades ocidentais, qualquer miúdo de 12 ou 14 anos "sabe" mais que qualquer avô, basta irem à internet, têm lá tudo, excepto a vivência, fruto da sabedoria ancestral. Em África ou em certos países asiáticos, os mais velhos são guardiões da herança colectiva. A idade tornou-os uma realidade sócio-cultural, têm um papel social específico, têm uma grande importância sobre o mundo que os rodeia e interagem com esse mundo.
As nossas comunidades ocidentais desprezam os idosos, não têm um lugar na nossa sociedade, incomodam, são feios, enrugados, são um fardo, não fazem parte integrante dessa comunidade. Com a sociedade de consumo, de imediatismo, do "eternamente jovem", as sociedades ocidentais perderam essa mais-valia: o valor do núcleo familiar e a mais valia dos mais velhos como parte integrante desse núcleo.
Velhice não é sinónimo de decadência.
A idade não é sinónimo de decadência, pobreza e doença. Esse conceito recente, só se encontra nas nossas sociedades ocidentais. A sociedade de prazer imediato não deve desprezar valores como o envelhecimento, cada vez mais prolongado pelos avanços tecnológicos que não acompanharam os valores humanísticos. O envelhecimento representa apenas mais uma etapa da vida que pode ser propício à realização e satisfação pessoal.
Os idosos podem e devem ser "fonte de recursos", seres activos capazes de oferecer respostas criativas às mudanças sociais, fazendo parte da relação familiar muitas vezes esquecida. Os idosos não se podem sentir competidores sexuais em relação aos mais novos, podem e devem ter direito a uma vida sexual plena, mesmo que vivida de uma maneira diferente.
Actualmente os idosos são vistos como improdutivo e portanto descartáveis, "apanhados" pelo tempo, pela decadência física e mental, mas enquadrados numa vida familiar saudável podem manter, e devem manter, um lugar fundamental na nossa sociedade.
Claro que o envelhecimento trás um aumento da gordura corporal, perda da musculatura, diminuição da capacidade regenerativa dos vários orgãos, diminuição do débito cardíaco, diminuição da capacidade pulmonar ou diminuição do número de neurónios.
Mas os idosos podem melhorar esse declínio com o exercício físico moderado, diminuir o declínio psicológico com a interacção com os outros, e sobretudo serem integrados de pleno direito na vida familiar em que estejam integrados, vivendo uma vida útil nessa mesmo família, sem usurpar funções, mas tendo um lugar digno que compete a todos nós manter.
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