quinta-feira, 29 de setembro de 2011

A mentira mediática da vala comum de prisioneiros líbios

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As autoridades interinas da Líbia, o Conselho Nacional de Transição, anunciaram este domingo ter descoberto uma vala comum com 1270 corpos de presos mortos no massacre de 1996 na cadeia Abu Salim, em Trípoli.


"Descobrimos o lugar onde estavam enterrados esses mártires", declarou Jalid Sherif, porta-voz do Conselho Militar do CNT, à imprensa na capital, Trípoli. Ele garantiu que existem provas de que as mortes foram "actos criminosos" do regime deposto de Kadhafi.
 

Farjani também mencionou "actos odiosos cometidos contra cadáveres, sobre os quais foi lançado ácido para eliminar qualquer evidência deste massacre".
 




Esta, foi a notícia difundida em todos os canais televisivos e jornais ocidentais, só que na realidade esse cadáveres são de . . . dromedários.







Alguns jornalistas presentes em Tripoli, deslocaram-se ao local. Nele encontraram umas trinta pessoas, familiares dos desaparecido, a cavar o solo com uns paus de madeira, na esperança de encontrar os defuntos.


O local não estava vedado, não existia qualquer equipa médica ou representante do Conselho Nacional de Transição (CNT) que três dias antes tinha divulgado a notícia.


Depressa se verificou que os ossos encontrados eram demasiado grandes para pertencerem a um ser humano. Trata-se na realidade de ossos de dromedários. Ainda não foi encontrado qualquer osso humano.


Se a notícia da descoberta desta vala comum de prisioneiros do regime friamente mortos pelo regime sanguinário de Kadhafi foi amplamente difundida nos média, a informação de que se tinha tratado de um "erro" não teve qualquer eco. 


Isto no dia em que, mais uma, vez a NATO continuava a bombardear Sirte e que os combatentes do CTN cercavam a cidade. Esta mentira da vala comum é portanto bem vinda para justificar os bombardeamento. 




http://www.liberation.fr/monde/01012362187-libye-le-vrai-faux-charnier-d-abou-salim

http://www.lexpress.fr/actualite/monde/afrique/libye-confusion-autour-des-fosses-communes-de-kadhafi_1034435.html

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Intervenção da NATO na Líbia: um operação preparada de longa data

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15 fevereiro 2011: revolta violenta em Bengasi que depois alastra a outras cidades líbias.

21 fevereiro 2011: o ministro da justiça líbio, Mustafa Abdel Jalil demite-se.

27 fevereiro 2011: Abdel Jalil instala o Conselho Nacional de Transição (CNT) e declara-se o único representante da Líbia.

10 março 2011: a França reconhece o CNT como governo legítimo da Líbia.

10 março 2011: nesse mesmo dia o Reino Unido oferece, em território britânico, um escritório diplomático ao CNT.

12 março 2011: o CNT cria um novo banco, o Banco Central da Líbia e uma companhia nacional petrolífera líbia.

17 março 2011: início da intervenção da NATO na Líbia.



Toda esta operação da NATO estava preparada de longa data. O grande objectivo dos Estados Unidos, do Reino Unido e da França foi sempre apoderar-se do petróleo líbio e isso passava pela eliminação de Kadhafi, mas obviamente não iriam instalar uma pessoa qualquer no poder. E essa pessoa é Mustafa Abdel Jalil.




Quem é, na realidade, Abdel Jalil?



Mustafa Abdel Jalil era o equivalente ao ministro da Justiça do governo líbio desde 2007. 


Desde essa altura, que uma das suas principais "tarefas" tem sido a libertação de centenas de combatente anti-Kadhafi. Em 2010 até tinha ameaçado demitir-se, se o seu programa de libertação dos prisioneiros opositores ao regime não fosse acelerado. 


Este antigos prisioneiros iriam constituir mais tarde, a principal força bem treinada da rebelião das quais faz parte o famoso Grupo Islâmico Combatente da Líbia (GICL).
Após a libertação dos últimos membros do GICL, Abdel Jalil demite-se, e uma semana depois cria o Conselho Nacional de Transição.


Durante anos a fio, Abdel Jalil mantinha negociações secretas com os Estados Unidos com vista à futura privatização da economia líbia pós-Kadhafi. Este facto explica a rapidez com foi feita a transferência das riquezas líbias, com a criação do Banco Central da Líbia e a a companhia nacional petrolífera líbia, 15 dias apenas após a criação do CNT.


Também talvez explique porque é que Abdel Jalil recusou pouco depois a mediação do conflito pela União Africana, preferindo a intervenção dos seus amigos da NATO.



Rebeldes líbios pró-americanos


Esta estranha rebelião foi dirigida e fomentada por um grupo de quatro conhecidos opositores com ligações aos Estados Unidos e colaboração com a CIA  e MI6 que viviam nos Estados Unidos e em Inglaterra à mais de 35 anos, três têm passaporte americano e um inglês. O outro grupo influente de rebeldes é composto pelos "dissidentes" de última hora, dos quais fazem parte Abdel Jalil, antigo ministro da Justiça e um oficial de alta patente implicado entre outras coisas na desestabilização do Chade.





Serviços secretos MI6 e queda do regime líbio.


O plano de ocupação da Líbia pela NATO foi construído com a colaboração dos serviços secretos da CIA e do MI6. Documento confidenciais recuperados após a queda de Tripoli revelam agora o papel importante de Mark Allen, antigo sub-director da luta antiterrorismo do MI6 britânico. 


Logo após a invasão do Iraque em 2003, tinha-se tornado claro que a Líbia seria o próximo alvo da NATO. Mark Allen servia então de intermediário entre a Líbia, os Estados Unidos e o Reino Unido para "facilitar" as relações e litígios entre esses países.


Na Líbia, o seu interlocutor principal era o chefe dos serviços secretos Mussa Kussa. Este, abandonou o seu país em plena guerra para se juntar ao seu amigo Mark Allen em Londres.


Durante a invasão da Líbia pela NATO, Mark Allen já se tinha reformado do MI6, mas vamos encontrá-lo como conselheiro político da petrolífera BP e consultor do Monitor Group que fazia lobbying junto do filho de Kadhafi, Saif El Islman Kadhafi, que terá sido ingenuamente utilizado.


Mark Allen está ainda acusado de ter utilizado no passado as prisões líbias para que agentes do MI6 aí  torturassem prisioneiros acusados de terrorismo, fugido assim às leis britânicas. Este facto foi relatado pela ONG Humain Rights Watch após visitarem os locais dos serviços secretos de Kadhafi.


O chefe rebelde Abdelhakim Belhadj afirma, por seu lado, que no tempo em que esteve preso nas prisões de Kadhafi, terá sido interrogado pelos serviços secretos franceses. Human Rights Watch pede que um inquérito internacional seja levado a cabo para esclarecer estes factos.


Abdelati Obeidi, antigo ministro dos negócios estrangeiros líbio, afirma que até há poucos meses, os agentes dos serviços secretos britânicos do MI6 ainda continuavam a colaborar com algumas pessoas do antigo regime de Tripoli e estavam operacionais quando se iniciou a revolta líbia.





http://www.mondialisation.ca/PrintArticle.php?articleId=26412
  
http://www.france-info.com/monde-afrique-2011-09-09-libye-les-services-secrets-francais-ont-ils-collabore-avec-le-regime-560712-14-18.html

http://www.voltairenet.org/Des-documents-attestent-du-role-de


http://www.bbc.co.uk/afrique/region/2011/09/110906_libya-mi6.shtml

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Mamografia sistemática: inútil na redução da mortalidade

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Além da mamografia poder ser ligeiramente dolorosa para a mulher por compressão da mama e de existirem numerosos casos de falsos positivos que provocam inutilmente preocupações psicológicas, alguns estudos sugerem que a repetição sistemática das mamografias preventivas poderá em vez de diminuir, aumentar o risco de contrair um cancro da mama devido às radiações.


Apesar destes constrangimentos, trata-se aqui de saber se o despiste do cancro da mama através de mamografias sistemáticas pode prevenir o seu aparecimento.


Ora, a revista British Medical Journal (BMJ) acabou de publicar no dia 28 de julho de 2011 um estudo que prova a inutilidade das mamografias de rotina na diminuição da mortalidade no cancro da mama.


Os autores compararam a mortalidade do cancro da mama em vários países em que os meios de tratamento eram idênticos, mas em que o despiste sistemático por mamografia se iniciou em datas diferentes.


O período do estudo foi de 1989 a 2006. Os países foram a Suécia, a Noruega, a Holanda, a Bélgica, a Suíça e a Islândia, portanto países em que os meios de tratamento após o despiste de um cancro da mama são similares. 


Primeira constatação: durante este período verificou-se um decréscimo em 25% da mortalidade por cancro da mama. À primeira vista pode-se pensar que essa diminuição terá sido devida ao despiste sistemático pela mamografia. Mas, apesar dos vários factores que dificultam a interpretação, parece não ter sido o despiste com as mamografias que conduziram à diminuição da mortalidade por cancro da mama, mas sim, os progressos no seu tratamento.


Os autores constataram que apesar da introdução do despiste sistemático com a mamografia se ter realizado anos diferentes nestes países, a diminuição progressiva da mortalidade verificada foi exactamente a mesma em todos esses países.



http://www.bmj.com/content/343/bmj.d4411.abstract

Confirma-se a inutilidade do fenofibrato (Catalip, Supralip e Lipofen)





SupralipO Fenofibrato comercializado com os nomes de Catalip (Abbott), Supralip (Abbott) e Lipofen (Vitoria), é utilizado desde há anos como antidislipidémico, isto é para a redução da quantidade de gorduras (triglicéridos e colesterol) no sangue.



Vários estudos clínicos chegaram à mesma conclusão: os fenofibratos não têm qualquer eficácia na redução dos acidentes cardiovasculares ou na redução da mortalidade.


O artigo mais recente publicado no British Medical Journal (BMJ) no dia 11 de agosto de 2011 faz a revisão de vários ensaios clínicos efectuados com o fenofibrato e confirma a sua ausência de eficácia na redução dos acidentes cardiovasculares, isto apesar da redução dos lípidos. 

http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMp1106688



A esse propósito, a bula do Lipantyl (fenofibrato já não comercializado em Portugal), refere na sua versão francesa: "Dado o seu efeito sobre o colesterol LDL e os triglicéridos, o tratamento com o fenofibratos deverá ser benéfico nos doentes com hipercolesterolémia com ou sem hipertrigliceridémia, incluído na hiperlipoprteinémia secundária como a diabetes tipo 2. Actualmente, nenhum resultado de ensaio clínico a longo prazo, permite demonstrar a eficácia do fenofibrato na prevenção primária e secundária das complicações arterioscleróticas". Tradução: o fenofibrato  deveria ser benéfico, até na diabetes tipo 2, mas não é!



Já no dia 29 de abril de 2010, o New England Journal of Medicine (NEJM) tinha publicado os resultados do estudo clínico conhecido com o nome de ACCORD. Nele, diabéticos foram estudados ao longo de cinco anos. Um grupo tomava sinvastatina e um placebo e o outro grupo tomava sinvastatina e fenofibrato. Apesar do do fenofibrato ter baixado os níveis dos triglicéridos, este não tinha qualquer influência na frequência e na gravidade dos acidentes cardiovasculares. Nas mulheres este até os aumentava. Os autores concluíram que  era desnecessário os diabéticos tomarem fenofibratos.

http://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1001282



Em fevereiro de 2010, um estudo publicado na revista Diabetes Care, mostrou que os diabéticos que tomaram fenofibrato (200 mg por dia) durante cinco anos tiveram uma deterioração da sua função renal, com elevação da creatinémia e diminuição da clearance da creatinina.

http://care.diabetesjournals.org/content/33/2/215.short