Não se trata aqui de avaliar se Milosevic era ou não culpado, trata-se sim de denunciar os vícios de um julgamento cujos resultados finais, construídos antecipadamente, iriam ilibar a NATO da sua intervenção ilegal na antiga Jugoslávia.
Março 2001:
Os Estados Unidos fixam um ultimato ao governo "reformado" de Belgrado: Milosevic tem de ser feito prisioneiro antes do dia 31 de Março, sob pena do país vir a sofrer sanções económicas. O presidente Kostunica, a quem o ocidente "ofereceu" a vitória eleitoral alguns meses antes, hesita. Não quer abdicar da soberania nacional entregando Milosevic.
Abril 2001:
Sobre pressão do seu primeiro-ministro Djindjic e da Alemanha, Kostunica cede e aceita que um comando de forças especiais cerca a residência de Milosevic. Após 36 horas, este rende-se às autoridades.
Junho 2001:
Apesar de ir contra as leis sérvias, Milosevic é extraditado para a Haia, na Holanda, sede do Tribunal Penal Internacional, onde irá ser julgado por crimes de guerra e crimes contra a humanidade perpetrados na Jugoslávia.
Fevereiro 2002:
Começa o julgamento de Milosevic. Muitos dos que, fazendo parte da NATO violaram as convenções internacionais com a intervenção na Jugoslávia, acusam agora Milosevic de infracções graves à Convenção de Genebra. Perante isto, Milosevic contesta a legitimidade deste Tribunal em julga-lo, apesar de tudo aceita, mas sendo jurista assume a sua própria defesa.
Março 2002:
Milosevic dispõe de dois conselheiros jurídicos sérvios da sua confiança para o assistir na defesa. A canadiana Louise Arbour dirige a acusação, será mais tarde Alta comissária das Nações Unidas para os Direitos do Homem. Será substituída pela suíça Carla Del Ponte. Até Setembro, a acusação vai apresentar as provas de culpabilidade de Milosevic no Kosovo, depois e até Dezembro de 2003 será vez das provas de culpabilidade na Bósnia e na Croácia.
Abril 2003:
Milosevic consegue defender-se das acusações, a tal ponto que o jornal "Le Monde Diplomatique" dirá: "a defesa ofensiva de Slobodan Milosevic está a conseguir destabilizar as testemunhas acusatórias". Multiplicam-se testemunhos contraditórios e documentos falsificados. Alguns jornais definem o julgamento como um fiasco .
2003:
O estado de saúde de Milosevic deteriora-se, sofre de hipertensão, de stress e de cansaço extremo, como confirma o cardiologista da prisão. A acusação sabe que é difícil um só homem gerir um dossiê deste tamanho e inunda Milosevic com novas peças de convicção e montanhas de documentos. O ritmo da audiência abranda e as interrupções são cada vez mais frequentes. Aproveitando o estado de saúde debilitado do acusado, o tribunal propõe-lhe um advogado de defesa escolhido pelo TPI. Milosevic recusa.
Abril 2004:
Chegou finalmente a vez de Milosevic chamar as suas testemunhas. Dão-lhe três meses para se preparar, quando seriam necessários dois anos. Milosevic quer chamar a depor o mesmo numero de testemunhas que a acusação.
Agosto 2004:
Milosevic declara em tribunal: "não só as vossas acusações são uma teia de mentiras, mas também representam uma incrível desnaturação da verdade histórica". Continua com a apresentação da defesa.
Setembro 2004:
O tribunal nomeia dois advogados de defesa com o pretexto que a saúde precária de Milosevic não lhe permite defender-se sozinho. Milosevic protesta e recusa cooperar com o tribunal.
Outubro 2004:
Os dois advogados de defesa nomeados pelo tribunal pedem a demissão
Abril 2005:
O julgamento prossegue na ausência do acusado, ausente por problemas de saúde. Muitas das testemunhas recusam comparecer enquanto não estiver presente Milosevic.
Junho 2005:
Milosevic volta ao tribunal, mas quando faz uma comentário ou coloca uma questão julgada incomoda para a acusação, o seu microfone é desligado.
Janeiro 2006:
O estado de saúde de Milosevic piora e a Rússia propõe a sua deslocação a Moscovo para tratamento.
Fevereiro 2006:
O processo não ata nem desata e Milosevic revela que suspeita que o queiram matar.
11 Março 2006:
Milosevic morre na prisão. Causa oficial: enfarto.
18 Março 2006:
Enterro de Milosevic em Belgrado. Apesar de mais de 500 000 pessoas presentes, os representantes da NATO fizeram pressão para que o governo sérvio não realizar obsequias nacionais.
http://membres.multimania.fr/wotraceafg/yougo.htm#milosevic
http://usa-menace.over-blog.com/article-2762164.html
http://www.slobodan-milosevic.org/
http://www.csotan.org/textes/textes.php?type=TPI
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminar