segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A construção mediática do "monstro" sérvio.

Quase vinte anos depois, a imagem do "monstro" sérvio ainda está bem presente na mente dos ocidentais. Os média veicularam voluntariamente, na altura da guerra, uma imagem dos sérvios como sendo os responsáveis de genocídios e crimes contra humanidade.


Esta mediatização está na base da aceitação da intervenção da NATO na ex-Jugoslávia.


Hoje sabemos que muitas das imagens e informações dessa época foram manipuladas.



(Nota: os seguinte texto mostra uma "imagem" diferente da habitualmente aceite das guerras da ex-Jugoslávia e não tem como objectivo desculpabilizar todas as atrocidades cometidas por uma da partes, neste caso a servia.)





1992, 1994, 1995: os "massacres" de Sarajevo.



27 de Maio de 1992, uma explosão numa rua de Sarajevo mata vinte pessoas que formavam uma fila frente a uma padaria. Instantaneamente, os média denunciam este massacre como sendo devido a um tiro da artilharia sérvia. Curiosamente não se vê qualquer buraco de impacto de obus e quase todas as vítimas são servias. Não obstante, uma equipa de televisão muçulmana da Bósnia aproveita para filmar estas cenas de horror que irão dar a volta ao mundo como sendo obra dos malditos sérvios a matar inocentes.


Na realidade, veio-se a saber mais tarde que este massacre tinha sido perpetrado pelas milícias bósnias. Finalidade: promover a instalação de tropas estrangeiras no país e obter o embargo internacional contra Belgrado; o que se veio a verificar três dias mais tarde.


5 de Fevereiro de 1994, novo massacre "sérvio" desta vez num mercado de Sarajevo: 68 mortos e 200 feridos. A cadeia de televisão CNN, no local, transmite cenas de terror. No dia 28 desse mês, aviões da NATO abatem aviões sérvios na Bósnia como forma de represália. Será o primeiro acto de guerra da NATO desde a sua fundação.



28 de Agosto de 1995, não há duas sem três. Mesma forma de actuar e no mesmo local que em 1994. Desta vez 37 mortos. Real motivo deste atentado: quebrar definitivamente a resistência servia na Bósnia e fazer com que a NATO dite as suas condições. Em Setembro, os bombardeamentos da NATO têm início na república de Srpska. Em Novembro, começam as negociações que porão fim a guerra


Nestes três casos, o mesmo cenário teve como objectivo os mesmos efeitos: chocar a opinião pública, e conduzi-la a aceitar, e até a reclamar, medidas enérgicas contra os "carrascos" de Belgrado. O "truque" da morte de inocentes em pleno mercado funcionou.



O "genocídio" de Srebrenica.



Julho de 1995: na Bósnia e na Croácia, a guerra eterniza-se, com mortes e a destruição das economias. Chega a um momento em que é mais lucrativo reconstruir do que continuar a destruir o que já está destruído. A NATO decide organizar uma intervenção massiva e directa da sua aviação para resolver de uma vez por todas a presença sérvia na Croácia. Os planos estão pronto, só falta uma "justificação moral" para atacar.


Essa justificação vai ser dada pelo caso de Srebrenica, um enclave muçulmano da Bósnia em território sérvio. Dos dois lados foram numerosos os mortos em três anos de combates, mas a NATO opta por propagandear apenas as vítimas muçulmanas civis.


O Tribunal Penal Internacional (TPI), dominado pelos aliados da NATO prepara a acusação. Fala em 7500 mortos civis muçulmanos assassinados pelos sérvios. Só faltam as provas e ... os corpos das vítimas. São encontrados 600 cadáveres. Não são suficientes para a classificação de genocídio com que este tribunal pretende responsabilizar os sérvios. Não encontrando mais cadáveres, o TPI declara que os 7000 cadáveres anunciados que faltam em Srebrenica deverão ter sido escondidos pelos sérvios



Resumindo: se temos os presumíveis assassinos e a ausência de vítimas, é porque estes monstros esconderam os corpos, portanto são duplamente responsáveis. A propaganda anti-servia funciona, a indignação dos países europeus está no auge.


No espaço de quatro dias os Croatas com a ajuda da NATO conquistam o conjunto dos territórios cobiçados e obrigam à fuga de 400 000 sérvios. Os 5% de sérvios que permanecem na Croácia perdem os seus direitos, dado que a Croácia não reconhece minorias nacionais com menos de 8%...




O "massacre" de Racak no Kosovo.



Três anos mais tarde é a vez do Kosovo estar na mira dos ocidentais. No início de 1999, os separatistas albaneses tentam retirar a sua província do que ainda resta da Jugoslávia. No dia 15 de Janeiro, a polícia servia acompanhada pelos observadores da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa) e de uma equipa de televisão da Associated Press entram em Racak, uma aldeia dominada pelo UCK (Exército de Libertação do Kosovo). Dá-se uma troca de tiros com a morte de quinze albaneses. Os sérvios e a comitiva de estrangeiros deixam Racak.


No dia seguinte, o UCK faz visitar Racak por um grupo de jornalistas e William Walker, chefe da missão da OSCE. Este mostra aos jornalistas uma fossa com 45 "civis" barbaramente abatidos pelos sérvios. Esta notícia dá a volta ao mundo amplificada pelos média, pela NATO e pelos governos ocidentais. Estava encontrado o crime contra a humanidade que todos necessitavam.



Bill Clinton, na Casa Branca, está indignado. Mas alguns jornalistas têm duvidas. O número de mortos era excessivo e os relatos das testemunhas albanesas não correspondiam ao que estes jornalistas tinham observado na véspera. A UCK, com a cumplicidade de Walker, tinha reunido todos os militares mortos na zona de Racak e vestido os cadáveres com roupas civis para expor assim o "crime" sérvio. No local não havia vestígios de sangue ou de cartuchos deste bárbaro "fuzilamento".


A constante mediatização ocidental produz efeito. Dois meses depois, o mundo está preparado para aceitar a "guerra humanitária" da NATO com o bombardeamento da Jugoslávia e a ocupação do Kosovo.



Em Janeiro de 2001, uma equipa finlandesa de especialistas em medicina legal confirma que nunca ter havido um massacre em Racak, mas já é tarde...

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