quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

A inacreditável pequena ditadura da Tchetchénia

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A tchetchénia, uma das repúblicas da Federação da Rússia, no Caucáso, com apenas 17 000 km2 e um milhão de habitantes, é governada com mão de ferro desde 2007 por um jovem e excêntrico ditador (38 anos de idade): Ramzan Kadyrov.




Milícias e ordem.


Após 5 anos de combates sangrentos, com o pretexto de luta anti-terrorista, contra os separatistas, Vladimir Putin retira 75% dos 100 000 militares russos da Tchetchénia e entrega o poder a Kadyrov para que este mantenha o ordem.


A ordem é mantida com eficácia e crueldade à custa de uma milícia composta por mais de 20 000 homens de confiança de Kadyrov, baptizados os "Kadyrovski". Em troca, Moscovo subvenciona generosamente a Tchetchénia com 6 mil milhões de euros (90% do orçamento) por ano.


Oficialmente, esse dinheiro destina-se a indemnizar os milhares de pessoas que viram as suas casas destruídas durante as últimas duas guerras. Na realidade, poucos são os que recebem uma pequena parte desse dinheiro, os poucos que têm trabalho são obrigados a pagar 30 a 50% para a fundação Kadyrov, se não querem ter problemas com as milícias.








O dinheiro de Alá.


A capital, Grózni, aparenta um ar faraónico com os seus edifícios novos de trinta andares, as suas sumptuosas mesquitas, avenidas grandiosas e estádios de futebol. Numa república com mais de 75% de desemprego, o dinheiro não vem só das subvenções de Moscovo. Existe uma corrupção institucionalizada e existe um acordo secreto com os russos para o trafico ilegal de petróleo.


Quando questionado sobre a origem do dinheiro, Kadyrov responde: "É Alá que o nos dá. Nós próprios nem sempre sabemos muito bem de onde vem o dinheiro".


Como na Rússia, a vida diária é pautada pela extorsão e corrupção, para ter um emprego tem de se pagar. Mas onde arranjar um trabalho quando não existem fabricas, quando tudo o que existe são campos de futebol, hotéis de luxo vazios, centro comerciais e mesquitas em construção?









O protegido de Putin.


Ramzan Kadyrov é um admirador incondicional de Putin, "Quando o meu pai era vivo, eu comparava-me sempre a ele. Agora, um só líder conta, Vladimir Putin: Ele é o meu modelo e tento seguir a mesma política que ele".


No entanto, pouco a pouco, Kadyrov está a ultrapassar as leis russas,com a islamização progressiva do território. Nos seus discursos televisivos, ordena que as mulheres tenha de cobrir o cabelo e saias abaixo do joelho, estimula a poligamia e apregoa o crime de honra. Nos últimos anos a violência física e psicológica sobre as mulheres aumentou.






A extravagância do poder.


Kadyrov não perde uma oportunidade para mostrar a sua devoção islâmica, participando activamente em todas as festividades religiosas, apesar de se deslocar frequentemente numa Rolls-Royce descapotável, seguida de mais de 60 Mercedes pretos para ir rezar à mesquita.


Além da mesquita Akhmad Kadyrov (pai de Kadyrov) construida à imagem da mesquita azul de Istambul, está prevista a inauguração, para o ano, uma mesquita ainda maior (a maior da Europa) a 30 Km de Grózni, com capacidade para mais de 10 000 fiéis.


Em 2011, o novo estádio de futebol foi palco de um jogo entre a Tchetchénia e uma formação internacional composta por nomes sonantes como Maradona, Barthez, Jean-Pierre Papin ou Baresi. Além de luxuosas prendas cada um desses jogadores terá recebido 100 000 dólares.







Luxo desmedido.


Kadyrov vive um enorme palácio com uma decoração ao estilo do Médio Oriente onde se misturam marbres , ouro, metais preciosos, palmeiras e fontes de água. À entrada aviões telecomandados (uma das suas paixões). No parque automóvel: Lamborghini, Maserati, Hummer e Mercedes.






Fora, um lago artificial, um hipódromo, onze puro-sangues e um jardim zoológico com tigres, leões, linces, panteras, ursos e avestruzes. última prenda: um tubarão. Também possui um número impressionante de cães de combate (outra das paixões do ditador), com os quais organiza combates ilegais, dado estes serem proibidos na Rússia.


Kadyrov sabe mostrar-se generoso com os seus fieis aliados, como quando ofereceu um Ferrari aquando do nascimento de um dos seus amigos ou quando ofereceu um lingote de ouro com o peso do bebé do presidente da câmara de Grózni.

Mas também é implacável com os seus opositores com detenções arbitrárias, tortura e morte.







O exemplo pela força.


Em 2013, acusou o seu ministro dos Desportos de não cuidar do prédio do seu ministério, esse foi convocado por Kadyrov num ringue de boxe. Kadyrov, antigo lutador de boxe inicio o combate com um golpe na cabeça do seu adversário para lhe ensinar que deveria por a sua cabeça a funcionar.

O ministro foi autorizado a colocar um capacete, dado que "deveria voltar ao trabalho no dia seguinte". 


Durante uma viajem de carro, um dos seus altos funcionários teve a infeliz ideia de contar uma piada que desagradou a Kadyrov, este abriu a porta do carro em andamento e empurrou-o para fora da viatura. Ainda com a cara em sangue declarou que fazia parte dos riscos da sua função.


Enormes fotografia de Kadyrov, Akhmad (o seu pai) e Putin decorram numerosos edifícios. Câmaras suspensas nos minaretes das mesquitas vigiam permanentemente ruas e jardins. O "olho" de Kadyrov vigia tudo e todos. Para manter o ambiente de terror, o ditador autoriza a difusão de pequenos filmes onde se podem ver torturas, profanação de cadáveres e outras barbáries.




O reino de Kadyrov poderá não durar para sempre. O Kremlin está atento a que o jovem Kadyrov não tenha uma ambição desmesurada, tal como querer um dia a independência da Tchetchénia. Por enquanto a calma e a ordem reinam na Tchetchénia, e para Moscovo isso é o mais importante, qualquer que seja o custo humano a pagar.







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quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

O silêncio dos culpados

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Na segunda-feira passada, no Porto, uma mulher de 28 anos, quando se preparava para entrar num táxi, despediu-se da amiga com um beijo na boca.

O taxista mandou-a sair da viatura, e quando esta perguntou porquê, foi agredida com um soco na face, atirada ao chão e arrastada para a berma da estrada. Tudo isto à frente de mais dois taxista que nada fizeram para a ajudar.




Não conheço a Sara Vasconcelos, mas saber que ela foi espancada por um taxista no Porto por se ter despedido da namorada com um beijo na boca torna-me a existência insuportável. 


Não me agrada viver num país em que as pessoas são agredidas por amarem. E muito menos num sítio em que a agressão se faz perante o silêncio cúmplice das pessoas que passam sem esboçarem um gesto. 


As causas não são universais por serem pessoalmente nossas e do vizinho do lado, são assim porque revelam uma situação de violência sobre os outros que põe em causa toda a nossa humanidade.


Como dizia Rosa Parks, a mulher negra norte-americana que não aceitou, a 1 de Dezembro de 1955, ser obrigada a dar um lugar no autocarro a um branco porque as leis a obrigavam: "Desejava ser livre, e não estava sozinha. Havia muitas pessoas que desejavam como eu a liberdade." E esse desejo de liberdade, essa intolerância a leis injustas, incendeia almas e muda as coisas. 


Não é por falta de aviso que continuamos nesta situação intolerável: todos os dias temos notícias do número de mulheres assassinadas pelos maridos; há uns anos, também no Porto, uma pessoa foi torturada até à morte por ser transexual; há inúmeros casos de agressões a raparigas quando saem à noite. E nós olhamos para o lado sem fazer nada.


Estas pessoas foram, como a Sara, violentadas pela nossa indiferença e pela nossa passividade. Se os agressores tivessem a nossa condenação física e social, a Sara não teria sido espancada. São igualmente responsáveis a besta que bate e as pessoas que viram a cara. 


Todas essas agressões são semeadas quando não reagimos, lhes tiramos importância, as convertemos em algo pequeno e risível. A defesa da liberdade, mesmo da nossa e dos nossos filhos, começa na defesa da liberdade dos outros. 


Não podemos viajar no tempo, estar numa rua do Porto no tempo e no espaço em que Sara foi esmurrada e pontapeada, mas podemos tornar impossível a vida destes agressores. Basta não transigirmos.





Publicado no jornal i dia 17 dezembro 2014 por Nuno Ramos de Almeida.





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terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Apostas desportivas online: a maneira mais fácil de lavagem de dinheiro

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As apostas desportivas movimentam 500 mil milhões de euros por ano, desses cerca de 100 mil milhões são provenientes de lavagem de dinheiro.





O sucesso das apostas desportivas.

Com a explosão das apostas desportiva via Internet, a lavagem de dinheiro tornou-se mais fácil e quase impossível de detectar e controlar.
Existem actualmente mais de 15 000 sites de apostas desportivas, dos quais 85% são ilegais, isto é não têm qualquer legalidade em nenhum território. A grande maioria desses sites ilegais estão sediados na Ásia: Singapura, Tailândia, Hong Kong e China.


A maioria das apostas provêm do continente asiático (70%), culturalmente os chineses gostam de fazer apostas sobre tudo e mais alguma coisa, gostam de arriscar. Já nos países do sul da Europa as opostas recaem predominantemente sobre o clube favorito, enquanto que no países do norte da Europa, estas realizam-se mais sobre o prévio estudo estatístico dos jogos.


As apostas desportivas são feitas prodominantemente nos jogos de futebol, 40%, sendo que na Ásia podem atingir mais de 80%. 


Quem são os comenditários? Como circula o dinheiro? Como são corrompidos os jogadores? Neste tipo de apostas quais são as relações entre as máfias italianas e as tríades chinesas?



Fácil e lucrativo.

Quando se tem uma grande quantidade de dinheiro "sujo", proveniente do tráfico de droga, prostituição ou armas, o objectivo é introduzi-lo na economia legal para o tornar "limpo", mesmo que para isso se perca um pouco desse dinheiro.

Ora, com as apostas desportivas, não só essa lavagem se efectua facilmente, como também até se pode ganhar muito mais dinheiro do que o investido através da falsificação de resultados. Apostando por exemplo um milhão de euros numa equipa mais fraca, e que por essa razão tem uma cotação de 1 para 5 poderá ganhar com esse milhão investido 5 milhões.


O crime organizado tem assim à sua disposição, através das apostas desportivas na Internet, um meio relativamente fácil, pouco arriscado e com sanções mínimas, à sua disposição. Com a falsificação de resultados o ganho ainda é maior. É muito difícil provar se um jogador fez de propósito para deixar entrar um golo ou outro falhar um golo.



Difícil de controlar.

Para tentar detectar possíveis jogos ou resultados suspeitos, existem equipas especiais ligadas às polícias constituídas de traders e antigo bookmakers, que tentam analisar as cotas dos vários jogos e com a ajuda de programas informáticos detectar evoluções suspeitas. Este detecção é ainda mais difícil quando actualmente se podem fazer aposta em "live betting", isto é no decorrer dos jogos. Durante um jogo de futebol de 90 minutos pode ser transacionado um volume de mais de mil milhões de euros.


Estes fluxos financeiros são extremamente voláteis e evoluem a cada minuto. Mesmo que existisse uma tentativa de uniformização europeia legal das apostas desportivas online, o fluxo de dinheiro nos sites legais é ínfimo comparado com os dos sites ilegais.


Meios financeiros colossais, legislação inadaptada, facilidade de utilização, dificuldade em localizar a proveniência do dinheiro apostado, são algumas das razões do sucesso das apostas desportivas que ameaçam o espírito e a verdade desportiva.






Ler também sobre o mesmo tema, "Máfias Desportivas": http://octopedia.blogspot.pt/2013/11/mafias-desportivas.html







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segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

O assalto ao poder dos juízes em Portugal

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Pode parecer paradoxal discutir o exagero do poder judiciário, quando o nosso modelo democrático assenta na separação dos poderes que formam o Estado (legislativo, executivo e judiciário). No entanto esse perigo existe, em parte por culpa dos legisladores que têm vindo a criar legislação para tudo e mais alguma coisa.






Um Tribunal Constitucional politizado e partidarizado.


O poder judiciário, através dos seus juízes tem vindo progressivamente a tomar conta do próprio sistema político tomando decisões que deveriam pertencer ao poder executivo. Frequentemente, o Tribunal Constitucional extravasa o exercício da sua função jurisdicional para fazer juízos de ponderação política, o que representa uma violação do princípio da separação de poderes.


Ora sendo o Tribunal Constitucional um órgão de soberania, em que os seus juízes são por definição independentes, não é menos verdade que dos seus 13 juízes, 10 são eleitos pela Assembleia da Republica com maioria qualificada de dois terços. Os 3 restantes são cooptados pelos juízes eleitos.


Os juízes do Tribunal Constitucional são assim influenciados, não só pela filiação ideológica e partidária, como também pela presença do seu partido no governo, tornam-se portanto num "órgão de decisão política". A luta partidária é também travada no Tribunal Constitucional.
 

São os partidos que designam, directa ou indirectamente, os seus juízes, o que faz com que o Tribunal Constitucional tenha muitas vezes actuado com despotismo, isto é o poder detém a razão, como no caso do chumbo dos novos partidos Movimento de Alternativa Socialista e o Partido da Liberdade.





O poder dentro do poder.


Os juízes em Portugal tornaram-se em fonte mediática de poder. Na maioria dos países democráticos quando um cidadão é chamado a depor sobre um determinado processo recebe uma carta a convocá-lo, em Portugal é sistematicamente detido para depor. Para acompanhar essa detenção são previamente chamados os meios de comunicação social, através das famosas "fugas de informação" proveniente de quem detém os processos.


Qualquer cidadão é assim julgado na praça pública antes mesmo de se ter iniciado qualquer processo crime. Os juízes são assim detentores de poderes que fazem questão de reforçar perante os media.


"Todo o sistema de justiça português é constituído por lojas maçónicas, que além de controlar as decisões dos mediáticos processos recentes (Universidade Moderna, Portucale, Casa Pia, Apito Dourado,...) também controla a carreira dos juízes e dos magistrados do Ministério Público e dos altos funcionários do Esatdo" (José da Costa Pimenta, Ex-Juiz).





Um "super juiz".


A actual concentração de processos nas mãos de um "super juiz", Carlos Alexandre, fere o direito ao "juiz natural". Este gigantesco acumular de processos mediáticos é dificilmente compreensivo. Operação Furacão, Caso BPN, Máfia da Noite, Face Oculta, Remédio Santo, CTT, Operação Labirinto, são estas as pasta que estão na secretária de Carlos Alexandre. Em 2013 foi considerado o 48º homem com mais poder em Portugal.


Em Portugal, os juízes estão pouco a pouca a tomar de assalto o poder, desde o Tribunal Constitucional até aos juízes de 1ª instância, o que constitui, a médio prazo, ter-mos um governo de juízes.


Perante a erosão dos outros poderes estatais, o poder judiciário está cada vez mais a ser chamado para resolver conflitos políticos. Contudo, este sistema judiciário não é internamente democrático estando sujeito a interesses corporativos, muitas vezes impeditivo de fazer justiça em nome do povo.








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