segunda-feira, 14 de março de 2011

Geração à rasca e sem ideologia

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Por muito legítimos e bem-vindos que sejam os movimentos civis, estes devem conter na sua essência as propostas e soluções aos seus protestos. Deste ponto de vista, os objectivos da manifestação da "geração à rasca" é de uma pobreza confrangedora.


Basta ler o seu manifesto para constatarmos que é composto por uma amálgama de constatações que todos conhecemos, vinda de uma geração que diz querer uma solução para os seus problemas e fazer parte dessa solução, mas que nada propõe.


Sempre desconfiei de movimentos sem conteúdo ideológico, que constatam que as coisas não estão bem, o que é verdade, mas que não incluem uma orientação social e política para os problemas.


Temos assistido nos últimos anos a uma perde de valores e interesses colectivos, que se tem traduzido por um vazio das perspectivas de vida, sobretudo na gerações mais jovens. Para isso tem contribuído a crise em que o país está mergulhado, mas também a perda progressiva dos ideais políticos e sociais.


Não podemos, comparar este tipo de movimentos, como alguns o querem comparar, aos de Maio 68. Nessa altura o que existia era uma profunda vontade de mudança política, apesar dos ideias de uma certa esquerda se terem desmoronado com a queda do muro de Berlim, mas sobretudo uma vontade de mudança dos paradigmas sociais.


Este movimento, não prefigura nada disso. Esta geração que responsabiliza os políticos pela actual incerteza, também têm a sua quota-parte de responsabilidade consumado no seu imobilismo, consumismo, facilitismo e individualismo. Também ela contribui para alimentar uma casta de políticos parasitas. 


A falta de consciência e de reivindicação política e social conduziu-nos progressivamente à perda da soberania nacional, através de órgãos supranacionais como a União Europeia, e ao domínio tentacular das multinacionais sobre todos os nossos sectores económicos. A resolução dos problemas passa assim por propostas de medidas concretas.





Manifesto da "geração à rasca":


Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.
Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.
Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.
Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.

2 comentários:

  1. Da geração mais envelhecida da Europa que vive miseravelmente no centro das grandes cidades à geração "à rasca", dos 500 euros, que vive em casa dos pais; da geração da 4ª classe à geração das múltiplas licenciaturas; da geração da verdadeira música de intervenção de personagens como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira à "geração parva", dos Deolinda, que nunca se mobilizou para nada a não ser para o comodismo cívico e político. Pela primeira vez nas vossas vidas, berrem, revoltem-se, exerçam o direito de cidadania, mas façam-no por todas as gerações, pelos excluídos, por aqueles que não têm um canudo, pelos desempregados, pelos trabalhadores precários e os explorados pelo patronato.

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  2. Porque não criam o vosso próprio emprego?

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