terça-feira, 29 de março de 2011

Após as intervenções da NATO, essas populações árabes vivem pior

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Com esta nova guerra da NATO na Líbia, voltamos a ouvir os mesmos eufemismos: "guerra cirúrgica", "efeitos colaterais", "coligação internacional" ou "intervenção humanitária". Na realidade não vão existir alvos cirúrgicos, uma guerra nunca é asséptica, o que vai existir é a mesma carnificina de sempre e esta coligação não é internacional, os intervenientes são os belicistas do costume.



Eufemismo e propaganda

A linguagem e a propaganda são as primeiras armas dos agressores, depois vêm as bombas e os mísseis. Por muito "humanitária" que seja uma guerra, ela vai trazer sofrimento, fome ou deslocação de populações. O que espera a Líbia é o que aconteceu com outras intervenções "humanitária", como no Afeganistão ou no Iraque: as condições de vida das suas populações pioraram.




A desculpa é sempre a mesma: libertar as populações de um "simpático" tirano amigo do ocidente que se tornou subitamente num monstro, proteger as crianças, libertar as mulheres, ou acabar com integristas que de aliados do ocidente se tornaram indesejáveis.


Já passaram 10 anos sobre a intervenção da NATO no Afeganistão e 8 anos sobre a intervenção no Iraque, e como é que estão as suas populações? Será que os direitos das mulheres melhoraram? Será que condições de vida das suas populações melhoraram?



Populações pior do que antes.

Joe Stork, director adjunto da divisão do Médio-Oriente e de África da Human Rights Watch (HRW) constata: "Oito anos após a invasão americana, as condições de vida no Iraque pioraram para as mulheres e as minorias, e os jornalistas e presos continuam a sofrer graves violações dos seus direitos".


"A deterioração das condições de segurança encorajou o regresso a certas práticas de justiça tradicional e ao extremismo religioso que atingiu principalmente as mulheres".


"As mulheres no Iraque beneficiavam antes de 1991 de um dos mais elevados grau, da região, na protecção dos seus direitos e na sua participação social, o que não acontece agora".


O URW refere ainda que "Milhares de pessoas foram deslocadas internamente e vivem actualmente em bairros da lata sem acesso a bens essenciais como água potável, electricidade ou instalações sanitárias".


Nas prisões, os presos estão sujeitos a todo o tipo de tortura que não são muito diferentes das praticadas durante o regime de Saddam Hussein.


"Os bombardeamentos "cirúrgicos" foram um falhanço total. A maior parte das vezes, as bombas eram largadas às cegas baseadas em provas da sugestão de um possível alvo a abater em determinada casa. Não admira que este comportamento tenha causado inúmeras baixas civis".



Para um ocidental sentado no quentinho do seu sofá a ver o espectáculo do fogo de artifício "cirúrgico", pode parecer não poder ser muito pior do que viver debaixo da tirania de Saddam Hussein, mas a realidade é bem diferente. Durante uma entrevista em 2010, Sabah Al Mukhtar dizia: "Aparentemente está tudo bem: temos 350 partidos políticos, 26 canais de televisão por satélite, 60 jornais. Mas na realidade, o país está de rasto, não temos qualquer  infraestrutura, nem educação, nem saúde, nem segurança. Temos sim, 4 milhões de refugiados, 2 milhões de mortos, milhares de violações,..."


"Na capital, só temos uma hora de electricidade por dia, antes da invasão tínhamos 16 a 24 horas de electricidade, isto apesar do embargo, e sem electricidade não conseguimos bombear a água para as habitações". "A malnutrição infantil passou de 19% antes de 2003 para 28%".


O balanço no Afeganistão não é muito melhor. O Alto-Comissário das Nações Unidas para os direitos do Homem, Navi Pillay, constata: "Os talibãs já não estão no poder, mas a situação dos direitos do Homem pioraram, em particular o das mulheres. Estas estão sujeitas a uma lei que as proíbe de trabalhar ou estudar. Os chefes de guerra substituíram os talibãs, mas adoptaram as mesmas políticas em relação às mulheres".






Iraque: um país desenvolvido.


Sem desculpar a ditadura de Saddam Hussein, convém não esquecer que antes da invasão americana, sobretudo nos anos 70, o Iraque era um país desenvolvido, sem equivalência no mundo árabe. Tinha uma indústria desenvolvida, boas infraestruturas e uma classe média com um nível de vida elevado. A educação era gratuita e o analfabetismo tinha sido praticamente erradicado.


O estatuto da mulher era próximo da dos homens e 95% das raparigas estavam escolarizadas. 70% dos farmacêuticos e 46% dos dentistas eram do sexo feminino. Os transportes escolares eram gratuitos. O sistema de saúde era dos mais desenvolvidos a nível mundial e existia um sistema de segurança social muito semelhante ao nosso. O recrutamento na função pública era feito por mérito. A electrificação dos lares estendia-se a praticamente todo o país e até chegaram a ser distribuídos gratuitamente televisores e frigoríficos.


Em 1980 o Iraque era o único país árabe auto-suficiente do ponto de vista alimentar. Nessa altura chegou mesmo a ser criado um fundo nacional para o desenvolvimento exterior, através de um aumento do preço do petróleo para ajudar ao desenvolvimento dos países árabes mais pobres. Essa iniciativa foi rejeitada pelos Emires dos países do Golfo.


Entre 1991 e 2003 um embargo internacional é imposto por decisão da ONU. Resultado: em 12 anos, 500 000 a 1 milhão de crianças mortas, números referidos pela própria ONU. A Unicef anunciava 200 000 mortos por ano. 



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