O "Avandia" (da GlaxoSmithKline), medicamento frequentemente receitado a doentes com diabetes, pode ter causado milhões de ataques cardíacos em todo o mundo. É a conclusão de um relatório de 334 páginas apresentado pelo Senado norte-americano no sábado.
Segundo as autoridades americanas, a GlaxoSmith-Kline (GSK), farmacêutica que produz o medicamento, conhecia os riscos a que os doentes estavam expostos, mas sempre os manteve escondidos do público.
Estas conclusões também são válidas para o "Avandamet", do mesmo laboratório. Não é só a rosiglitazona, o principio activo do Avandia e Avandamet, que deveria ter sido retirada do mercado, a pioglitazona, subtancia activa do "Actos" (da Lilly) também o deveria ter sido há muito tempo.
As autoridades americanas garantem que a GlaxoSmithKline sabia que o Avandia podia provocar ataques cardíacos. Só nos EUA, o medicamento para diabetes poderá ter sido responsável por mais de 83 mil mortes.
"Os executivos da GSK tentaram intimidar investigadores independentes, através de estratégias para minimizar ou esconder as descobertas de que o Avandia podia aumentar os riscos cardiovasculares e ocultaram estudos que desenvolviam medicamentos concorrentes com riscos reduzidos", revela o relatório.
Há muito que o Avandia suscita preocupação: em 2007, o "The New England Journal of Medicine" e o "Journal of the American Medical Association" já questionavam a segurança do medicamento. Estimativas de cientistas da FDA de Julho do mesmo ano indicam que o medicamento para a diabetes esteve relacionado com 83 mil ataques cardíacos. Pelo que o Senado vai mais longe nas acusações: "A FDA tem estado muito confortável ao lado das farmacêuticas e tem sido regularmente manipulada por empresas com interesses económicos em subvalorizar ou não investigar os potenciais riscos para a segurança."
40% de infartos do miocárdio e 29% de mortalidade a mais!
Uma das últimas edições da revista Lancet (2008;372:9649,1520) informa que a American Diabets Association (ADA) e a European Association for the Study of Diabetes (EASD) desaconselham o uso de "Avandia" no tratamento da diabetes do tipo 2.
Muitos eram os estudos que revelavam os riscos cardiacos potênciais da rosiglitazona (Avandia e Avandamet) e da pioglitazona (Actos). No dia 24 de novembro de 2008 os Archives of Internal Medicine publicou um artigo com o titulo "Comparison of cardiovascular outcomes in elderly patients with diabetes who initiated rosiglitazone vs pioglitazone therapy". O estudo foi feito em 28 361 diabeticos a tomar Avandia ou Actos, de 2000 a 2005.
Os autores concluiram que os doentes tratados com Avandia tinham um risco de mortalidade geral 15% mais elevado do que os medicados com Actos, sendo o risco de insuficiencia cardiaca de 13%. De assinalar que o Actos não é melhor do que Avandia, como iremos ver a seguir.
No dia 12 de dezembro de 2008, o "Journal de l’Association Américaine de Médecine" (JAMA, 298(22), 12 December 2007, p 2634–2643), publicava um artigo que confirmava os efeitos secundários cardiacos graves do Avandia e do Actos. Investigadores do Institut de Sciences Cliniques Evaluatives de Toronto, no Canadá, estudaram 159 026 diabéticos com mais de 66 anos durante um periodo de 3,8 anos.
Os resultados não deixam dúvidas, os doentes tratados com esses medicamentos apresentaram aumentos de 60% de insuficiencia cardiaca congestiva, de 40% de infartos do miocárdio e de 29% de mortalidade, em comparação com os diabéticos tratados com outros antidiabéticos.
Um estudo publicado na revista "Nature" revela que o Avandia e o Actos induzem alterações osseas que podem conduzir à osteoporose e fracturas. Estes medicamentos inibem os osteoblastos (células que regenéram os ossos) e activam os osteoclastos (células que reabsorvem e destroem os ossos).
O lucro acima de tudo...
Actualmente, só três medicamentos mostraram a longo prazo melhorar os efeitos da hiperglicémia. Não basta baixar os níveis de glicose no sangue para melhorar a morbilidade da diabetes com as suas consequências oculares, neuropáticas,... ou a sua mortalidade. Esses três medicamentos são a metformina (Glucophage, Risidon, Stagid), a glibenclamida (Daonil, Euglucon) e a insulina.
Há muitos anos que revista médicas independentes ("Arznei-Telegramm" da Alemanha e "Prescrire" da França), vinham a alertar para a urgente retirada do mercado do Avandia, do Avandamet e do Actos.
Um dos grandes problema com a indústria farmacêutica, é a avaliação dos medicamentos ser feita com estudos que ela própria patrocina, é obvio que não irão dizer mal dos seus próprios produtos. Além disso, os laboratórios escondem os resultados negativos desses estudos e ensaios clínicos, não sendo obrigados a publicar os que se revelaram desfavoráveis.
Dê uma olhada.
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