quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

O ateísmo no mundo árabe (1ª parte)




Se a definição de ateísmo é mais ou menos consensual, já o conceito de “mundo árabe” engloba vários pontos de vista, entre ou quais o geográfico, o linguístico ou o islâmico.


O conceito geográfico deveu-se à expansão do Islão a partir da Arábia no século VII e inclui 22 países divididos em Mashreq a l’Est. e Maghreb a oeste. Estes partilham a língua árabe, sendo este o secundo conceito. Finalmente, têm como religião dominante o islamismo. Estes conceitos não são absolutamente exactos, dado que alguns desses países têm minorias populacionais que não praticam a religião islâmica e alguns povos não têm o árabe como língua dominante, como em certos países africanos.





Seja como for, uma coisa é certa, dificilmente podemos dissociar o mundo árabe do islamismo, sendo que historicamente, temos dois períodos distintos, um pré-islâmico e outro pós-islâmico.
Pensa-se que a palavra “árabe” tenha origem nos habitantes da Arábia. Terá sido uma transformação do termo “arâbâh” derivada da raiz semítica “abhar”, que significa “deslocar-se”. Estes homens que se deslocavam no deserto, eram os povos nómadas de origem beduína.


Qual terá sido, e qual é actualmente, o lugar do ateísmo neste mundo arabe? Para um ocidental, esta perspectiva será sempre inexacta devido ao peso cultural que carregamos.
Apesar de tudo, a visão deste problema por um ateísta ocidental, talvez seja uma das menos preconceituosas, dado que para eles, o islamismo baseia-se numa lenda semelhante a qualquer mito pré-monoteísta.


O Corão, livro de base dos muçulmanos, pode, e deve ser analisado e interpretado como qualquer outro texto, sendo sagrado, apenas para quem nele acredita. A proibição de o criticar baseia-se no dogma da sua intocabilidade, por acreditar que este representa uma verdade absoluta e incontestável. Esta postura não beneficia a sua compreensão e, até certo ponto, é contrária às condutas nele escritas.


A questão fundamental e desapaixonada é a seguinte: poderá um arabe ser ateu num mundo islâmico? Será que um ateu, que aceita as convicções filosófica e religiosas de qualquer indivíduo, tem por parte do mundo islâmico em que vive a mesma tolerância?





Ateísmo versus religião.



A história da humanidade está intimamente ligada à tentativa de explicar o desconhecido. A interpretação dos fenómenos naturais, conduziu o Homem a criar deuses e criaturas sobrenaturais que explicariam a origem da sua criação, o a mecânica celeste e as relações dos seres vivos.


O medo da morte inelutável, levou o Homem a procurar teorias metafísicas que lhes propusesse uma vida para além da morte. Os que agora esboçam um sorriso perante o que classificam de lendas dos povos da antiguidade, são os mesmos que necessitam das novas religiões que as vieram substituir.


Antes de continuar, temos de definir o que é um ateu. Esta palavra é relativamente recente, datará de 1611, a data pode não ser exacta, mas é posterior e muitas vezes utilizada como sinónimo de herege, que no século XIII referia-se às pessoas que não aceitavam a doutrina estabelecida pela fé católica.


Essa doutrina era apresentada como um dogma, isto é como certo e indiscutível, cuja verdade as pessoas têm de aceitar sem questionar. Este conceito é comum a todas as religiões.
Mas, aqui está um primeiro ponto importante. A verdade em termos religioso não é única, dada a multiplicidade religiosa. Se aceitamos como sendo a verdade algo que se encontra conforme aos factos e à realidade, então, existirão várias realidades e portanto várias verdades. As religiões poderão então ser pontes entre os factos e a subjectividade cognitiva do intelecto humano.


Ao aceitar que existe um Deus como sendo um ente infinito, eterno, sobrenatural e existente por si, que define o que é bem e o que é mal, estamos implicitamente a aceitar que nos seres humanos estão ausentes estas noções como o Bem e o Mal, atributo exclusivo dessa divindade. Ora, os conceitos do Bem e do Mal, não são privilégio de um Deus transcendente, são sim juízos e entendimentos filosóficos anteriores às religiões. Por isso é que um ateu não necessita de uma religião que lhe dite essas normas, sob pena de estar sujeito a castigos e recompensas futuras.


O conceito de um Deus todo-poderoso, dono de um universo que ele próprio criou, tem dificuldade, do ponto de vista teológico, em explicar a origem do Mal. Ao refugiarem-se por trás do “mistério de Deus” inacessível, as religiões abdicam da sua capacidade em fornecer uma visão coerente do mundo.


O ateísmo não deve, nem pode ser fundamentalista, caso contrário corre o risco de se tornar numa “religião”, e acabaria por se tornar igual, do ponto de vista dogmático, aos que critica.
Um ateu simplesmente não necessita de uma explicação divina para justificar o seu comportamento moral e encontrar uma resposta para o seu destino. Isto faz com que os ateus, de um modo geral, sejam bastante tolerantes com os que professam uma qualquer crença. O mesmo já não se pode dizer em relação às religiões monoteístas, que não entendem como é que é possível alguém por em questão um conceito que para eles, não só é necessário, como sobretudo inquestionável.


...


2 comentários:

  1. Al-Razi ou Abu Bakr Ibn Mohammad Zakariya al-Razi ((887-955 d.C.), Filósofo, físico, músico, médico e alquimista iraniano e muçulmano nascido em Rayy, no Irã, um dos maiores nomes da história científica árabe, acreditava que as pessoas comuns tinham inicialmente sido levado a crença por figuras de autoridade religiosa e pelo status quo .
    Ele acreditava que estas figuras de autoridade foi capaz de continuamente enganar o povo ", como resultado de [os religiosos] sendo muito acostumado a sua denominação religiosa, como os dias passaram e ela se tornou um hábito. Porque eles foram iludidos pelas barbas das cabras , que se sentam nas fileiras em seus concílios, esticando suas gargantas em contar mentiras, mitos e sem sentido "fulano disse-nos o nome de fulano ..."
    Ele acreditava que a existência de uma grande variedade de religiões é, em si, a prova de que foram feitos todos pelos homens, dizendo: "Jesus afirmou que Ele é o Filho de Deus, enquanto Moisés alegou que não tinha filho, e Muhammad alegou que Ele [Jesus] foi criado como o resto da humanidade. " e " Mani e Zoroastro contradisse a Moisés, Jesus e Maomé sobre o Eterno, o vir a ser do mundo, e as razões para [a existência] do bem e do mal. " . Em relação ao Deus hebraico pede sacrifícios, ele disse que "Isso soa como as palavras dos necessitados ao invés da auto-suficientes meritório."
    Sobre o Alcorão , Razi disse:
    Desde o início da história humana, todos aqueles que se diziam profetas eram, em sua pior hipótese, tortuosos e com a sua melhor hipótese tinha problemas psicológicos.
    Al-Razi dirigiu seu ataque mais veemente contra os livros sagrados em geral, incluindo o Alcorão, porque ele viu como ilógico e contraditório. Ele também acreditava que todos os seres humanos eram iguais em suas capacidades intelectuais como eles estavam em todas as outras coisas. Não faz sentido, portanto, que Deus deve destacar uma pessoa, dentre eles, a fim de revelar-lhe sua sabedoria divina e atribuir-lhe a tarefa de guiar os outros seres humanos. Além disso, ele descobriu que os pronunciamentos dos profetas e histórias, muitas vezes contraditórias com as de outros profetas. Se sua origem foi uma revelação divina, como se afirma, as suas opiniões teria sido idêntico. A idéia de um mediador divinamente nomeados, portanto, um mito.

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  2. continuação...

    Al-Razi entendia que no porão da crença religiosa na sociedade, que ele atribuiu a vários fatores. Em primeiro lugar, os sistemas de crenças espalhado principalmente por meio da propensão humana para imitar e copiar outros.

    Em segundo lugar, a religião é a popularidade "repousava sobre a aliança estreita entre clérigos e líderes políticos. Os clérigos, muitas vezes utilizado esta aliança de impor suas próprias crenças pessoais sobre as pessoas pela força sempre que o poder de persuasão falhou.

    Em terceiro lugar, o caráter luxuoso e imponente do vestuário dos homens religiosos contribuíram para a alta conta em que foram realizadas por pessoas comuns. Finalmente, com o passar do tempo, as idéias religiosas tornaram-se tão familiar que quase virou em instintos profundos que já não eram questionados.

    Ao examinar esse capítulo da história islâmica, independentemente da validade ou não das opiniões expressas, não podemos deixar de se sentir surpreso com o fato de que os pensadores islâmicos do século 10 tinham a liberdade de discutir e publicar seus "heterodoxas" idéias, enquanto o mundo islâmico, agora não pode, ou não, lidar com qualquer forma de dissidência intelectual. Pode ser razoável sugerir, então, que o problema do Islã não se encontra nos textos e tradições herdadas, mas na interpretação. A herança islâmica, como os cristãos, é composto de um corpo enorme de comentários e interpretações que foram produzidos em vários períodos da história a resolver problemas específicos à sua idade. É preciso lembrar que as escrituras cristãs não mudaram desde a Idade Média. Foi em nome desses textos muito que inúmeros chamados hereges eram queimados na fogueira.

    Há pouca dúvida de que os estudiosos islâmicos têm a tarefa ea responsabilidade de rever a tradição e a re-enfatizar os valores humanos da tolerância e da liberdade de pensamento. Eles não têm que olhar distante para esses valores. Todos eles são obrigados a fazer é chegar a fundo em seus próprios cofres culturais para recuperar as pérolas e descartar os resíduos.

    Oiced Mocam

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