terça-feira, 20 de abril de 2010

Fecho do espaço aéreo europeu: uma decisão nebulosa.

O espaço aéreo europeu esteve fechado durante cinco dias por questões de segurança. Claro que devemos minimizar os riscos; mas cada vez mais são tomadas decisões securitárias aceites pelo cidadão comum sem que este se interrogue sobre a sua inevitabilidade.


Existem cada vez mais ameaças globais que nos conduzem a aceitar as nossas interdependências sem por em questão as razões das decisões tomadas por grupos restritos supranacionais.


Tivemos a ameaça questionável do terrorismo após o 11 de Setembro, o aquecimento global baseado em bases científicas duvidosas, a gripe das aves seguida da gripe A ditadas pela OMS sob manipulação do lobby farmacêutico, a crise financeira mundial encenada pelos que dela vieram a beneficiar,...


A recente erupção de um vulcão na Islândia paralisou grande parte do espaço aéreo europeu. Quem decide de tais medidas? Quem controla estes organismos? Quais são as bases científicas destas medidas?







O que está em causa:



A passagem de um avião comercial por uma nuvem vulcânica desliga os motores do aparelho e transforma-o num planador, o que faz com que estas poeiras sejam um «perigo para a aviação». A explicação foi dada à Lusa por um piloto português, José Cruz dos Santos, comandante e responsável pela área de segurança da Associação dos Pilotos Portugueses de Linha Aérea (APPLA).


O radar meteorológico dos aviões «detecta a humidade que existe dentro das nuvens, mas estas são secas, por isso não têm grande reflexão em termos de radar», explicou o piloto.


«Ao entrar nos motores, a cinza entra nas câmaras de combustão e, devido à temperatura muito elevada, volta a derreter, e agrega-se às câmaras de combustão, impedindo a passagem de ar» e, consequentemente, para o motor.


«Cria-se uma nuvem densa dentro do avião devido à contaminação dos ares condicionados, porque o ar condicionado vai retirar ar aos motores»


«Os tanques de combustível também ficam contaminados porque estão constantemente a ser pressurizados com ar que vem dos motores», o que «dificulta a sua utilização», acrescentou.





Quem toma as decisões:



No coração da crise, o VAAC (Volcanic Ash Advisory, Centro de Estudos de cinzas vulcânicas) está debaixo de fogo. A organização, sediada em Londres, que depende da Meteorologia britânica, é responsável pelo caos que tomou conta do ar, obrigando milhares de passageiros a ficarem retidos nos aeroportos de todo o mundo.

O VAAC o um órgão de referência a nível europeu para acompanhar, calcular e prever o movimento de cinzas vulcânicas na atmosfera. Ele trabalha principalmente com imagens de satélite e emprega dezenas de analistas e pesquisadores.


Existem oito outros institutos deste tipo no mundo, incluindo um em Toulouse, na França, cada um vigia uma parte do céu. O da capital britânica está a cargo de tudo o que acontece ao longo do Reino Unido, Islândia e todo o nordeste do Oceano Atlântico.





A erupção do vulcão Eyjafjöll ocorreu em solo islandês, por isso compete ao VAAC de Londres, ocupar-se deste caso. Ele é quem tem o poder de fechar o espaço aéreo britânico e, potencialmente, a Europa durante o tempo que julgar necessário. Nos estatutos da União Europeia, Bruxelas deve fazer cumprir rigorosamente as recomendações da VAAC e respeitar a sua decisão para garantir a segurança da aviação.



As críticas:



Mas o instituto de Inglês é acusado de excesso de zelo e ter sido demasiado cauteloso. Ontem, as companhias aéreas, a British Airways à cabeça, criticaram duramente as decisões do VAAC, que no entanto mantêm que as decisões tomadas foram as mais adequadas.




Emmanuel Bozra, engenheiro meteorologista de Meteo France, diz que trabalharam recentemente nas erupções do Etna Stromboli. O primeiro produziu uma grande quantidade de poeira em Novembro de 2009 e o mesmo se passou em Março de 2004 com Stromboli.


O VAAC, com quem estamos em contacto constante, trabalham com modelos matemáticos que definem o comprimento e a altura da cinza e a quantidade de poeira vulcânica emitida, com base nas informações colectadas por islandeses. Usamos essa informação nos nossos próprios modelos matemáticos, que também são alimentados por medições feitas por satélites meteorológicos. Em seguida, distribui-mos essa informação às autoridades da aviação civil.


Só agora vamos começar os testes nas nuvens. A missão da aeronave vai ser de entrar na nuvem de cinza vulcânica para medir o tamanho e a concentração de partículas.




A KLM anunciou ontem, ter realizado com segurança voos sem passageiros para levar nove aviões da Alemanha para os Países Baixos. A aeronave, que tinha voado mais de 3.000 m, parecia não ter sofrido nenhum dano e não mostrou qualquer anormalidade. O mesmo se passou com o teste de voo realizado com um Airbus da Air France entre Paris e Toulouse. Mas já no sábado, a Lufthansa tinha feito o voo de volta de dez aviões em Frankfurt e Munique, voando uma distância entre 3000 e 8000 metros, resultado: nem um arranhão.


Gerard Feldzer, director do Museu do Ar e do Espaço no Bourget, em França, dizia: "Eu não entendo porque não fizemos voos de teste antes de ontem à noite ou enviado balões ... Nós simplesmente confiamos nas simulações de computador realizadas pelo Vulcanic Ash Advisory Center ( VAAC) de Londres! "




Os cientistas do VAAC nunca esconderam que é actualmente impossível medir as concentrações de partículas numa nuvem de natureza volátil e com uma extensão de milhares de km². Só a evolução e a dispersão da nuvem na atmosfera são medidas.

Os construtores de reactores não são capazes de dizer qual é a quantidade de cinza necessária para se tornar perigosa para os aviões.


Ninguém tem qualquer interesse em assumir riscos quando vidas estão em jogo, mas a decisão de fechar quase todo o espaço aéreo europeu foi tomada sem qualquer cálculo sobre a concentração de partículas no ar. Os países europeus têm seguido as recomendações inglesas sem terem lançado nenhum balão meteorológico. O impacto económico e humano é enorme.


O princípio da precaução perante o risco é preocupante, porque, apesar de ninguém ser contra esse princípio, este é muitas vezes aplicado de uma forma maximalista e até ideológica.


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