quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Sangue no seu telemóvel !


É este o título de uma reportagem do jornalista Patrick Forestier realizada na República Democrática do Congo, principal fornecedor de um minério raro indispensável na produção dos circuitos electrónicos dos telemóveis que usamos diariamente. Esse minério de que pouca gente ouviu falar, chama-se coltan.



São as crianças, muitas vezes ameaçadas e sequestradas, as principais vítimas no duro trabalho da extracção deste minério. Muitas mortes desconhecidas no ocidente numa guerra que coloca em cena milícias rebeldes, antigos soldados do Ruanda, multinacionais e antigos colonizadores.



O que é o coltan?



Trata-se de um minério composto por uma mistura de dois minerais: columbita e tantalita. Em português essa mistura recebe o nome columbita-tantalita. Da columbita se extrai o nióbio e da tantalita, o tântalo. Este último é um metal de alta resistência térmica, electromagnética e corrosiva e por tais capacidades seu uso é muito difundido na composição dos elementos electrónicos, em particular nos telemóveis.


A quase totalidade do coltan (cerca de 70%) situa-se na República Democrática do Congo, na região do Kivu, o restante é extraído na Austrália, Brasil, Canada e China. Dada a elevada procura, o preço do coltan aumentou 2000% em 50 anos.


A principal causa da guerra civil que existe na região congolesa tem por causa o controlo das minas de coltan. Esta já terá provocado mais de 4 milhões de mortes.

As guerras pelos minérios.



Desde há 20 anos (desde dos massacres do Ruanda) que a região do Congo está a ferro e fogo. Este país é dos mais ricos do mundo em minérios preciosos como: ouro, diamantes e agora o coltan.


Na indiferença geral, esta região continua a ser palco da cobiça das grandes potências e das suas multinacionais à medida que a zona mergulha na miséria.


A extracção a céu aberto nas minas de coltan representa um perigo permanente para quem nela lá trabalha, com deslizamentos de terrenos frequentes. Sendo este um metal radioactivo, contem pequenas doses de urânio 238 e tório 232, os efeitos cancerígenos a longo prazo são uma ameaça real e mal avaliada. Esta radioactividade também contamina as águas da região.
Esta região está controlada por bandos armados vindos dos países circundantes.


As crianças frequentemente sob ameaça são muitas vezes utilizadas na extracção de coltan. Esta situação foi denunciada pela ONU e Organizações Não Governamentais pelo que muitas empresas que utilizam o coltan fizeram um pacto para não utilizarem o coltan do Congo. Mas dada a procura ser muito superior à oferta, existem verdadeiras máfias para alimentar o mercado europeu e americano.


O percurso do coltan:



Os maiores refinadores do mundo de coltran são Cabot (americano) e Starck (alemão, uma filial da Bayer), juntos fazem a refinação de 85% do tântalo (extraído do coltan), a terceira é Ningxia (chinesa). São estas empresas que fixam o preço mundial do coltran, elas ganham 500% em relação ao custo do produto antes da sua transformação.


70% deste minério é utilizado para fabricar condensadores electrónicos (sobretudo para os telemóveis), os três principais fabricantes são Kemet Corp., AVX Corp. e Vishay Intertchnology (todos americanas) e representam 90% dos condensadores produzidos no mercado mundial. Cada uma destas empresas tem lucros anuais de mil milhões de dólares. Dos restantes 10% de fabricantes de condensadores, a EPCOS tem uma fábrica em Portugal, em Évora.



Os consumidores finais desses condensadores são sobretudo os fabricantes de telemóveis e computadores. Por ano são vendidos, no mundo, mais de 500 milhões de telefones portáteis, cada um com uma média de 12 condensadores. De um valor inicial de 120 dólares por quilo, o coltan atinge um valor real final de 2000 dólares por quilo.



Apesar de numerosas empresas negarem importar este minério do Congo, o coltan transita pelo Ruanda e a Tanzânia, pelo Cazaquistão ou a Ásia, onde depois é enviado para os refinadores ocidentais.


No ocidente, os média apresentam os conflitos desta região africana como sendo provocados por diferenças étnicas, calando a realidade da origem destes conflitos: o controlo das riquezas mineiras do Congo.


O coltan é hoje em dia um minério fundamental na tecnologia dos países ocidentais, desde os telemóveis aos computadores passando pelas forças armadas altamente informatizadas.



Uma pequena curiosidade: no natal do ano 2000, a Sony não conseguiu produzir a sua Play Station 2 em quantidade suficiente por falta de componentes necessários à sua fabricação por penúria de coltan no mercado mundial.


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