terça-feira, 24 de abril de 2012

A classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise!

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A actual classe dominante nunca será capaz de resolver a crise, porque ela é a crise! E não falo apenas da classe política, mas da educacional, da que controla os media, da financeira, etc. Não vão resolver a crise porque a sua mentalidade é extremamente limitada e controlada por uma única coisa: os seus interesses. Os políticos existem para servir os seus interesses, não o país. Na educação, a mesma coisa: quem controla as universidades está ali para favorecer empresas e o Estado. Se algo não é bom para a economia, porquê investir dinheiro?


No geral, os media já não são o espelho da sociedade nem informam de facto as pessoas do que se está a passar, existem sim para vender e vender e vender.


A identidade das pessoas não depende do que elas são, mas do que têm. Quando se torna tão importante ter coisas, serves um mundo comercial, porque pensas que a tua identidade está relacionada com isso. Estamos a criar seres humanos vazios que querem consumir e ter coisas e que acabam por se vestir e falar todos da mesma forma e pensar as mesmas coisas. E a classe dominante está muito mais interessada em que as pessoas liguem a isso do que ao que importa.


Se as pessoas fossem um bocadinho mais espertas, não iriam para universidades estúpidas, nem veriam programas estúpidos na TV. Existe uma elite comercial e política interessada em manter as pessoas estúpidas. E isso é vendido como democracia, porque as pessoas são livres de escolher e blá blá.


Se não fores crítico perante a sociedade mas também perante ti próprio, nunca serás livre, serás sempre escravo. Daí que o que estamos a viver não tenha nada a ver com democracia.


Percebemos que há coisas erradas no sistema de educação.
Porque não está interessado na pessoa que tu és, mas no tipo de profissões de que a economia precisa. Se o preço é falta de qualidade, se o preço é falta de dignidade humana, é haver tanta gente jovem sem instrumentos para lidar com a vida e para descobrir por si própria o sentido da vida ou que significado pode dar à sua vida, então criamos o “Admirável Mundo Novo” de Aldous Huxley.


O que temos de enfrentar é: se toda a gente vai à escola, se toda a gente sabe ler, se tanta gente tem educação superior, como é que continuam a acreditar nestas porcarias sem as questionar? E porque é que tanta gente continua a achar que quando X ou Y está na televisão é importante, ou quando X ou Y é uma estrela de cinema é importante, ou quando X ou Y é banqueiro e tem dinheiro é importante?


Se tirarmos as posições e o dinheiro a estas pessoas, o que resta? Pessoas tacanhas e mesquinhas, totalmente desinteressantes. Mas mesmo assim vivemos encantados com a ideia de que X ou Y é importante porque tem poder. É a mesma lengalenga de sempre: é pelo que têm e não pelo que são, porque eles são nada. E a educação também é sobre o que podes vir a ter e não sobre quem podes vir a ser.


O medo da elite comercial é que as pessoas comecem a pensar. Porque é que os regimes fascistas querem controlar o mundo da cultura ou livrar-se dele por completo? Porque o poeta é a pessoa mais perigosa que existe para eles. Provavelmente mais perigoso que o filósofo. Quando usam o argumento de que a cultura não é importante e de que a economia não precisa da cultura, é mentira! Isso são as tais políticas de ressentimento, um grande instrumento precisamente porque eles nos querem estúpidos.





Excertos de uma entrevista de Rob Riemen, filósofo holandês, ao jornal "i".

http://www.ionline.pt/mundo/rob-riemen-classe-dominante-nunca-sera-capaz-resolver-crise-ela-crise-1

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

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"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do
grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."
Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta
semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos
supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.


Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do
Haiti... Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado
que nós. 


Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um
berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de
2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar
com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a
água é quente, se tem irmãs, etc.


Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de
pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter
inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar
junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel
em Havana e agora já nem a Badajoz vai. 


Não se faz. E é desagradável
constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar
que os que vamos fazer durante todo o ano.
Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. 


Eu vi perca egípcia em Telheiras...
fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha
mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e
imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras.
Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.


Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino,
assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem
olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo
marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar
por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de
robalo de Chernobyl.


Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.




(Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line)

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quarta-feira, 11 de abril de 2012

Revolta tuaregue com cheiro a petróleo

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Situado na região do Sahel, o parte norte do Mali mais parece uma zona de "no man'a land" onde circulam traficantes de todo o tipo. Fortemente armado, o chamado Movimento Nacional de Libertação do Azawad (MNLA) à muito tempo que obrigou as populações locais a abandonar essa região.


A visão romântica, de um povo tuaregue com legítimo direito à autodeterminação, cai por terra quando verificamos que são manipulados e armados pelas potências ocidentais. Esta quantidade impressionante de armas provem em grande parte da guerra da Líbia e estão a ser utilizadas contra os militares malianos.




Um golpe de estado desnecessário.


Curioso país este, onde um golpe de estado surge a poucas semanas de eleições presidenciais, marcadas para os finais do mês de abril deste ano. O actual presidente, Amadou Toumani Touré , iria reformar-se da política e substituído, razão pela qual este golpe de estado não convence quem não o apoia. Poucos dias depois dos militares revoltosos anunciaram a entrega do poder novamente aos civis.


Amadou Touré era acusado de moleza perante os ataques do MNLA, mas por ironia, o capitão Amadou Sanogo que o destituiu, no dia em que proclamava a restituição do poder às instituições civis, dia 1 de abril, era também o dia em que os rebeldes tuaregues ocupavam Tombouctou e proclamavam a independência da metade norte do Mali.


As forças em presença são: os oficiais putschistas que destituíram o presidente, os rebeldes tuaregues organizados em volta do Movimento Nacional de Libertação do Azawad e um grupo de combatentes islâmicos denominado AQMI (Al-Qaeda do Magrebe Islâmico). Este ultimo é um movimento oportunista que provavelmente ira diluir-se e desaparecer.







A maior bacia petrolífera de África.


Na base da desestabilização do Mali estão os enormes recursos naturais ainda por explorar. Estes encontram-se em quatro grandes zonas, todas no norte: Gao, Nara, Tamesna, e sobretudo Taoudenni.


A bacia petrolífera de Taoudenni é actualmente a maior reserva de petróleo de toda a África, ocupa uma grande parte do norte do Mali e uma pequena parte da Mauritânia e do sul da Argélia. Tem uma superfície de 1 500 000 km2 e ainda esta por explorar.


O norte do Mali também possui enormes quantidades de ouro, actualmente sete minas estão a ser exploradas, sendo o terceiro maior produtor africano, logo atrás da África do Sul e do Gana.
Tem enormes reservas de urânio, ferro (reservas de 2 milhões de toneladas), bauxite (1,2 milhões de toneladas), diamantes, manganésio, ...


Todo o sector mineiro está por explorar e representa um fruto apetecível para as grandes multinacionais havidas de lucro.


Num futuro muito próximo, as potências estrangeiras vão-se "obrigadas" a intervir para garantir a paz. A França (antigo colonizador) ou a ONU irão criar uma zona de interposição com o objectivo de tentar a reunificação. 


A realidade é bem diferente, ninguém está interessado na reunificação, o método e sempre o mesmo: dividir para reinar. O resultado será semelhante ao da Líbia, dividida em duas zonas: uma com escassos recursos e outra rica em petróleo, a Cirinaica, sede dos revoltosos e actualmente nas mãos das multinacionais. O mesmo se passou com o Sudão do Sul, rico em petróleo, tornado independente, depois de vários conflitos, actualmente nas mãos das grandes empresas petrolíferas. Assim, o Mali  terá o mesmo destino: o norte, rico em petróleo, cairá sob domínio das multinacionais petrolíferas, e o sul será abandonado a sua sorte.


O próximo país da lista será a Argélia, pelas suas dimensões o maior país africano, onde a repartição dos recursos naturais é bastante dispara, e onde o petróleo se encontra no sul, por enquanto nas mãos da empresa estatal argelina Sonatrach, do qual só dele tira proveito uma elite da população.












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quinta-feira, 5 de abril de 2012

A revolução sexual feminina silenciada

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Os anos de 1960 viram surgir vários movimentos que viriam a quebra os paradigmas sociais estabelecidos até então: independência e autodeterminação das antigas colónias europeias, direitos iguais independentemente das raças, mas sobretudo a igualdade de géneros.

As mulheres ganharam o direito legítimo à igualdade. A liberdade sexual que parecia ter surgido foi rapidamente absorvida pelo sistema capitalista e transformou a mulher num simples objecto mercantil de prazer.





O eterno atraso português.

 
No início do século passado, Portugal estava ainda mais atrasado do que a maioria das democracias ocidentais. 
No Estado Novo, as mulheres eram completamente dependentes e subjugadas aos maridos. Uma mulher casada não podia viajar para o estrangeiro sem o consentimento do marido. O casamento de uma professora tinha de ser autorizado pelo Governo. Estavam impedidas de ter acesso a profissões como as de carreiras diplomáticas e de magistratura. As enfermeiras e hospedeiras do ar, não podiam casar.


O divorcio era proibido quando os casados o tinham feito pela igreja. Uma mulher casada ou solteira não podiam andar sozinhas nas ruas à noite, e quando o faziam podiam ser levadas para a esquadra, tinham que ter uma companhia masculina. O marido podia abrir e ler as cartas endereçadas à sua mulher. Tudo isto pode parecer impossível e até cómico, mas a vida da mulher portuguesa era assim. 

A revolução feminina em curso só teve algum alcance com a revolução do 25 de abril.





A mercatilização do corpo.


Os anos de 1970, as sociedades ocidentais, vieram por em causa o papel das mulheres na sociedade, libertando-as do controlo das suas vidas imposto pela sociedade masculina vigente. O marido, como chefe de família, detinha até então todos os poderes, até sobre os  corpos das mulheres, basta lembrar que a violação quando perpetrada pelo marido era considera perfeitamente legal. 
O aparecimento da pílula contraceptiva veio permitir a dissociação entre a sexualidade e a reprodução.


A mulher tinha finalmente conquistado o direito a igualdade. Mas a euforia da liberdade sexual, e uma certa moda unisexo, depressa foi substituída pela imposição comercial de uma certa visão da mulher. O neoliberalismo dos anos de 1980, tornaram a mulher num objecto comerciável. Para isso, a mulher tinha de ser eternamente jovem, magra e com uma feminidade transformada, limitada unicamente a um corpo comerciável.


A liberalização sexual também trouxe consigo a mercantilização do sexo, a mulher tinha-se tornado num objecto, mas sobretudo num rico e inesperado suporte comercial para a publicidade. Para vender, a mulher tem que se despir e esse corpo faz parte de uma grande quantidade de publicidades. Para existir a mulher tem de se expor.





A pornografia como submissão da  mulher.


Estes anos também marcam o momento da explosão da pornografia em que, mais uma vez, a mulher volta a ficar submetida aos prazer e fantasmas masculinos. Grande parte das relações sexuais são assim transformadas por mimetismo em desempenhos sexuais. Quando as mulheres não têm prazer, são culpabilzadas. Os homens sentem também uma enorme pressão social com a necessidade de ter de estar à altura desse desempenho sexual.


Esta transformação capitalista da mulher faz com que ela tenha de ser atraente, comercialmente atraente para poder ser vendida, esse objectivo torna-se  uma condição do seu sucesso social. A aparência torna-se assim um factor imprescendível. Para ser bela, tem de ser jovem  e parece-lo o mais tempo possível. Ser jovem já não e sinonimo de revolta, de ideais capaz de quebra as regras paralisadas no tempo; ser jovem limita-se agora a ter um corpo uniformemente moldado e comerciável.


Ser jovem "para sempre" afigura-se como um objectivo único na nossa sociedade, dai a degradação progressiva das nossas relações com os mais velhos e o desprezo pelos idosos relegados para as casa de repouso para serem esquecido e escondidos. 





A normalização da mulher.

A normalização da aparncia corporal vinculada pela pornografia, a publicidade e a moda, conduzem a uma sexualizaçao precoce das raparigas impregnadas destas referencia de terem de se comportar como mulheres adultas, da parte dos rapazes esses esperaram encontrar nas raparigas atitudes corporais que visualizaram  através desses meios.


O discurso permissivo da nossa sociedade esconde uma nova moral sexual tão normativa como a antiga, focalizada no corpo e no prazer masculino. Muitos dos homens que pensam de uma maneira diferente são triturados por esta ideia imposta da mulher ideal e tudo fazem para se mostraram a altura do desempenho esperado deles. As mulheres que não seguem esses padrões são ostracizadas pela sociedade e tendem, conscientemente ou não, a reproduzir os mesmos parâmetros.


Os imperativos normativos deste conceito de beleza levam as mulheres à exibição exagerada e os homens a um erotismo fetichista em que uma relação estável entre parceiros será forçosamente decepcionante porque longe dos fantasmas expostos pela publicidade e a moda.


As formas mais exacerbadas do culto da aparencia tornam as mulheres menos reivindicativas e doceis, objectivo da estrutura social preconisada pelo capitalismo, a sua mercantilizaçao e opressao sao garantes de uma certa ordem social.


Esta transformação de toda e qualquer actividade humana em mercadoria, permitindo obter dinheiro, tem por única finalidade o próprio aumento dessa actividade. Neste contexto, a imagem da mulher não é só vendida como um produto, mas torna-se também num modo de vida e num imaginário colectivo. A satisfação fornecida é temporária e criadora de insatisfacção permanente, e este é um típico factor de crescimento da sociedade capitalista.




"Chegou finalmente um tempo, em que tudo o que os homens consideravam inalienável se tornou objecto de troca, de trafico e podendo ser alienável. Tempo em que as coisas que até então eram comunicadas nunca trocadas, oferecidas mas nunca vendidas, adquiridas nunca compradas - virtude, opinião, ciência, consciência, etc - tudo passou finalmente para comerciável. É o tempo da corrupção generalizada, da venalidade universal, ou, para falar em termos de economia politica, o tempo em que qualquer coisa, moral ou física, se tornou num valor venal, levada ao mercado para ser apreciado ao seu justo valor". (Karl Marx)



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