sexta-feira, 13 de abril de 2012

O que não poupávamos se Portugal tivesse mar.

.








"Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE)
demonstram que o Pingo Doce (da Jerónimo Martins) e o Modelo Continente (do
grupo Sonae) estão entre os maiores importadores portugueses."
Porque é que estes dados não me causam admiração? Talvez porque, esta
semana, tive a oportunidade de verificar que a zona de frescos dos
supermercados parece uns jogos sem fronteiras de pescado e marisco.
Uma ONU do ultra-congelado. Eu explico.


Por alto, vi: camarão do Equador, burrié da Irlanda, perca egípcia,
sapateira de Madagáscar, polvo marroquino, berbigão das Fidji, abrótea do
Haiti... Uma pessoa chega a sentir vergonha por haver marisco mais viajado
que nós. 


Eu não tenho vontade de comer uma abrótea que veio do Haiti ou um
berbigão que veio das exóticas Fidji. Para mim, tudo o que fica a mais de
2.000 quilómetros de casa é exótico. Eu sou curioso, tenho vontade de falar
com o berbigão, tenho curiosidade de saber como é que é o país dele, se a
água é quente, se tem irmãs, etc.


Vamos lá ver. Uma pessoa vai ao supermercado comprar duas cabeças de
pescada, não tem de sentir que não conhece o mundo. Não é saudável ter
inveja de uma gamba. Uma dona de casa vai fazer compras e fica a chorar
junto do linguado de Cuba, porque se lembra que foi tão feliz na lua-de-mel
em Havana e agora já nem a Badajoz vai. 


Não se faz. E é desagradável
constatar que o tamboril (da Escócia) fez mais quilómetros para ali chegar
que os que vamos fazer durante todo o ano.
Há quem acabe por levar peixe-espada do Quénia só para ter alguém
interessante e viajado lá em casa. 


Eu vi perca egípcia em Telheiras...
fica estranho. Perca egípcia soa a Hercule Poirot e Morte no Nilo. A minha
mãe olha para uma perca egípcia e esquece que está num supermercado e
imagina-se no Museu do Cairo e esquece-se das compras.
Fica ali a sonhar, no gelo, capaz de se constipar.


Deixei para o fim o polvo marroquino. É complicado pedir polvo marroquino,
assim às claras. Eu não consigo perguntar: "tem polvo marroquino?", sem
olhar à volta a ver se vem lá polícia. "Queria quinhentos de polvo
marroquino" - tem de ser dito em voz mais baixa e rouca. Acabei por optar
por robalo de Chernobyl para o almoço. Não há nada como umas coxinhas de
robalo de Chernobyl.


Eu, às vezes penso: o que não poupávamos se Portugal tivesse mar.




(Da crónica de João Quadros no Negócio On-Line)

.

4 comentários:

  1. É... é pena não termos mar... Mas temos um barraco a arder com um submarino à porta!... Pois... afinal para submarinos já há mar!

    ResponderEliminar
  2. É bem verdade que fomos néscios e gananciosos quando aceitamos os subsídios Comunitários para não produzir e ficar nesta posição quase humilhante de dependência alimentar face ao exterior. Parecemos os meninos da fábula do Pinoquio que trocando a escola pela ilha da diversão, se transformam em burros primeiro e escravos depois. Era urgente fazer um acto de contrição e numa atitude de humildade e verdadeira sabedoria, revitalizar a nossa produção interna, porque se nos cortam o crédito, vamos ter de reeditar a velhinha receita da sopa da pedra, onde apenas constará agua, pedra e muita fome. Subscrevo-me como anónimo, mas o meu nome é António M.Pires Silva, quase tão anónimo uma coisa quanto a outra. Sou apenas um pai de família como muitos outros que amando os seus filhos lhes deseja um futuro risonho, e suplica aos responsáveis deste pais que tomem esta situação como fundamental, porque um dia destes alguém vai gritar o "Rei vai nú" e vamos deixar de nos preocupar com os cortes e os impostos para inventar alguma coisa para comer, e já não será do Haiti, Fiji ou la donde isso fica.

    ResponderEliminar
  3. É mera honestidade intelectual reconhecer que o PCP, por exemplo, há muito tempo se vem batendo por isso!

    ResponderEliminar
  4. Olá dr. Octopus, :)

    Não temos mar... não temos terra, não temos instituições, País, não temos coragem, não temos nada! Nem o governo é nosso, pertence ao império dos EUA, esses cretinos que se venderam logo a seguir ao 25 de Abril! Revolução tramada pela CIA por causa do petróleo de Angola e Cabinda, que os yanques cobiçavam.. Claro que se o "nosso" mar tem petróleo, ninguém lhe toca... apenas eles. O povo que morra à fome ou compre os seus "frutos" de águas exóticas ou então, de aquacultura... o que já não é mau, porque a fominha generalizada não há-de tardar em chegar.

    Quanto aos submarinos do Voz, esta notícia diz tudo:

    Na Grécia: O ex-ministro grego da Defesa, Akis Tsochatzpoulos, não resistiu às acusações de corrupção das autoridades alemãs e gregas na compra de submarinos e foi detido na passada quarta-feira.

    Em Portugal:
    O processo dos submarinos nasceu a partir de duas escutas a conversas de Abel Pinheiro e Paulo Portas no âmbito do caso Portucale, cujo acordão foi conhecido nesta quinta-feira e em que todos os arguidos foram absolvidos.

    http://economia.publico.pt/Noticia/exministro-da-defesa-da-grecia-detido-por-corrupcao-nos-submarinos-1541884

    Off topic:

    Veja este filme, da GlobalResearch:

    Meet Nicolas Sarkozy: The American Candidate

    http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Qz3hp8bKePI

    Não está legendado, mas penso que se percebe muito bem.

    Um beijo. :)

    ResponderEliminar