terça-feira, 27 de março de 2012

Não à indiferença

.









Uma homenagem a António Gramsci, mas sobretudo a uma grande amiga que me enviou o texto e que considero das pessoa mais esclarecidas do panorama dos blogues em língua portuguesa dos que eu conheço: a Fada do Bosque. Para ler e meditar.




Odeio os indiferentes

A indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida. Por isso detesto os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história. É a bala de chumbo para o inovador, é a matéria inerte em que se afogam frequentemente os entusiasmos mais esplendorosos, é o fosso que circunda a velha cidade e a defende melhor do que as mais sólidas muralhas, melhor do que o peito dos seus guerreiros, porque engole nos seus sorvedouros de lama os assaltantes, os dizima e desencoraja e às vezes, os leva a desistir de gesta heróica.


Indiferença actua poderosamente na história. Actua passivamente, mas actua. É a fatalidade; e aquilo com que não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, que destrói os planos mesmo os mais bem construídos; é a matéria bruta que se revolta contra a inteligência e a sufoca.


 O que acontece, o mal que se abate sobre todos, o possível bem que um acto heróico (de valor universal) pode gerar, não se fica a dever tanto à iniciativa dos poucos que actuam quanto à indiferença, ao absentismo dos outros que são muitos.


O que acontece, não acontece tanto porque alguns querem que aconteça quanto porque a massa dos homens abdica da sua vontade, deixa fazer, deixa enrolar os nós que, depois, só a espada pode desfazer, deixa promulgar leis que depois só a revolta fará anular, deixa subir ao poder homens que, depois, só uma sublevação poderá derrubar.


 A fatalidade, que parece dominar a história, não é mais do que a aparência ilusória desta indiferença, deste absentismo. Há factos que amadurecem na sombra, porque poucas mãos, sem qualquer controle a vigiá-las, tecem a teia da vida colectiva, e a massa não sabe, porque não se preocupa com isso.


Os destinos de uma época são manipulados de acordo com visões limitadas e com fins imediatos, de acordo com ambições e paixões pessoais de pequenos grupos activos, e a massa dos homens não se preocupa com isso.

Mas os factos que amadureceram vêm à superfície; o tecido feito na sombra chega ao seu fim, e então parece ser a fatalidade a arrastar tudo e todos, parece que a história não é mais do que um gigantesco fenómeno natural, uma erupção, um terremoto, de que são todos vítimas, o que quis e o que não quis, quem sabia e quem não sabia, quem se mostrou activo e quem foi indiferente.


Por isso odeio os indiferentes.


Antonio Gramsci


.

Um bode expiatório transformado num radical islâmico

.







O presumível assassino de Toulouse foi descrito por várias testemunhas como sendo corpulento e com uma tatuagem ou um cicatriz na cara. O que temos é um jovem franzino que gostava de se divertir com os amigos, apresentado como um perigoso radical islâmico. Eliminado, muitas dúvidas subsistem.




A polícia do Afeganistão confirma que Mohamed Merah esteve nesse país no dia 22 de novembro de 2010 que o terá sido interpelado e entregue às forças da NATO. Um oficial americano no Afeganistão, em Kandahar, revela que no seu passaporte constavam recentes deslocações: a Israel, depois à Síria, ao Iraque e à Jordânia.
Uma questão que se coloca: como é que obteve um visto turístico para visitar Israel, sendo muçulmano, sem ser incomodado pelos agentes da Mossad ?
Muitos países árabes recusam a entrada a pessoas que tenham estado em Israel, é o caso da Síria. Como é que entrou na Síria com um visto de Israel, onde tinha estado antes, no seu passaporte?




Fontes oficiais da segurança israelita confirmam que Mohamed Merah passou três dias no país em 2010. O que terá ido fazer a Israel?




Era descrito pelos seus amigos com "calmo, simpático e respeitador", tinham estado com ele na semana anterior numa discoteca onde beberam como habitualmente uns copos. Se é verdade que os filhos da segunda e terceira geração de origem árabe já se afastaram da prática muçulmana, um radical islâmico, como ele é descrito, não pratica tais actos proibidos pelo Corão.




Mohamed Merah refugio-se na sua casa, um pequeno apartamento com 48 m2, mais exactamente na casa de banho. As forças especiais francesas (RAID) já tinham conseguido retirar as janelas e porta. Porquê é que forças treinada, sabendo que ele estava sozinho no apartamento, um rés de chão, não intervieram mais promptamente?




Mohamed Merah terá saído da casa de banho até à varanda para fugir, disparando contra o RAID. Esse trajecto não terá demorado mais do que 5 a 10 segundos, mas mesmo assim os 15 atiradores do RAID dentro do apartamento terão conseguido dispara cerca de 300 vezes. No entanto nenhuma dessas balas terá atingido Merah., terão sido duas balas, uma na cabeça e outra no estômago, atiradas por um sniper no exterior a atingi-lo. 




A ordem era de capturar Mohamed Merah vivo. Num rés de chão, sem janelas e sem porta, porquê é que não foram lançadas granadas anestesiantes para capturar Merah vivo?



As vítimas da escola judaica foram rapatriadas para Israel em menos de 36 horas. Apesar do ritual judaico estipular que os mortos devem ser enterrados 48 horas após a morte, a legislação francesa é muito clara, qualquer crime deve ser objecto de uma autópsia. Porquê é que não foram realizadas as autópsias?
Porque é após o ataque, não foram deslocados, à escola, os serviços de emergência médica ou os bombeiros?

Porque é que a escola foi logo de seguida invadida por jornalistas e altos representantes do Estado, alguns dos quais estrangeiros, não era supostamente um local de crime sujeito a restrições de acesso para inquérito policial?

http://www.tribunejuive.info/communaute/lettre-de-pierre-besnainou-president-du-fonds-social-juif-unifie-et-de-lappel-unifie-juif-de-france



.

sexta-feira, 23 de março de 2012

Crianças controladas por um chip

.







Vamos começar por instalar um chip para controlar os nossos filhos, em nome da segurança, mais tarde será a vez de todos nós...




Os alunos da rede municipal de ensino de Vitória da Conquista, região sudoeste da Bahia, serão os primeiros do Brasil a se adaptarem ao fardamento digital, de acordo com a prefeitura da cidade. O projecto funciona em fase experimental desde 2011 e deve ser expandido para 25 das 203 unidades escolares do município na próxima semana.


As camisas carregam um chip que monitoriza a frequência de cada estudante e gera o registo do horário em tempo real aos pais por meio de SMS. Inicialmente, serão cerca de 25 mil crianças e adolescentes, entre 6 e 14 anos, beneficiados pelo projecto. Até 2013, está prevista a inclusão de todos os actuais 42.725 alunos da rede municipal.


Para o controle, foi aplicada a tecnologia de identificação de radiofrequência chamada RFID. "Todos os pais terão os telefones cadastrados e receberão alerta via telemóvel informações sobre a entrada ou saída da escola. O sistema faz a captação através de sensores que estão instalados nas unidades escolares. Eles fazem automaticamente a leitura dos chips e repassam a informação via mensagem de texto aos pais".


A camisa, que pode ser lavada normalmente, tem o chip instalado na parte do escudo e o sistema não pode ser retirado.


O gestor esclarece ainda que o projecto visa garantir prioritariamente a permanência dos alunos nas unidades para evitar possível exposição à violência, drogas ou mesmo ao trabalho infantil.


A médio e longo prazo, a proposta é repassar com mais instantaneidade informações sobre comportamento e notas do aluno aos pais e, internamente, propiciar levantamento mais ágil de merenda escolar, entre outros aspectos.


"No primeiro momento, gera curiosidade e dúvidas, mas a gente vai ter um ganho no índice de aprendizagem e aprovação, porque os alunos têm que estar na sala de aula e traz ainda mais participação da família na escola. A tendência é de melhoria".





(Informação: TV Globo)

quarta-feira, 21 de março de 2012

Quando as vítimas não são todas iguais









O triplo crime de Toulouse apresenta numerosos factos estranhos e difícil de serem explicados. 
A coincidência com actual período eleitoral francês é uma bênção para Sarkozy.
A diferenciação com que são tratadas as vítimas, pela comunicação social, em função da sua origem étnico-religiosa é abjeta.




Uma polícia ineficiente...


O autor dos crimes de Toulouse, em França, será um francês de origem argelina e que estaria a ser vigiado desde há anos pelos serviços secretos franceses, em particular por se ter deslocado várias vezes ao Paquistão e Afeganistão.


No primeiro crime, terá morto um jovem militar de origem marroquina num parque automóvel, com um tiro na cabeça, após este ter colocado à venda a mota num site conhecido. A polícia  dirigiu o seu inquérito para os servidores desse site para identificar o seu endereço IP. Quanto tempo leve um amador a a identificar um endereço IP a partir do ficheiro de um servidor? Talvez duas horas. A policia: menos de vinte minutos.
Então porque é que nada foi feito para prender o suspeito logo no seu primeiro crime?


Os serviços secretos ocidentais são peritos em manipular a opinião pública através de atentados imputados a islamitas. Frequentemente utilizam muçulmanos descontentes e incitam-nos a passar ao acto, quando não são os próprios serviços secretos que os recrutam fazendo-se passar por organizações terroristas.
Será este mais um caso?




A "cor" das vítimas conta...




A morte de três soldados, dois de origem magrebina e um negro, não traumatiza suficientemente a opinião pública, o trauma tem de ser maior. Neste contexto nada melhor do que matar crianças, nesta caso judias. Aqui mais uma coincidência: o estabelecimento de ensino judaico tinha sempre vigilantes armados nos portões de entrada, nesse dia ninguém.


Assassinar magrebinos ou negros não suscitou qualquer emoção mediática, no entanto o assassino de crianças judias teve uma mobilização da parte do Estado sem precedentes e uma difusão mediática com protestos internacionais vigorosos. Porquê esta diferença?


Esta diferenciação mediática demonstra, mais uma vez, o carácter racista dos meios de comunicação social ao serviço de grandes grupos económicos bem definidos e que manipulam os acontecimentos a seu favor e a favor das ideologias que defendem.


A hierarquização das vítimas equivale a dizer que as vítimas não são todas iguais, não valem todas o mesmo, não tê direito à mesma compaixão. 


Em 2005, em Paris, 14 crianças africanas foram vítimas de um incêndio criminal, nenhum político dignou deslocar-se ao local. Em 2009 centenas de crianças foram mortas na Faixa de Gaza pelo exército israelita, os média ficaram silenciosos.


Quando falamos em judeus, volta sempre o facto que por causa da "Shoah" é legítimo dar mais importância às vítimas judaicas. As vitimas da teoria da superioridade das raças não têm legitimidade para hierarquizar as outras vítimas. Esta teoria legitima, em nome da superioridade do sofrimento, que as vítimas antigas se tornam em torturadores futuros, como na Palestina.


A hierarquização das vítimas equivale à hierarquização das raças. Ora, os próprios judeus sempre foram reféns do sionismo que usa o anti-semitismo para recrutar judeus para participarem na sua conquista territorial. Este é mais um caso em que só se ouviu falar em anti-semitismo. Porquê, quando houve vítimas árabes e negras?



Quem beneficia com estes atentados?


Para alem deste aspecto, uma questão permanece: quem beneficia com estes crimes demasiado "perfeitos"? Como já vimos a campanha eleitoral foi suspensa, mas o candidato-presidente Sarkozy aparece várias vezes por dia na televisão a falar do assunto. Neste momento apenas um dos candidatos presidenciais tem voz perante a opinião pública: Sarkozy.


Este caso parece ser mais uma conspiração politico-mediática que acontece (puro acaso, claro) numa fase decisiva da campanha presidencial francesa. A reeleição de Sarkozy era praticamente impossível, "a única chance de Sarkozy ser eleito residia num acontecimento exógeno à campanha, um acontecimento internacional, excepcional ou traumatizante" como disse a semana passada Christophe Barbier, amigo íntimo de Sarkozy.
Coincidência em período eleitoral?


As questões essenciais, as económicas e sociais, desapareceram durante este período, só permanece a questão da insegurança. A insegurança transmitida horas a fio pelos media, através deste crime odioso de criança cometido por um radical muçulmano, cultiva o medo. Uma população com medo é uma população fragilizada. Sarkozy surge assim como um chefe de Estado exemplar, uma espécie de super-homem salvador da França.


Por outro lado, a vitimização dos judeus, com que o povo francês sempre se identificou, ajuda a opinião pública a ficar preparada para um eventual ataque ao Irão, afim de castigar os perigosos muçulmanos. 



.

quinta-feira, 15 de março de 2012

Da Alemanha com amor...

.





A publicação na revista Stern de uma carta aberta de um alemão que se sente ofendido com o "estilo de vida" grego suscitou a devida resposta de um grego, também publicada na Stern. Pelos "equívocos" alemães no que respeita ao tomar o todo (que é o povo grego) pela parte (que são os políticos gregos), tanto quanto as múltiplas culpas que à Alemanha são imputáveis nas condições a que chegou o povo grego, vale a pena a leitura destas duas cartas.








“Carta aberta” de um cidadão alemão, Walter Wuelleenweber, dirigida a “caros gregos”




Caros gregos,

Desde 1981 pertencemos à mesma família. Nós, os alemães, contribuímos como ninguém mais para um Fundo comum, com mais de 200 mil milhões de euros, enquanto a Grécia recebeu cerca de 100 mil milhões dessa verba, ou seja a maior parcela per capita de qualquer outro povo da U.E.

Nunca nenhum povo até agora ajudou tanto outro povo e durante tanto tempo. Vocês são, sinceramente, os amigos mais caros que nós temos. O caso é que não só se enganam a vocês mesmos, como nos enganam a nós.

No essencial, vocês nunca mostraram ser merecedores do nosso Euro. Desde a sua incorporação como moeda da Grécia, nunca conseguiram, até agora, cumprir os critérios de estabilidade. Dentro da U.E., são o povo que mais gasta em bens de consumo.


Vocês descobriram a democracia, por isso devem saber que se governa através da vontade do povo, que é, no fundo, quem tem a responsabilidade. Não digam, por isso, que só os políticos têm a responsabilidade do desastre. Ninguém vos obrigou a durante anos fugir aos impostos, a opor-se a qualquer política coerente para reduzir os gastos públicos e ninguém vos obrigou a eleger os governantes que têm tido e têm. 

Os gregos são quem nos mostrou o caminho da Democracia, da Filosofia e dos primeiros conhecimentos da Economia Nacional. Mas, agora, mostram-nos um caminho errado. E chegaram onde chegaram, não vão mais adiante!





Na semana seguinte a Stern publicou uma carta aberta de um grego, dirigida a Walter Wuelleenweber:



Caro Walter

Chamo-me Georgios Psomás. Sou funcionário público e não “empregado público” como, depreciativamente, como insulto, se referem a nós os meus compatriotas e os teus compatriotas.
O meu salário é de 1.000 euros. Por mês, hem!... não vás pensar que é por dia, como te querem fazer crer no teu País. Repara que ganho um número que nem sequer é inferior em 1.000 euros ao teu, que é de vários milhares. 

Desde 1981, tens razão, estamos na mesma família. Só que nós vos concedemos, em exclusividade, um montão de privilégios, como serem os principais fornecedores do povo grego de tecnologia, armas, infraestruturas (duas autoestradas e dois aeroportos internacionais), telecomunicações, produtos de consumo, automóveis, etc.. Se me esqueço de alguma coisa, desculpa. Chamo-te a atenção para o facto de sermos, dentro da U.E., os maiores importadores de produtos de consumo que são fabricados nas fábricas alemãs.

A verdade é que não responsabilizamos apenas os nossos políticos pelo desastre da Grécia. Para ele contribuíram muito algumas grandes empresas alemãs, as que pagaram enormes “comissões” aos nossos políticos para terem contratos, para nos venderem de tudo, e uns quantos submarinos fora de uso, que postos no mar, continuam tombados de costas para o ar.


Sei que ainda não dás crédito ao que te escrevo. Tem paciência, espera, lê toda a carta, e se não conseguir convencer-te, autorizo-te a que me expulses da Eurozona, esse lugar de VERDADE, de PROSPERIDADE, da JUSTIÇA e do CORRECTO.

Estimado Walter,
Passou mais de meio século desde que a 2ª Guerra Mundial terminou. QUER DIZER MAIS DE 50 ANOS desde a época em que a Alemanha deveria ter saldado as suas obrigações para com a Grécia. Estas dívidas, QUE SÓ A ALEMANHA até agora resiste a saldar com a Grécia (Bulgária e Roménia cumpriram, ao pagar as indemnizações estipuladas), e que consistem em:



1. Uma dívida de 80 milhões de marcos alemães por indemnizações, que ficou por pagar da 1ª Guerra Mundial;
2. Dívidas por diferenças de clearing, no período entre-guerras, que ascendem hoje a 593.873.000 dólares EUA.

3. Os empréstimos em obrigações que contraiu o III Reich em nome da Grécia, na ocupação alemã, que ascendem a 3,5 mil milhões de dólares durante todo o período de ocupação.
4. As reparações que deve a Alemanha à Grécia, pelas confiscações, perseguições, execuções e destruições de povoados inteiros, estradas, pontes, linhas férreas, portos, produto do III Reich, e que, segundo o determinado pelos tribunais aliados, ascende a 7,1 mil milhões de dólares, dos quais a Grécia não viu sequer uma nota.
5. As imensuráveis reparações da Alemanha pela morte de 1.125.960 gregos (38,960 executados, 12 mil mortos como dano colateral, 70 mil mortos em combate, 105 mil mortos em campos de concentração na Alemanha, 600 mil mortos de fome, etc., etc.).
6. A tremenda e imensurável ofensa moral provocada ao povo grego e aos ideais humanísticos da cultura grega. 


Amigo Walter, sei que não te deve agradar nada do que escrevo. Lamento-o. Mas mais me magoa o que a Alemanha quer fazer comigo e com os meus compatriotas. Amigo Walter: na Grécia laboram 130 empresas alemãs, entre as quais se incluem todos os colossos da indústria do teu País, as que têm lucros anuais de 6,5 mil milhões de euros. 

Muito em breve, se as coisas continuarem assim, não poderei comprar mais produtos alemães porque cada vez tenho menos dinheiro. Eu e os meus compatriotas crescemos sempre com privações, vamos aguentar, não tenhas problema. Podemos viver sem BMW, sem Mercedes, sem Opel, sem Skoda. Deixaremos de comprar produtos do Lidl, do Praktiker etc.

Mas vocês, Walter, como se vão arranjar com os desempregados que esta situação criará, que por ai os vai obrigar a baixar o seu nível de vida, perder os seus carros de luxo, as suas férias no estrangeiro, as suas excursões sexuais à Tailândia?

Vocês (alemães, suecos, holandeses, e restantes “compatriotas” da Eurozona) pretendem que saíamos da Europa, da Eurozona e não sei mais de onde. Creio firmemente que devemos fazê-lo, para nos salvarmos de uma União que é um bando de especuladores financeiros, uma equipa em que jogamos se consumirmos os produtos que vocês oferecem: empréstimos, bens industriais, bens de consumo, obras faraónicas, etc.

E, finalmente, Walter, devemos “acertar” um outro ponto importante, já que vocês também disso são devedores da Grécia: EXIGIMOS QUE NOS DEVOLVAM A CIVILIZAÇÃO QUE NOS ROUBARAM! Queremos de volta à Grécia as imortais obras dos nosos antepassados, que estão guardadas nos museus de Berlim, de Munique, de Paris, de Roma e de Londres.
E EXIJO QUE SEJA AGORA! Já que posso morrer de fome, quero morrer ao lado das obras dos meus antepassados.

Cordialmente,
Georgios Psomás


         


terça-feira, 13 de março de 2012

O cerne da questão

.




Vejam como o Euro foi um excelente negócio para a Alemanha e péssimo para os GIPS (Grécia, Itália, Portugal e Espanha). Reparem bem na simetria das curvas:




Um gráfico idêntico aparece num texto  de Paul Krugman que cita Gavyn Davies :*

“É normal debater o problema do endividamento soberano concentrando-se na sustentabilidade da dívida pública nas economias periféricas. Mas pode ser mais informativo enxergá-lo como um problema no balanço de pagamentos. Tomados em conjunto, os quatro países mais problemáticos (Itália, Espanha, Portugal e Grécia) têm um déficit conjunto de US$ 183 bilhões na conta corrente. A maior parte deste déficit corresponde ao déficit no sector público destes países, já que o seu sector privado se encontra actualmente num estado aproximado de equilíbrio financeiro. Compensando estes déficits, a Alemanha tem um superávit de US$ 182 bilhões em conta corrente, o equivalente a cerca de 5% do seu PIB.”



Isto significa que ao contrário do que acontece num estado federal, o estado que produz mais riqueza não a reparte significativamente pelos outros estados (fomentando a sua economia, por exemplo). 


Percebe-se assim a atitude de boicote sistemático da Srª Merkel a qualquer plano que ponha cobro aos ataques especulativos e sequenciais dos mercados financeiros, pois isso exigiria que a Alemanha utilizasse uma parte do seu superavit para realizar empréstimos que apenas renderiam uma taxa de juro modesta.


Pelo contrário, se conseguir fazer aguentar a situação de impasse por mais algum  tempo, o bloqueio do crédito fará com que um grande número de empresas tenham de ser vendidas para não falirem, sendo então compradas pelos alemães.


Temos assim um ataque em tenaz tão ao gosto germânico: mantêm-se os países desprovidos dos normais mecanismos de defesa cambial - resultante da moeda única e  das regras impostas ao Banco Central Europeu - acentuando rapidamente as suas debilidades estruturais, e simultaneamente dificulta-se o acesso ao crédito levando cidadãos  empresas e estados a um beco sem saída. 


Depois de espalhar o medo, substituem-se os governos desses países (Grécia, Portugal, Espanha, Itália), reduzem-se salários e regalias sociais e finalmente compra-se a capacidade produtiva de um país ao preço de saldo.  


Sem disparar um tiro a Alemanha está a conseguir  alimentar os seus desígnios imperiais melhor do que conseguiu na primeira e segunda guerra. Em menos de 100 anos a Europa tem de enfrentar uma calamidade social provocada pela Alemanha.


De facto estamos a enfrentar uma situação de guerra, em que as armas até podem ser corteses e silenciosas, mas não deixam de ser devastadoras.




(Texto reproduzido em vários blogues sendo a origem e o autor desconhecidos)

quarta-feira, 7 de março de 2012

O Uruguai a caminho da democracia popular

.







Governado por partidos de direita, "Partido Colorado" e "Partido Blanco", o Uruguai experimenta desde 2004 uma governação de esquerda chamada de "Frente ampla" constituída por socialistas, comunistas, tupamaros, ex-comunistas e alguns sociais democratas.

A progressão económica e social não têm paralelo na história do Uruguai. Estamos perante uma interessante experiência de um esboço de democracia popular.




Salários e um pouco de memória.


Pelo Prof. Gustavo Guerrero, do Movimento de Participação Popular (MPP) da Frente Ampla (FA) de Tacuarembó.


É bom começar por dizer que não devemos perder de vistas que quando chegamos ao governo o país estava submerso numa das maiores crises da sua história, produto dos governos "Blanco" e "Colorado" que nos antecederam. Nessa altura, 34% da população era pobre (1 100 000 pobres) e 4% sofria de pobreza extrema (120 000).


Em 7 anos de governo progressista, a pobreza foi reduzida para menos de metade (restam 400 000 pobres) e a extrema pobreza de três quartos (restam 30 000).


Em termos gerais, considerando o índice médio de salários, durante o governo "Blanco" o salário real cresceu 3% para depois cair em 20% durante os dois governos "Colorado". Com o governo da "Frente Ampla" o salário real cresceu 36%.


Em 2004 o salário mínimo nacional era de $ 1.31 hoje é de $ 7.200.


Estes são apenas alguns dados com os quais vamos continuar a reafirmar que estamos caminhando firmemente com um rumo bem definido, que é melhorar a qualidade de vida do nosso povo.



Eleições internas da "Frente Ampla": Não só é possível como necessário.


Por Fernando Micheloni, secretário-geral do Partido Comunista do Uruguai (PCU) de Tacuarembó.


Estas eleições representam a construção, fortalecimento e desenvolvimento de esta alternativa ímpar: avançar rumo a um país produtivo, melhorando a justiça social com a participação de todo o quadro social. Estas eleições não significam a eleição de figuras promovidas pelos grandes meios de comunicação social. Destinam-se a promover o cumprimento dos programas elaborados no âmbito da participação directa da sociedade organizada, valorizando os conhecimentos e o mérito, e demonstrando os compromissos realizados com as necessidades das grandes maiorias.


Para a esquerda, a expressão política, de condução e de elaboração, está baseada na participação. É o produto de um quadro amplo de alianças de vários sectores da sociedade, que apesar de pensarem de forma diferente, definem objectivos comuns nessa busca da felicidade.


O êxito está baseado na construção de instrumentos de participação directa, tanto na elaboração como no seu controlo. Está demonstrado que quanto mais participação houver, mais existirá o sentimento de pertença, o que permite que grandes maiorias se apropriem desses programas, os definem, controlem o seu cumprimento e os redireccionem caso seja necessário.


Não existe nenhum governo, de qualquer  partido, que garanta o aprofundar da democracia sem a participação diária do seu povo, não existem iluminados nem poderes que substituam as inumeráveis expressões do povo.



Uma sociedade mais humana.


Por Ricardo Rosano Bevans


No dia 27 de maio de 2012, teremos um fase muito importante para a "Frente Ampla" com as eleições internas, nas quais todos devemos participar para continuar a construir uma sociedade mais justa, mais solidária, mais participativa e mais humana.


A "Frente Ampla" é uma ferramenta política, não é um objectivo em si mesmo, serve para permitir-nos aproximarmo-nos dessa sociedade a que aspiramos, se não servir para isso não serve para nada.


Ouvimos muitas vezes falar mal da política, tentaram convencer os mais jovens que não deviam participar porque não valia a pena e que deveriam deixar as "tarefas" políticas para os "políticos". Mas a política serve para decidir, a partir do governo, a questões que determinam as condições em que vivemos todos nós, nossas famílias, nossos amigos, a população no seu todo, ninguém deveria ignora-lo e manter-se alheio a ela.


Não desconhecemos que foram cometidos muitos erros, e que as políticas sociais podem ser melhoradas e estão sendo melhoradas. Mas o que ninguém pode duvidar é que o rumo político actual é totalmente diferente do que era seguido antigamente, aquele que dava ás leis do mercado o papel supremo de determinar as relações da sociedade, que previligiava o capital financeiro internacional, que excluia muitos milhares de uruguaios condenando-os ao exílio económico e outros milhares a uma vida de miséria de marginalização.


Não temos dúvidas de que a "Frente Ampla" não é perfeita, que durante o seu governo foram cometidos muitos erros, mas tem uma virtude: dar a cada compatriota um lugar nas suas fileiras para enriquecer o seu programa, para controlar os seus dirigentes e para ser parte determinante da maior força política do país.






Preso durante 12 anos durante a ditadura, o presidente do Uruguai, Pepe Mujica, faz doação de 87% do seu ordenado mensal (250 000 pesos ou seja 9400 euros) a organismos de ajuda à habitação. Já em 1999, quando foi eleito para o Senado, tinha convencido os membros do seu partido, o Movimento de Participação Popular (MPP) a seguir o seu exemplo, doando a quase totalidade dos seus ordenados a um fundo de micro-crédito destinado aos pobres.




Tradução de três excertos de textos publicados no semanário do Uruguai "Acción Informativa" nº 344, de 2 a 8 de março 2012, com o qual este blogue colabora.



.

sexta-feira, 2 de março de 2012

Hugo Chavez: quando a utopia roça a realidade

.

 

 

No ocidente, a Venezuela pode parecer um país folklórico com as suas crises e o seu presidente carismático que desafia os Estados Unidos à custa do seu petróleo. Mas para além das imagens fáceis, não devemos ignorar que este país está a viver um profundo processo de transformação social e os resultados positivos estão à vista.


Para além da propaganda ocidental que ridiculariza e estigmatiza Hugo Chavez, ao olhos dos mais mal informados, a realidade dos números é elocuente, a Venezuela progrediu muito nestes 14 anos de governação.



Desde a sua eleição em 1998, Hugo Chavez levou a cabo uma transformação económica e social que melhorou em muito o nível de vida de uma população que cultivava o paradoxo de ser um dos países mais ricos do continente americano e de viver na pobreza.

 
Digam o que disserem,  o presidente é apreciado pelo seu povo. Três eleições presidenciais, em 1998, 2000 e 2006 com 60% de votação.
Esta popularidade explica-se em parte pelas reformas económicas e sociais que permitiram melhorar o nível de vida da população. No entanto, nem tudo foi fácil. Foi vítima de um golpe de estado planeado pelos Estados Unidos em abril de 2002. tendo sido "salvo" pela extraordinária mobilização popular.



Nacionalizações.


Em 2003, o governo toma o controlo da empresa de Estado de Petróleos da Venezuela (PDVSA) nacionalizando este sector. Actualmente detém 60% de participações no petróleo venezuelano. Em maio de 2007, nacionaliza a Orenoque, que possui as maiores reservas mundiais de petróleo.


Antes, a multinacionais extraíam o barril de petróleo com um custo de produção de 4 dólares e vendiam-no ao estado da Venezuela ao preço de 25 dólares. Com este novo sistema, o estado poupo 3 mil milhares de dólares. O governo também decidiu aumentar o imposto sobre os lucros de 34% para 50%, após ter constatado que várias empresas fugiam ao fisco. 


O governo nacionalizou várias empresas de electricidade e de telecomunicações que detinham um verdadeiro monopólio. Assim, as empresas Compañia Anónima Nacional Teléfonos de Venezuela S. A. (CANTV) e Electicidad de Caracas, detidas por capitais americanos passaram para controlo do estado venezuelanos. 



Agricultura.


O governo de Hugo Chavez recuperou cerca de 3 milhões de hectares, ou seja 28,74% de terras produtivas aos latifundiários. No total, cerca de 6.5 milhões deverão ser nacionalizados. O objectivo é obter a independência agrícola. 49% das terras recuperadas foram redistribuídas aos camponeses com apoio de meios técnicos e financeiros, até então esses camponeses eram escravos dos grandes proprietários. Estas reformas permitiram à Venezuela um crescimento nos últimos dois anos de 11,2%, neste sector.



Uma revolução social.


As nacionalizações de vários sectores da economia trouxeram uma mais-valia que permitiu uma verdadeira revolução social. Senão vejamos: o programa Fonden, criado para financiar os mais necessitados.


O nível de pobreza passou de 20%, em 1998, para 9,5%. O desemprego passou, nesse mesmo período de 16% para 7%. O nível de desigualdade regrediu em 13%. Os beneficiários de pensão de reforma aumentaram em 218%.


O PIB da Venezuela passou de 88 mil milhões de dólares, em 1998, para 257 mil milhões em 2008. 98% da população tem agora água potável.


O salário mínimo mensal passou de 118 dólares em 1998 para 286 dólares em 2008, o mais elevado do continente. Em 1996 era de 36 dólares. As mulheres solteiras e os deficientes recebem o equivalente a 80% do salário mínimo. O horário de trabalho é de 6 horas, 36 horas semanais. 



Educação.


O novo acesso à educação permitiu que 1,5 milhões de venezuelanos aprendessem a ler, isto à custa de uma grande campanha de alfabetização. A própria UNESCO declarou que o iletrismo estava erradicado na Venezuela. Essa organização declarou também, que a Venezuela era o quinto país do mundo com mais universitários.


Todo o ensino é gratuito, incluindo o acesso ao ensino superior. Praticamente 100% das crianças estão escolarizadas, sendo que na primária os alunos beneficiam de três refeições por dia.



Os Media.


Para quem acusa o governo da Venezuela de controlar os meios de informação, aqui ficam alguns números: em 1998 havia 291 rádios FM privadas, 9 públicas e nenhuma comunitária, em 2008 eram 472 rádios Fm privadas, 79 públicas e 243 comunitárias.


Na televisão mesma coisa, em 1998, haviam 26 televisões privadas e 2 públicas, em 2008 eram 65 televisões privadas e 6 estatais (VTV, Telesur, Vit Tv, Tves, Avila TV, ANTV) e 35 comunitárias.



 Luta contra a droga.


Apesar da Venezuela ser palco de um grande tráfico de droga, em 2010 foram apanhados 64 000 kg de droga, 17 chefes de organizações criminosas presos e 18 laboratórios de droga desmantelados, sendo que a Venezuela foi um dos países do mundo que mais lutou contra a droga.



Saúde.


O sistema nacional de saúde foi criado para permitir o acesso ao cuidados de saúde a todos os venezuelanos de uma forma totalmente gratuita. Este permitiu que a taxa de mortalidade infantil descesse para números inferiores a 10 por mil.
 

Para eliminar os problemas de mal-nutrição, o governo criou a chamada "Missão Alimentar". São lojas estatais, as "Mercal" cujos artigos são subvencionados pelo estado em 30%. 14 000 pontos de venda e metade da população faz aqui as suas compras. 4 milhões de crianças recebem alimentação gratuita através do programa de alimentação escolar, eram 250 000 em 1998.



Solidariedade internacional.


A Venezuela antecipou e reembolsou ao FMI e ao Banco Mundial. Criou o "Banco do Sul" destinado a promover a integração económica regional, que permitiu doar em 2007 8,8 mil milhões de dólares aos países da América do Sul.




Democracia participativa.


A democracia participativa foi reforçada com novas leis que aumentam o poder dos chamados "Conselhos Municipais" que permitam uma certa autogestão e organização do poder territorial.


Desde 2006, foram criados pequenos grupos de 200 a 400 famílias que decidem em assembleia quais são as necessidades municipais, como por exemplo, a construção de esgotos ou o fornecimento hospitalar. O governo fornece então a esses municípios o dinheiro necessário, através de uma "Banca Municipal", sem passar pelos presidentes das juntas.


A ideia é que pouco a pouco esses Conselhos Municipais tenham cada vez mais poder e consigam uma autogestão popular directa. Mais tarde, eles serão agrupados em associações e depois federações. A médio prazo, os presidentes de junta e governadores irão desaparecer.


Os Conselhos Municipais são benéficos, porque permitem a discussão dos problemas reais da comunidade e um empenho das populações na resolução dos seus problemas, apesar de limitados por dependerem do fornecimento estatal, havendo o risco de poder instalar-e uma relação vertical de clientelismo.


O objectivo de uma reorganização do poder territorial constitui uma verdadeira revolução. A concepção clássica de uma república dividida em províncias será substituída por cidades comunitárias com poderes de auto-administração e auto-governação. O Ministério da Economia Popular transfere o dinheiro aos Bancos Municipais organizados em cooperativas que utilizarão esse dinheiro de acordo com o que foi decidido nas assembleias de cidadãos.



Muito ainda está por fazer: descentralização do poder executivo, actualmente nas mãos de um só homem, Hugo Chavez; reforma do sistema do sistema judiciários; luta contra a corrupção; luta contra criminalidade, sobretudo nas grandes cidades; diversificação dos meios produtivos para não fazer depender a economia unicamente dos rendimentos petrolíferos. Mas muito foi feito, ao longo destes 14 anos de chavismo, numa altura em que a economia mundial atravessa uma crise financeira sem precedentes, a Venezuela representa uma alternativa credível ao neoliberalismo selvagem.




Textos consultados: