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Pela oportunidade, e porque continuam a fazer-nos crer na inevitabilidade dos incêndios acontecerem todos os anos devido unicamente às condições meteorológicas, volto a publicar um texto de José Gomes Ferreira, escrito em 2010.
Oficialmente, continua a correr a versão de que não há
motivações económicas para a maioria dos incêndios. Oficialmente
continua a ser dito que as ocorrências se devem a negligência ou ao
simples prazer de ver o fogo. A maioria dos incendiários seriam pessoas
mentalmente diminuídas.
Mas a tragédia não acontece por acaso. Vejamos:
1
- Porque é que o combate aéreo aos incêndios em Portugal é TOTALMENTE
concessionado a empresas privadas, ao contrário do que acontece noutros
países europeus da orla mediterrânica?
Porque é que os
testemunhos populares sobre o início de incêndios em várias frentes
imediatamente após a passagem de aeronaves continuam sem investigação
após tantos anos de ocorrências?
Porque é que o Estado tem
700 milhões de euros para comprar dois submarinos e não tem metade dessa
verba para comprar uma dúzia de aviões Cannadair?
Porque é que há pilotos da Força Aérea formados para combater incêndios e que passam o Verão desocupados nos quartéis?
Porque
é que as Forças Armadas encomendaram novos helicópteros sem estarem
adaptados ao combate a incêndios? Pode o país dar-se a esse luxo?
2
- A maior parte da madeira usada pelas celuloses para produzir pasta de
papel pode ser utilizada após a passagem do fogo sem grandes perdas de
qualidade. No entanto, os madeireiros pagam um terço do valor aos
produtores florestais. Quem ganha com o negócio? Há poucas semanas foi
detido mais um madeireiro intermediário na Zona Centro, por suspeita de
fogo posto. Estranhamente, as autoridades continuam a dizer que não há
motivações económicas nos incêndios...
3 - Se as autoridades
não conhecem casos, muitos jornalistas deste país, sobretudo os que se
especializaram na área do ambiente, podem indicar terrenos onde se
registaram incêndios há poucos anos e que já estão urbanizados ou em
vias de o ser, contra o que diz a lei.
4 - À redacção da SIC e
de outros órgãos de informação chegaram cartas e telefonemas anónimos
do seguinte teor: "enquanto houver reservas de caça associativa e
turística em Portugal, o país vai continuar a arder". Uma clara vingança
de quem não quer pagar para caçar nestes espaços e pretende o regresso
ao regime livre.
5 - Infelizmente, no Norte e Centro do país
ainda continua a haver incêndios provocados para que nas primeiras
chuvas os rebentos da vegetação sejam mais tenros e atractivos para os
rebanhos. Os comandantes de bombeiros destas zonas conhecem bem esta
realidade.
Há uma indústria dos incêndios em Portugal, cujos agentes não obedecem a
uma organização comum mas têm o mesmo objectivo - destruir floresta
porque beneficiam com este tipo de crime. Estranhamente, o Estado não
faz o que poderia e deveria fazer:
1 - Assumir directamente o
combate aéreo aos incêndios o mais rapidamente possível. Comprar os
meios, suspendendo, se necessário, outros contratos de aquisição de
equipamento militar.
2 - Distribuir as forças militares pela
floresta, durante todo o Verão, em acções de vigilância permanente.
(Pelo contrário, o que tem acontecido são acções pontuais de vigilância e
combate às chamas).
3 - Alterar a moldura penal dos crimes
de fogo posto, agravando substancialmente as penas, e investigar e punir
efectivamente os infractores
4 - Proibir rigorosamente todas as construções em zona ardida durante os anos previstos na lei.
5
- Incentivar a limpeza de matas, promovendo o valor dos resíduos, mato e
lenha, criando centrais térmicas adaptadas ao uso deste tipo de
combustível.
6 - E, é claro, continuar a apoiar as corporações de bombeiros por todos os meios.
Com
uma noção clara das causas da tragédia e com medidas simples mas
eficazes, será possível acreditar que dentro de 20 anos a paisagem
portuguesa ainda não será igual à do Norte de África. Se tudo continuar
como está, as semelhanças físicas com Marrocos serão inevitáveis a breve
prazo.
"A indústria dos incêndios", um texto de autoria de JOSÉ GOMES FERREIRA , sub-director de informação da SIC.
ADÃO CRUZ – UM BURACO NA REDE
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Acordei a meio da noite e não fechei mais os olhos. A insónia levou-me
onde bem lhe apeteceu. Gemi … More
Há 3 horas
É tal como é dito... Também eu já sei - e já reflecti - o suficiente, sobre este assunto, para saber que não são apenas ocorrências naturais ou actos de pirómanos...
ResponderEliminarE, pessoalmente, já tive conhecimento de:
- Um caso, no sul do país, a que assistiu alguém que conheci, em que foi visto algo ser atirado por uma aeronave que passou e depois começou um incêndio no mesmo local.
- E de um parque natural, neste país, aonde eu me deslocava frequentemente, num trabalho de voluntariado, em que um incêndio teve início, a meio da noite, pelo que me lembro, em 7(!) locais diferentes e onde, no decorrer do qual, alguém foi apanhado no local por militares e depois de algumas agressões confessou ter provocado o incêndio a mando de outrem.
Isto é daquelas coisas que me custa sempre a entrar na cabeça. Pois, não são só a paisagem natural, a vida animal e algumas habitações, fábricas e empresas que são afectadas... Mas também, frequentemente, pessoas que morrem por causa disto. Ainda por cima, muitas vezes (ou a maior parte(?) destas) bombeiros que estão lá para ajudar as pessoas e salvar vidas... Trabalho esse, que sei que é um trabalho duro e que estes fazem, ou em regime de voluntariado, ou a troco de um salário que, certamente, não será nada por aí além...
É a constante morte de bombeiros, nestas ocorrências, é que me deixa sempre consternado e me é difícil de digerir...
E, lá está, mais uma das depravações provocadas pelo Capitalismo...
ResponderEliminarEliminando-se o lucro privado neste tipo de coisas, eliminar-se-ia a ocorrência das mesmas.
Muito bem resumido meu amigo.
EliminarUm abraço
Mto bom,apenas ai nao está 1 coisa certa,o governo nao deve apostar no aconselhamento das limpezas de nada...já há equipas da GNR a verificar tudo isso e DIZEM k há coimas para quem nao cumpre,continuo a ver as casas em perigo cheias d mato e falta de limpeza...NAO ATUAM PORQUE?
EliminarBasta ver a diferença aqui no Minho... quem olha para La Guardia dadqui de Caminha, vê uma encosta densamente arborizada, verde esplendorosa, com corta-fogos de tantos em tantos metros, completamente paralelos. Pois o Distrito de Viana do Castelo há anos que não pára de arder. Entre a região portuguesa e a espanhola, há apenas o Rio Minho a separar. Se se vir a zona de helicóptero é uma diferença que até faz doer a alma a qualquer português.
ResponderEliminarJá me perguntei muitas vezes também, porque estão as casas do guardas florestais do Gerês abandonadas desde o 25 de Abril... são lindas e encontram-se numa zona protegida, maravilhosa. Pois o Gerês, santuário de várias espécies de entre as quais o lobo ibérico, a víbora europeia, águias e veados, já ardeu quase todo. Neste parque natural o fogo é posto simultâneamente em vários sítios ao mesmo tempo, como no caso que relata o Fernando Negro. Isto faz doer o coração. A barbárie é de tal ordem, que a Natureza dentro em pouco terá de "tratar da saúde" à nossa espécie... e nessa altura não vão ser escolhidos os culpados para castigar... vai tudo a eito.
Como sempre um post feito por alguém de muita coragem! Obrigada! :)
Um beijo.
No caso dos pirómanos e ainda mais dos seus mandantes, defendo a morte por imolação, por tudo o que disse o Fernando. Seria o castigo adequado ao crime. Umas boas piras na praça pública como faziam na Idade Média.
ResponderEliminarVou fazer link no meu texto de hoje
ResponderEliminarExcelentes posts todos os vossos ( com destaque para os de Octopus e da Fada ). Que raiva não podermos por cobro a este maldito estado de coisas!
ResponderEliminarMeus amigos apenas alguns reparos, os pilotos da FAP não são treinados para combater incêndios, nem a FAP tem helicopteros para isso. Talvez quando substituirem os Alouette isso possa acontecer. Os helicopteros que tinham sido encomendados pelo Exército (NH-90) já foram rejeitados pelo actual governo por falta de verba. Sendo assim, o Exército deixa de uma vez por todas o projecto de ter no seu seio helicopteros. O que já devia ter sido feito era a instinção da EMA e a transferência dos excelentes aparelhos que eles têm para a FAP. Com isso conseguia-se passar uma boa parte do combate aos incêndios para as mãos do estado.
ResponderEliminarPassamos os kamov para a FAP??? e quem os vai pilotar...cada formação nessa aeronave custa em média por piloto 65 mil euros...já há pilotos formados...e não podem ir com as aeronaves...não será deitar dinheiro fora?
EliminarOlá, triste constatar que os problemas entre Brasil e Portugal são bem parecidos.
ResponderEliminarAqui em São Paulo há um Nero a solto, muitos incêndios em favelas, já são 242 incendiadas.
O prefeito anterior José Serra ordenou que fosse desativada a brigada contra incêndio feita pelos próprios moradores e agora, o prefeito atual Kassab disse que o último incêndio tinha sido causado por um deficiente mental.
E o mais engraçado disso tudo é que as favelas incendiadas estão perto de áreas privilegiadas.
Além disso, neste inverno o mesmo prefeito proibiu a distribuição de sopa para os moradores de rua numa clara demonstração de uma política eugenista.
Abraços
O país arde porque está abandonado e continuará a arder enquanto não for repovoado.
ResponderEliminarOra aqui está a verdade ou provável verdade uma vez que não se investiga.
ResponderEliminarOra aqui está a verdade ou provável verdade uma vez que não se investiga.
ResponderEliminarO homem destrói o que a terra oferece... Reza a história, lendo o texto e outras contribuições de relatos aqui, que tudo isto está na génese da cultura e do conceito rápido de exploração dos recursos, como sempre ditou o perfil das conquistas de outrora... Pensar em leis para impedir isto, é como ignorar que o que realmente o causa, é a deformação de carácter de toda uma sociedade corrupta e aproveitadora, que não cria, explora os recursos. Não está na mão de nenhum chefe terrestre por fim a isso, a própria terra criará seus meios de defesa. Como acontece a milénios...
ResponderEliminarSe o interior do país é votado ao abandono, o que é que podemos esperar... nem aviões, nem limpezas, nada substitui a vivência humana. Façam o que fizerem, sem povoar o interior voltamos todos os anos à mesma ladainha.
ResponderEliminarO que é que tem o meu comentário para não ser publicado tal qual enviei?
ResponderEliminarO seu comentário não foi eliminado.
EliminarAgradeço e concordo com o seu comentário, foi só uma questão de aceitação.
Seja bem vindo.
Gostaria de saber o que propõe como soluções.
Atentamente
Bom dia caro amigo, aqui vai em síntese de síntese o núcleo de muitas outras soluções:
ResponderEliminarSem ter varinha de condão nem soluções miraculosas, podemos no entanto aferir facilmente, que tudo o que se encontra ao abandono se degrada. Ao tirar às populações do interior os meios sociais de sobrevivência porque a sua atividade deixou de ser rendível na ótica capitalista, onde as pessoas são meros peões dos seus interesses, as aldeias morrem, a nossa cultura esvai-se o fogo apodera-se de tudo.
É uma evidência!
Qual a solução? Inverter tudo o que se tem feito até agora e quanto mais tarde se fizer mais difícil será.
Com os meios hoje à nossa disposição, não há terra que não dê pão para alimentar quem nela trabalha, desde que esse pão seja socialmente dividido, tudo isto sem demagogias nem paternalismos.
A solução é política e não só burocrática ou técnica, podem colocar um bombeiro atrás de cada eucalipto, gastar milhões em helicópteros, sem gente a trabalhar e viver dignamente nessas terras, não haverá solução HUMANA.
Olá,
EliminarConcordo consigo.
Este problema não é simples, senão a Califórnia e a Austrália já tinham encontrado soluções para os incêndios que anualmente devastam os seus territórios.
Temos de aceitar que em certos climas e em certas regiões os incêndios são uma desgraça que se repete.
A ideia é diminuir o seu impacto.
- diminuir o "combustível" com limpeza e aproveitamento desse material.
- Dotar as zonas que sabemos de risco de formação e bocas de incêndio em cada povoação.
- Acabar com o negócio dos "meios aéreos" e dotar o país com meios estatais e não privados contratados que durante os meses de inverno podem ser utilizados na vigilância costeira.
Estes são alguns exemplos, além da organização florestal.
«Este problema não é simples, senão a Califórnia e a Austrália já tinham encontrado soluções para os incêndios que anualmente devastam os seus territórios.»
Eliminar- A Califórnia e a Austrália dizimaram as populações e todas as espécies animais autóctones provocando um desequilíbrio ambiental abrupto que nunca mais terão condições para lhe fazer frente. No fundo é o que se passa a baixa escala aqui no nosso jardinzinho, embora estando ainda a tempo de o repor.
Não é possível limpar uma floresta onde não haja vida, são os animais, as cabras p. ex. que não só não exigem salário como nos dão o leite, a carne, matéria orgânica e, evidentemente tirar da madeira, explorada de forma racional, todo o seu potencial de riqueza. Quanto à água, ela pode ser retida onde se encontrem as populações que dela se sirvam, podendo servir também para fazer face aos incêndios.
Sem querer entrar em áreas muito do seu conhecimento, diria que o importante é evitar a doença, e o senhor, melhor do que eu, sabe que é assim.
Caro Cid Simões,
EliminarEstá a falar com um médico que não "acredita" plenamente na prevenção a todo o custo como solução para a medicina, como por exemplo o caso das vacinas.
Posto isto, concordo consigo quanto ao desequilíbrio ambiental que refere.
Mas penso que devemos-nos habituar a lidar com os incêndios como fazendo parte recorrente e sazonal do nosso tipo de clima e da orografia presente.
Não penso que os incêndios sejam evitáveis, apenas podem ser minimizadas as suas consequências, com algumas medidas preventivas, claro, mas com uma maior coordenação logística e acabar com certos interesses políticos e económicos.
Interesses
ResponderEliminarO blogue fogos2017.blogspot.com apresenta imagens de satélite de alta-resolução (10 metros/pixel) dos fogos que ocorreram em Portugal em 2017. São centenas de imagens a cores, muito detalhadas, do "Antes e Depois" dos incêndios (mostram a mesma zona lado a lado, antes e depois do fogo). As imagens ajudam a perceber a dimensão dos fogos e o seu impacto nas populações. É preciso ver o que se passou para perceber, decidir, ajudar.
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