quinta-feira, 31 de março de 2011

Portugal afunda-se em silêncio

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Por vezes, temos necessidade de saber a opinião de jornalistas estrangeiros sobre o que se passa em Portugal, porque estes têm o distanciamento que falta a quem vive diariamente os problemas. A jornalista de "France 24", Hélène Frade, esteve em Portugal, e o que mais a surpreendeu foi o silêncio dos portugueses no meio das dificuldades. 






 "Enquanto a Europa e o FMI se apressam à cabeceira da Irlanda, Portugal afunda-se na crise. Perante as dificuldades, o governo anuncia um plano de rigor sem precedentes: aumento do IVA, congelamento ou até diminuição dos salários dos funcionários, redução das ajudas sociais... Medidads de austeridade encaradas angustia pelos portugueses já confrontados com um dia a dia difícil.


A crise tem aquela particularidade de ter um impacto diferente em cada país, de afectar cada economia de maneira diferente... Algumas são atingidas em pleno. Esses países, foram apelidados pelos anglo-saxônicos de "PIGS", acrónimo de "porcos", designam Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha...São as ovelhas negras da Europa....


Isto é no que diz respeito à parte animalesca da economia.
Mas qual será a realidade?


Para Portugal, um dos países mais pobres da Europa, as dificuldades não são recentes. Uma competitividade demasiado fraca ligada a uma qualificação insuficiente da sua população, deficit público em subida exponencial, e sobretudo, uma corrupção endémica limitadora da esperança, de inovação; estas são as fragilidades que a crise mais não faz do que acentuar.


O primeiro ministro, José Socrates, bem pode declarar que Portugal não precisa de ninguém, o espectro de uma intervenção europeia e do FMI perfila-se cada vez mais no horizonte.


O espectro? Para a maior parte dos interlocutores que encontro, esta perspectiva não é sentida como uma ameaça. "O FMI já cá está", nas mediadas de austeridade propostas pelo governo, dizem-me alguns. "Pelo menos o FMI virá por ordem neste sistema corrompido", dizem-me os outros.


Este desfasamento entre o discurso oficial e o sentimento de rua, é para mim a primeira surpresa. Mas mais surpreendente ainda, é o silêncio dos portugueses no meio das dificuldades.


Apesar de terem aderido à greve geral organizada pela CGTP e a UGT, no dia 24 de novembro, os seus protestos permaneceram silenciosos. No entanto a angustia está lá e a amargura também.


Para alguns a saída é partir. No ano passado, como este ano, cerca de 100 000 portugueses deixaram o país. Destes, muitos jovens diplomados que não encontram no seu país perspectivas de futuro."





http://www.france24.com/fr/20101210-portugal-crise-economique-jose-socrates-pigs-fmi-helene-frade

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