segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Ocupar a cadeira presidencial não significa que tenhas o poder

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É verdade que o Uruguai participa num diálogo qualificado de estratégico com os Estados Unidos que se realiza em Punta del Este (Uruguai), uma reunião dos ministros da defesa do continente com a presença de Leon Panetta, secretário de Defesa dos Estados Unidos.




Temos que esclarecer algumas coisas para entender o que se está acontecendo no mundo, na América Latina e no Uruguai, realidade que conheço em pormenor: Os impérios nunca foram derrotados, o que foi derrotada foi a sua política colonialista. Nunca houve um exército convencional que tenha derrotado o exército do império, apesar de reconhecer que houve resistência armada.


houve uma luta heróica dos povos, inclusive armada, que derrotou a política intervencionista do império, principalmente na América Latina. O império continuava vivo (e continua) que impôs a sua política neoliberal, levando à fome  à miséria milhões de pessoas. Na América Latina, esse processo determinou, entre outras coisas, a acumulação de forças tais, que levou ao governo partidos progressistas, como forma de enfrentar e resistir à pilhagem neoliberal.


Uma nova manifestação do império, que sempre esteve e estará ao serviço do capital, são os grupos económicos que se ligam aos grupos locais para dirigirem um poderoso sistema financeiro mundial. Pela primeira vez (talvez) da história, a batalha chegou ao território do império, com milhões de desempregados e a taxa de pobreza alcançou níveis inimagináveis há 10 anos atrás.


Essas alianças de grupos financeiros são as possuem grande parte do poder nos países da América Latina. No Paraguai, com uma canetada Lugo foi deposto, quase o conseguiram na Bolívia, esses grupos são muito poderosos. no Uruguai sofreram algumas pequenas derrotas, quando não alcançaram um tratado de livre comercio com os Estados Unidos, mas ganharam quando não se pode evitar as manobras UNITAS com o exército dos Estados Unidos. Apesar dos escândalos, também não podemos retirar os soldados uruguaios do Haiti.Conseguimos reduzir os índices de pobreza, o desemprego baixou para os 5%. Em suma, fezes-se uma melhor administração do capitalismo do que aquela feita pelos governos de Batlle ou de Lacalle.


É verdade que quando falamos em "guerrilheiro", a primeira coisa que nos vem à cabeça é a imagem do glorioso Che Guevara e não do ministro da defesa do Uruguai. Então, vamos deixar de lado a palavra "guerrilheiro" para entender melhor (entender não significa concordar) o Partido Comunista do Uruguai que define a Frente Ampla como um governo em disputa, eu concordo. A disputa não é tirar Mujica da sua cadeira presidencial, mas sim para se cumpra o programa de governo. Documento esse com muitas generalidades.


Isto acontece em duas frentes, uma interna da Frente Ampla onde convivem desde cristãos até marxistas, e uma externa da Frente Ampla onde as forças, grupos económicos que defendem os seus interesses, pressionam das formas mais incríveis para atingir os seus objectivos. Por exemplo, uma greve de anestesistas e de cirurgiões colocou em risco todo o sistema de saúde de um país inteiro.


 Do ponto de vista interno, há sectores que defendem que já se fez tudo o que se podia. Uns são a favor de não gastar as reservas do país para estarmos mais bem preparados nas situações de crise, outros sustentam que investir no desenvolvimento do país, fazer investimento público. Também propõem avançar para uma sociedade socialista.


O sector privado (leia-se os grupos económicos ligados ao sistema financeiro internacional) encontra cada vez mais formas de participar nas decisões do governo. A Frente Ampla, essa coligação de vários partidos e vários sectores, como tal, não propõe uma sociedade socialista. Embora se defina como anti-imperialista, não está claramente confrontada com o imperialismo, apesar de às vezes o combater com firmeza, em função de um ou outro ponto de vista dentro da coligação.


Está-se avançando em democracia, ou seja, ao mesmo tempo que se produz uma dura luta ideológica, surgem acordos para melhorara a qualidade de vida dos uruguaios. este processo deveria conduzir a uma sociedade socialista, com definições claras, como as tinha aquela personagem cujo a espingarda não só tinha pólvora e chumbo, como também tinha uma ideologia definida e preparava o assalto ao poder.


Estamos num tempo em que não necessário disparar um canhão para tomar conta de um país ou mudar o seu presidente. Para enfrentar essa forma de imperialismo temos que encontrar novamente a metodologia de análise da realidade dos clássicos Marx, Engel, Lenin, etc. E muito importante, não peçam para "dar um murro em ponta de faca" ("não peçam o impossível).




Texto do meu amigo Néstor (Chumbo) Chaves (nestor.chumbo@gmail.com), do semanário "Acción Informativa" (Uruguai) (http://semanarioaccioninformativa.blogspot.pt), em resposta à estranheza verificada por certos leitores deste blogue sobre a participação do Uruguai numa reunião com o Pentágono.
Tradução Octopus


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7 comentários:

  1. Olá Octopus...

    Abordei muito ligeiramente, e à minha maneira desviada, o mesmo assunto mas referindo Portugal aqui

    Quanto ao Uruguai é triste mas os ESCRAVOS pelos vistos têm um preço baixo e são facilmente comprados!
    Abraço

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  2. Voz,

    Li esse teu artigo. Como tu, penso que os "escravos" como dizes estão dispostos a tudo.

    Entristece-me que um país que admiro pela sua tentativa de sair do sistema, pelo seu presidente, pela tentativa de instalação, em alguns casos, de uma democracia participativa, tenha que se subjugar ao poder económico do império, como diz o meu amigo Néstor.

    Fico triste, mas compreendo que um pequeno país como o Uruguai não pode ter pretensões em sair desse mesmo sistema. É difícil dizer não, é difícil ir contra a corrente.

    A chamada "aldeia" global está construída para aniquilar qualquer pretensão da ovelha que quer sair do rebanho.

    Abraço

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  3. Octopus

    Temos que compreender que a América Latina e seus governantes estão hoje usando estratégias, acho que são acordos e tratados puramente diplomáticos, não podem entrar abertamente contra o colonialismo imperialista.
    Estão ao meu ver se movendo contra, mas a passos lentos e muito bem estudados, o caminho é arduo, mas como bem diz o ditado: "Devagar se vai longe".
    Nossa guerra contra o imperialismo tem que ser muito devagar, como um jogo de xadrez, muita estratégia e movimentos certeiros.

    Um grande abraço meu amigo

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  4. Octopus

    Veja o post com o discurso do Ministro Celso Amorim da X Conferência de Ministros da Defesa das Américas.

    http://burgos4patas.blogspot.com.br/2012/10/cooperacao-interamericana-em-defesa-nao.html


    Um grande abraço meu amigo

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  5. Olá dr. Octopus, excelente post.

    Obrigada por este seu esclarecimento... era o que eu temia.

    O Burgos tem razão e gostei do depoimento do ministro Celso Amorim. Agora convém colocar isso tudo em prática, especialmente no que se refere ao Haiti... aquele povo morre de fome e doença.

    Um beijo.

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    1. Pois é Fada, era o que também temia quando li o teu artigo.

      Compreendo a posição de uma pessoa que está acima de qualquer suspeita como é o meu amigo Néstor Chaves, mas também compreendo que infelizmente tem de haver compromissos, senão o pequeno país que é o Uruguai seria suprimido do mapa.

      Por estas e outras razões é que apesar de todo o meu optimismo que conheces, penso ser praticamente impossível lutar com o sistema instalado.

      Por muito boa vontade que haja do povo do Uruguai, que admiro, por muita vontade de instalar uma democracia participativa, como é o caso, por muito querido e lúcido que seja o seu presidente, as "coisas" não mudam.

      Isso entristece-me um pouco, como diria o Principezinho, afinal as pessoas adultas são realmente muito complicadas, só percebem de números.

      Julgávamos que ao viver numa aldeia global a vida seria melhor e mais transparente, mas nada disso aconteceu.

      Mas tu e eu, e alguns lunáticos acreditam que outra via é possível, e com lunáticos que o mundo mudou um pouco.

      Um grande beijo

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  6. Eu também acredito que um outro mundo é possível, mas acrescento... com o socialismo. É claro que para resultar esse socialismo não pode ser dogmático nem ter "modelos"...

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