quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Quando os medicamentos matam



Após mais de cinquenta artigos sobre medicamentos e o lobby farmacêutico, e 100 000 visitantes, aqui fica a tradução de um artigo de opinião de Bruno Toussaint, médico, director de redacção da revista "Prescrire".




Este corrobora a minha opinião, como médico, há 25 anos, sobre as medidas que deveriam urgentemente serem tomadas para evitar novos casos mortais como os de Vioxx, Liopbay, Avandia e Mediator.






Para evitar um novo caso Mediator.




Qual é o ponto comum entre Lipobay (cerivastatina), Vioxx (rofecoxib), Reductil (sibutramina), Acomplia (rimonabant), Avandia (rsiglitazona), Mediator (benffluorex), entre outros medicamentos?




Todos foram retirados do mercado no decorrer destes últimos anos, por causa dos seus efeitos secundários de uma gravidade desproporcionada em relação aos benefícios que traziam para os doentes. Em todos estes casos, esses efeitos secundários eram conhecidos de longa data ou previsíveis. Conhecidos muitas das vezes assim que foram colocados no mercado, porque esses foram observados durante os ensaios clínicos. Previssíveis por raciocínio farmacológico ou pela proximidade quimica desse medicamento com outros medicamentos que tinham esfeitos secundários graves.




Estudos clínicos ulteriores e notificações dos efeitos secundários por médicos e a sua posterior analise nos centros de farmacovigilância, em França ou em outros países, vieram confirmar o que à partida era conhecido ou previsível.




Para todos estes medicamentos, a revista "Prescrire" tinha alertado os seus assinantes durante anos, muito antes que as autoridades acabassem por decidir as suas retiradas do mercado. assim, provavelmente, milhares de doentes poderiam ter escapado aos seus efeitos secundários graves e estes desastres de saúde pública poderiam ter sido evitados.




Para isso são necessárias três condições.




Antes mais, a condição de pensar sempre em termos de benefício/risco para os doentes: porquê correr um risco, mesmo que minimo, quando não existe nenhum benefício real demonstrado?




Depois, a condição de dar a maior atençaõ aos efeitos secundários descitos nos ensaios clínicos, de aplicar raciciocínios de farmacologia básica, e d e analisar as publicações especializadas de farmacovigilância do mundo inteiro.




Por fim, a condição de em caso de dúvida fazer sempre beneficiar o doente e não o laboratório farmacêutico: não voltaremos a dar vida às vítimas mortais do Mediator, apesar dos processos que irão ser movidos contra o laboratório Servier.




O caso Mediator revela disfuncionamentos graves das autoridades sanitárias francesas, que foram bem descritas por Irène Frachon no seu livro "Mediator 150 mg, sous-titre censuré". disfuncionamentos que também são observados na Europa e no resto do mundo.




Este caso confirma a necessidade urgente de reforçar a avaliação dos medicamentos antes de serem colocados no mercado, de uma maneira independente dos laboratórios farmacêuticos; de reforçar as leis europeias para que os novos medicamentos sejam obrigados a demonstrar um interesse terapêutico real em relação aos medicamentos de refrência; de tornar as agências sanitárias independentes dos laboratórios farmacêuticos, seja financeiramente ou em termos de avaliação, demasiadas vezes influenciadas por conflitos de interesse com esses laboratórios.




Temos de reforçar consideravelmente a farmacovigilância para que sejam investigados e analisados mais activamente os efeitos secundários; tornar as decisões de retirada do mercados mais rápidas, fundadas numa avaliação médica de benefício/risco e não sobre um compromisso económico/benefício económico e industrial versus saúde dos doentes.




Nada disto é irrealista. Trata-se de uma simple aplicação, pelos médicos, as agências sanitárias, a indústria farmacêutica, sem esquecer os responsáveis políticos, de um princípio ético básico da medicina desde de Hipócrates: antes de tudo não prejudicar.






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