sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Como tornar um medicamento rentável.








A propósito da retirada do mercado da rosaglitazona (Avandia, Avandamet) é interessante lembrar como foi possível colocar no mercado uma molécula sem grande interesse terapêutico e torná-la num medicamente altamente rentável.





O percurso de uma medicamento...



O laboratório farmacêutico que propõe uma nova molécula, tem que reunir um dossiê e submete-lo às autoridades administrativas competentes. Estas são a EMEA, a INFARMED (em Portugal), a AFSSAPS (em França), a FDA (nos Estados Unidos), etc.


Quando um medicamento novo é colocado no mercado, este vai ser caro, dado que foi o culminar de uma investigação dispendiosa, apesar do seu interesse terapêutico poder ser limitado e fundado sobre critérios indirecto de substituição.


Uma vez comercializado, pode vir a ser alvo de estudos clínicos que colocam dúvidas quanto ao seu risco/benefício. O laboratório que o produziu continuará a dizer junto dos médicos, através sobretudo dos delegados de informação médica, que este é seguro e que os artigos que suspeitam do medicamento estão a exagerar.



Quando através da farmacovigilância se chega à conclusão que existem cada vez mais efeitos secundários referenciados, coloca-se a questão da sua eventual retirada do mercado. Mas inicialmente ele não é retirado do mercado; em contrapartida, vão-se colocar na bula do medicamento sucessivas "precauções" no seu uso, muitas delas impossíveis de por em prática por parte do médico.Entretanto a promoção desse medicamento continua.



Por fim, quando os estudos clínicos desfavoráveis são demasiado numerosos para serem escondidos, e muitas vezes após a morte de vários doentes, o medicamento é finalmente retirado do mercado.




Como limitar os "novos" medicamentos?




A questão pertinente é: será possível limitar a saída de "novos" medicamentos que não apresentam um valor terapêutico real?

Será, para isso, necessário criar novas comissões ou aumentar o número de especialistas?


Não, estas comissões já existem em número suficiente e os especialistas também. Trata-se na realidade de uma questão de bom senso, que assentam em regras simples de política geral. Por exemplo não julgar uma nova molécula apenas com critérios de substituição, mas sim baseados em parâmetros clínicos fundamentados em tempo suficiente de observação. Isto claro, nas moléculas que não aparentam apresentar um tratamento inovador inquestionável.


Isto não será possível enquanto as relações entre a indústria farmacêutica e as agências governamentais forem promíscuas. Actualmente essas relações são de tal forma complexas e intricadas à escala nacional e internacional, que é difícil as coisas mudarem.


Esta situação faz com que a indústria farmacêutica, perante a dificuldade de verdadeira inovação, se contentem em colocar no mercado moléculas parecidas com as já existentes ou sem valor terapêutico. A guerra depois é feita ao nível da promoção do "novo" medicamento junto da classe médica, que devido a ausência de formação contínua, absorve e acredita no que os laboratórios lhes transmitem.


Quando as agências governamentais retiram do mercado um medicamento, dizem-nos que isso é a prova da sua eficácia, quando na maioria das vezes trata-se da correcção de um erro que poderia ter sido evitado.


Octopus

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