segunda-feira, 10 de setembro de 2012

As 10 perguntas sobre os incêndios em favelas paulistas

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Mais um incêndio atingiu na segunda-feira, dia 3, uma favela da cidade de São Paulo. Desta feita, as vítimas foram os moradores da Favela do Piolho, no bairro do Campo Belo, na zona sul da capital, numa área que fica próxima, bem pertinho mesmo, do aeroporto de Congonhas, imponentemente encravado em região nobre da metrópole.


Em 2012, foi o 32º incêndio dessa natureza em São Paulo (média de quatro por mês). Já tinham sido registados outros 79, no ano passado. Só no de segunda-feira, quase 300 casas foram destruídas e mais de mil pessoas ficaram desabrigadas. Não tenho, confesso, condições de fazer afirmações. Mas, como sugeria e ensinava o filósofo grego Sócrates, ao reconhecer que “só sei que nada sei”, posso fazer perguntas. 


Questionar não ofende. E ajuda a pensar. Minhas dúvidas:


1. Será que a Prefeitura de São Paulo nos considera mesmo tolinhos e imagina que vamos acreditar, num exercício de fé profunda, que os incêndios são apenas coincidências, lamentáveis tragédias?


2. Incêndios em favelas nessa quantidade acontecem em alguma outra cidade do planeta? Ou São Paulo é um foco isolado, um ponto fora da curva, uma “metrópole incendiária exclusiva”?


3. Será que apenas os moradores de favelas não sabem acender o gás ou riscar um fósforo, não sabem lidar com o fogo?


4. Por que essa mesma quantidade de incêndios não acontece em condomínios de luxo dos bairros nobres da cidade?


5. Por que a prefeitura paulistana, à época da administração de José Serra, desactivou o Programa de Segurança contra Incêndio, implantado durante a gestão da prefeita Marta Suplicy e que tinha como propósito justamente desenvolver acções de prevenção e orientação especificamente em favelas? E por que o actual prefeito, Gilberto Kassab, não retomou o programa?


6. Por que os bombeiros e as demais autoridades públicas responsáveis pelas investigações não conseguem explicar ou definir as causas e os responsáveis pelos incêndios, com os laudos finais invariavelmente apontando para “motivos indeterminados”?


7. Será que o que de fato move esses incêndios é uma deliberada política de higienização e limpeza social, destinada a expulsar os moradores das favelas, que “enfeiam as paisagens”, para aproveitar os terrenos finalmente “limpos” para a especulação imobiliária, tornando assim a fotografia da capital “mais bela e atraente”?


8. Por que nenhum jornal de referência e de grande circulação faz as perguntas que devem ser feitas, com intuito de construir a melhor versão possível da realidade?


9. Por que os repórteres de emissoras de rádio e de TV que transmitem informações ao vivo sobre os incêndios (incluindo os repórteres aéreos) parecem sempre mais preocupados com os reflexos dos incêndios sobre o trânsito, em apontar rotas alternativas para os motoristas, do que em dedicar atenção às vítimas das tragédias (muitas fatais) ou à destruição de casas e de sonhos?


10. Por que nos acostumamos aos incêndios nas favelas e passamos a considerá-los algo “natural, normal”, como se já fizessem parte da paisagem urbana e do quotidiano da metrópole, aceitando resignadamente a banalização da tragédia e da violência? Em que lugar do passado ficou perdida nossa capacidade de indignação e de reacção?






Publicado por Francisco Bicudo em:
http://oblogdochico.blogspot.com.br/2012/09/dez-perguntas-sobre-os-incendios-em.html

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6 comentários:

  1. Olá Octopus...

    Quase que parecem os fogos que acontecerem em Espanha que por maravilhosa coincidência e total acaso seguiram o futuro trajecto de mais uma auto-estrada que está em fase final de aprovação!

    No Brasil, e noutra favela, é fácil encontrar alguém disposto a pegar fogo a outra favela em troca de meia dúzia de moedas!

    Dinheirinho... Dinheirinho... Se já somos naturalmente agressivos, com este belo incentivo, aumentamos a natural agressividade e somos aquilo que actualmente somos...

    Abraço

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  2. tem que limpar a area pois os turista estao chagando pra copa e as oolimpíadas,pensamento dos gorvernates.
    minha opiniao é que com essa crise la fora nao virá ninguem e o pobre vai pagar o pato e ainda sem favela.

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  3. vai continuar assim pois eles tem que limpar a area,essas favelas enfeiam onde os turista vao passar. só que eles estao jogando o problema para debaixo do tapete,sem resolver o problema dos favelados.

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  4. "7. Será que o que de fato move esses incêndios é uma deliberada política de higienização e limpeza social, destinada a expulsar os moradores das favelas, que 'enfeiam as paisagens', para aproveitar os terrenos finalmente 'limpos' para a especulação imobiliária, tornando assim a fotografia da capital 'mais bela e atraente'?"

    Relativamente a um bairro, em particular, da nossa capital, em Portugal - o Casal Ventoso - lembro-me bem do quão diferente era uma zona limítrofe deste, junto a uma das principais artérias de trânsito da cidade - a Avenida de Ceuta.

    Antes da Expo 98, e da limpeza que quiseram fazer - da imagem, pelo menos - da capital, quem por lá passava de autocarro, como eu, e que não soubesse do que se tratava, ao ver tamanha multidão que todos os dias ali se juntava, pensaria que se tratavam dos preliminares para algum concerto de música, que iria haver naquele local, tal era o aglomerado de pessoas que se via na conhecida zona descampada desta freguesia, que toda a gente desta área metropolitana sabia ser o hipermercado de droga de Lisboa.

    Não era incomum, até, ver pessoas que tinham entrado no mesmo autocarro que eu, oriundo do mesmo subúrbio da capital, a sair na paragem em frente a tal concentração diária, com os traços característicos de quem é consumidor.

    Aproximada a data da famosa exposição mundial, em Lisboa, com a enchente de turistas que iria haver, tratou a Câmara Municipal desta cidade de "limpar" então esta zona e fazer com que o consumo de droga na capital deixasse de ser feito de modo tão visível, ali, ao pé de toda a gente que por aquela artéria da cidade passava.

    Outro caso...

    Aproximando-se, mais recentemente, o Euro 2012, na Ucrânia, trataram as autoridades desse país de organizar a matança generalizada dos muitos cães vadios que vagueavam pelas várias cidades - presume-se, mais uma vez - para limpar a imagem com que os turistas pudessem ficar deste país...

    Eu sei que o Brasil irá, dentro em breve, ser o anfitrião do Campeonato do Mundo de Futebol de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016...

    Será que também o José Serra - que até beija os pés a estátuas da Nossa Senhora, em campanhas eleitorais - e os seus amigos, estarão muito preocupados com a imagem com que os muitos turistas que se irão deslocar ao Brasil poderão ficar deste país, ao ver tais favelas?


    "9. Por que os repórteres de emissoras de rádio e de TV que transmitem informações ao vivo sobre os incêndios (incluindo os repórteres aéreos) parecem sempre mais preocupados com os reflexos dos incêndios sobre o trânsito, em apontar rotas alternativas para os motoristas, do que em dedicar atenção às vítimas das tragédias (muitas fatais) ou à destruição de casas e de sonhos?"

    Esta então, é demais...

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  5. (Enquanto escrevia o meu texto, creio que também mais alguém poderá ter acertado no motivo que poderá estar por trás de tudo isto...)

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  6. E me parece que esses acidentes sempre ocorrem em favelas localizadas proximo a areas nobres; nao é??

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