As revelações do site Wikileaks estão nas bocas do mundo.Quais são os reais objectivos de Wikileaks? Quem beneficia com essas revelações? Quem fornece esta avalanche de informações tidas como secretas? Quem é Julian Assange? Como é que os serviços secretos americanos o deixam movimentar-se e depois desconhecem o seu paradeiro?
A ideia de confiar documentos secretos, vindos não se sabe bem de onde, a um "guru" mediático, é por si só preocupante.
Revelações secundárias.
Analisemos algumas das revelações "bombásticas" de Wikileaks.
Primeiro temos os documentos secretos de operações militares no Afeganistão. Pois bem, nada de muito radical que já não soubéssemos. Não se trata aqui de revelações, mas sim de confirmações.
Depois temos o jogo complexo e ambíguo do Paquistão e da sua chefia através dos seus serviços secretos? Não podemos propriamente falar de uma descoberta.
Temos também a "revelação" da existência da morte de civis inocentes por "efeito colateral"? Nada que não soubéssemos ou que altere a nossa visão da guerra.
Até agora todas estas "revelações" não tiveram grande impacto nos Estados Unidos e em qualquer outro lugar do mundo em termos puramente políticos ou estratégicos. Um pequeno sobressalto emocional na altura da sua divulgação e depois passamos a outra revelação. A opinião pública aceita bem os "efeitos colaterais" das guerras, sobretudo quando as vítimas são muçulmanas.
Revelações que legitimam as guerras.
Para legitimar as suas guerras perante a opinião pública, os Estados Unidos têm de as tornar aceitáveis, necessárias, quase santas. São então apelidadas de: guerra fria, guerra contra o comunismo, guerra pela liberdade, guerra contra o terrorismo, guerra contra o eixo do mal, guerra cirúrgica, guerra preventiva,... Parece quase que os seus soldados partem para a guerra como se partissem de férias.
A finalidade de Wikileaks será de fazer aceitar as guerras americanas como guerras sangrentas como sempre foram ao longo da história. Explicando melhor, as suas revelações tornam as guerras sangrenta mas estas aparecem na sua forma mais depurada: os arquivos mostram a guerra tal como ela é , mas com o distanciamento informático. Wikileaks encontra-se assim ligada à máquina de propaganda americana.
Funciona como um contrapoder necessário para dar credibilidade ao poder. Sim, as guerras são sangrentas, sim muitos erros são cometidos, como sempre foram ao longo da história, mas no fundo elas são necessárias. As guerras dos Estados Unidos são assim reveladas com os seus defeitos, por um organismo "independente" e "ético" (Wikileaks) que no fundo as legitima e as desculpa, sem nunca as por en questão.
A divulgação de documentos ditos secretos repletos de pequenas mentiras diplomáticas e de pequenos "incidente" militares, aos olhos do público têm por efeito que países como os Estados Unidos sejam desculpabilizados ao "esquecerem-se" de divulgar certos pormenores das suas actuações, mas no fundo, não revelam que não mentem no essencial. Mostram esses governos como sendo menos dissimuladores, menos conspiracionista e menos mentirosos do que muitas vezes se pensa.
As informações divulgadas são de menor importância e apenas beliscam os atingidos. Trata-se muitas vezes de verdadeiros "mexericos" dignos de qualquer revista cor-de-rosa: Sarkozy é um palhaço, Chávez é louco, Berlusconi é vaidoso, Putin é machista, Khadafi é hipocondríaco,... Estes documentos que se evaporam misteriosamente dos seus cofres secretos não passam de informações secundárias. Estas revelações parecem ser fabricadas para serem divulgadas, as revelações verdadeiramente importantes não aparecem. Este é um clássico e tipico método de propaganda e de desinformação.
A CIA não tem qualquer problema em divulgar este tipo de informação. Pelo contrário permite credibilizar o Wikileaks para o poder utilizar quando chegar a altura. Os órgãos de informação habituais perderam recentemente muita da sua credibilidade aos olhos do público. Muitas gente já começou, e muito acertadamente, a desconfiar do que vêm na televisão ou lêm nos jornais. Em contrapartida vêm na internet um último reduto de liberdade de expressão. A internet é agora um órgão cada vez mais credível utilizado por muita gente que procura pontos de vista alternativos aos grandes media, e isso claro, não passou despercebido aos serviços secretos americanos para poder ser usado para atingir os seus fins.
Revelações oportunas.
As revelações sobre a China também são muito oportunas para os interesse americanos. Pequim é acusado de fornecer mísseis à Coreia do Norte, e de ter estado por trás de ataques cibernéticos em vários sites americanos.
Julian Assange, o justiceiro?
Quem é Julian Assange representante de Wikileaks? É uma personagem difícil de definir.
Em Outubro de 2010 recebe o apoio de Daniel Ellsberg membro do CFR (Council of Foreign Relation) criado por David Rockefeller.
Julian Assange, o "inimigo" do sistema, recebe o "Index on Censorship Award 2008" do The Economist. Este homem que faz tremer os USA também recebe um prémio do The Economist que pertence ao Economist Group cujo um dos directores é Lynn Forester Rothschild, e o editor é Micklethwait membro do grupo Bilderberg.
É eleito a personagem do ano 2010 pelo Times. Também foi nomeado uma das 25 pessoas que mudaram o mundo pelo Utne Reader, revista criada por Eric Utne e Nina Rothschild Utne.
Em 2007, John Young, fundador do site cryptome.org, deixa wikileaks por dizer ser uma montagem da CIA.