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A abdicação do rei Juan Carlos I de Espanha foi seguida de um grande número de elogios à sua pessoa e percurso político, porém muito pouco foi dito sobre a sua colaboração com o a ditadura de Franco.
Juan Carlos passa os primeiros anos da sua infância em Roma, onde o seu pai, Dom Juan, se instalou no exílio após a proclamação da Segunda Republica espanhola no dia 14 de abril 1942.
O ditador Franco cedo se interessou pelo jovem Juan Carlos. Em 1948 decide da sua vinda para Espanha para receber uma educação franquista com o objectivo de reinstalar a casa de Bourbon no trono.
Franco escolhe para sua educação várias escolas militares, seguindo de perto a sua carreira.
Em 1962, Juan Carlos, com 24 anos, casa com a princesa Sofia da Grécia. Em 1963, Franco convida-o a instalar-se no Palácio de Zarzuela, em Madrid. Juan Carlos vive aconselhado por membros da Opus Dei.
Em 1969, Franco decide nomear Juan Carlos como o seu sucessor, quando deveria ser o seu pai Dom Juan que quando sabe da notícia retira-lhe o título de "Príncipe das Astúrias" (título da casa real de Espanha atribuído ao herdeiro aparente da coroa).
Franco decide de lhe atribuir o título de "Príncipe de Espanha", nunca antes utilizado. Juan Carlos presta sermão em julho de 1969, jurando fidelidade ao franquismo, assim como aos princípios do Movimento Nacional (partido criado por Franco) e às leis fundamentais que tinham substituído a Constituição.
Nesse mesmo ano, revela numa entrevista a uma televisão francesa: "O general Franco é de facto uma figura decisiva histórica e politicamente para a Espanha. Nos últimos trinta anos, criou as bases para o desenvolvimento do país. Para mim, é o exemplo vivo, pela sua devoção patriótica diária ao serviço da Espanha. Tenho por ele um grande carinho e admiração".
Juan Carlos substitui Franco, gravemente doente, em julho de 1974, sendo assim pela primeira vez chefe de Estado interino. Juan Carlos substitui Franco na celebração do aniversário do levantamento de 1936 contra a Republica espanhola.
Dois dias depois da morte de Franco, no dia 20 de novembro de 1975, Juan Carlos é proclamado Rei de Espanha pelas cortes franquistas.
"Juro perante Deus e os Santos Evangelhos de respeitar e de fazer respeitar as Leis Fundamentais do Reino e de permanecer leal aos princípios do Movimento Nacional".
Em nenhum momento Juan Carlos falou em democracia, nem evocou a instauração de um processo de transição democrática.
Perante a onda de manifestações e greves, apercebe-se que o franquismo não sobreviverá ao desaparecimento do seu líder. Decide então nomear Adolf Suarez, antigo presidente do Movimento Nacional, para chefe do governo.
Perante a oposição republicana, faz um pacto: abrir a via a uma transição democrata em troca do reestabelecimento da monarquia.
Em 1977 obriga o seu pai, Dom Juan, legítimo herdeiro da coroa a renunciar aos seus direitos dinásticos para legitimar o seu poder.
Juan Carlos torna-se chefe de Estado e das forças armados e garante da unidade da nação. Ratifica as leis, nomeia o Presidente do governo, pode dissolver o parlamento com o acordo do presidente do Congresso. Representa o país a nível internacional, pode declarar a guerra com a autorização do Parlamento e dispõe de imunidade total e absoluta para todos os casos de crimes e delitos inclusivo em caso de traição à Pátria.
O custo anual da monarquia eleva-se a 560 milhões. A fortuna pessoal do Rei é 2 mil milhões de euros.
Em 2002 durante o golpe de estado contra o presidente da Venezuela, Hugo Chavez, a Espanha e os Estados Unidos são os únicos países a apoiar os golpistas. Em 2003, Juan Carlos, chefe das Forças Armadas, decide a participação na guerra contra o Iraque, ilegal aos olhos da comunidade internacional.
Baseado num texto de Salim Lamrani
http://www.michelcollon.info/50-verites-sur-le-roi-d-Espagne.html?lang=fr