sábado, 22 de setembro de 2012

O isco da TSU

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Perplexo, o povo português defrontou-se com uma medida demasiado grosseira para ser verdade: iriam tirar aos trabalhadores o seus rendimentos para entregar directamente o dinheiro do seu trabalho ao patronato.



Todos estavam contra essas medidas, desde a oposição, o que é normal, até aos próprios membros do PSD. Tinha-mos unanimidade. Com uma medida desta, era normal, quando nos vão ao bolso é normal tal reacção básica, ainda para mais essas medidas nem sequer estavam prevista no memorando da Troika, toda gente estava mais contra.


Reunião do Conselho de Estado, e depois volta tudo atrás, essas "medidas não são bem assim, vão ser alteradas, mas são necessárias novas medidas para colmatar essa perda de receitas".


Tudo não passa de um embuste, uma manobra de diversão, as privatizações de sectores fundamentais da nossa economia passam então como necessárias, entre muitas outras medidas, como as mexidas no IRS que irá afectar os que não podem escapar ao fisco, ou seja, o rendimento do trabalho. As novas mediadas que vêem aí serão mais gravosas do que as actuais decorrentes das alterações da TSU, mas disfarçadas de medidas necessárias, que a maioria das pessoas não irá perceber.


As manifestações populares promovidas pela "sociedade civil" foram curiosamente difundida por todos os meios de comunicação social, falava-se em 90 mil pessoas convocadas, mas após a divulgação mediática, chegaram aos 500 mil, só em Lisboa, muito à custa dessa mesma comunicação social que tudo fez, curiosamente ou não, para as promover. Tiveram direito a toda a divulgação durante horas. Chega-se a pensar que foram promovidas por essa mesma comunicação social, nas mãos dos grandes grupos económicos. Até tiveram direito à cobertura de helicópteros, quanto o mesmo não acontece com greves ou manifestações promovidas por organizações sindicais.


Depois vêem-nos dizer que o recuo das medidas sobre a TSU foi uma vitória do descontentamento, da vontade popular, quando na realidade essas medidas, que todos sabíamos injustas  (propositadamente demasiado grotescas) tinham esse objectivo: fazer crer que foi uma derrota popular, fazer crer que o "povo" tem uma palavra dizer, que é dono das decisões tomadas. Nada mais falso, estas medidas "injustas" foram construídas para dar lugar a outras menos mediáticas, que essas sim irão afectar a vida de todos os portugueses sem que esses se apercebam e por consequência, se manifestem.


Estas medidas absurdas da TSU, que ninguém concorda, não passam de medidas que se sabia iriam ser "chumbadas" à partida, para dar lugar a medidas que serão aceites por todos como necessárias, essas sim sem descontentamento, equivalentes ou superiores à famosa TSU, mais gravosas do que esta teatralidade, mas sempre a favor do capital.



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13 comentários:

  1. Olá Octopus

    É tal e qual como aquela proposta de lei sobre a criminalização da corrupção, que foi escrita de propósito para ser chumbada pelo Tribunal Constitucional, que neste caso em especial, a decisão já é boa e deve ser cumprida!

    Como costumo dizer "MANADAS COM MEDO E EM PÂNICO NÃO AGEM... REAGEM!" E basta uns bastões eléctricos e uns quantos pastores para as pôr a correr na direcção que se pretende!

    Continua a existir uma grande falta de capacidade deste POVO para saber o que REALMENTE É PRECISO MUDAR! E já andamos nisto há séculos... Literalmente!

    Enfim...

    Abraço

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    1. Voz tens toda a razão, a maioria apenas reage, mas conhecendo-te como te conheço, tu pertences à minoria, assim sendo, porque foste à manifestação? é que eu também fui e sei muito bem quais são as técnicas destes fdp. Estamos errados, é isso? Ou eu fiz papel de parva, porque não tenho os tais Media?!

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    2. Voz,

      Tens toda razão, admiro a tua lucidez, frequentemente quando falo com alguns amigos refiro a tua expressão de "MANADA", claro que a maioria não perceber patavina, mas tens toda a razão, a Manada está enquadrada pelos cães (capitalismo) com um recanto de prado à vista (socialismo).

      Parabéns, obrigado

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    3. Fada,

      A minha mulher esteve quase a convencer-me a ir à manifestação, acabamos por não ir. Algo nessa mediatização me fez recuar.

      Não critico quem o fez, longe de mim tal ideia, foi legítima, mas foi manipulada pelo poder político desde o inicio. Uma semana antes já os meios de comunicação social (oficiais) davam conta desse movimento, primeiro falavam em um movimento civico que teria 30 mil pessoas, depois já falavam em 50 mil convocadas pelo facebook, depois já falavam em muito mais. No final fala-se em 500 mil, que duvido, todo isto acompanhado excepcionalmente pelos meios de comunicação social.

      Cede de manhã todos os canais televisivos preenchiam os seus tempos de antena com a pré-manifestação, a manifestação e a pós-manifestação, com helicópteros e tudo, "só faltavam os submarinos"!

      Era demais para ser verdade, quando outras manifestações, não tinham a mesma cobertura. Estas interessavam ao regime, porque as medidas anunciadas era uma "lebre" para o sistema. A TSU é isso mesmo, escandalosa e inadmissível, foi anunciada para criar uma revolta popular.

      Essas medidas nunca estiveram em cima da mesa, foram o isco para poderem ser substituídas por outras medidas, que essas sim serão de igual modo gravosas, mas que disfarçadas, irão parecer aceitáveis e menos "básicas" e serão aceites por todos como o mal menor.

      Um beijo

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    4. A EDP já há uns anitos que utiliza essa técnica e qiue este ano foi levada ao extremo quando em Outubro mandaram o bitaite de que a energia iria encarecer 23%. Encareceu 4% se não estou em erro.

      Quanto a manifestações aqui está o exemplo do velho ditado que diz: "preso por ter cão e por não ter". De qualquer forma, eu prefiro ser presa por ter. Ainda se torna mais caricato a partir do momento em que me não deixo influenciar pelos Media. Isto vai bonito sim senhor!
      Mais vale morrer de pé, do que ficar a espreitar de longe, enquanto outros decidem o meu futuro. Gosto de participar. Agora que me deu uma vontade de distribuir umas galhetas bem dadas a torto e a direito durante a manif, isso é uma verdade.

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    5. Gostava de ver as expressões dos seus amigos quando diz "A MANADA"!!! Deve ser um daqueles momentos em que tudo fica a fazer mais sentido!

      Abraço

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  2. "A grandiosidade das manifestações populares que ocorreram no passado sábado (15/9), em quatro dezenas de localidades, tal como a dimensão da vigília nesta sexta-feira frente ao palácio de Belém (21/9), mostram que a atitude política de centenas de milhares de portugueses está alterada, emergindo uma impressionante vontade das massas populares de uma mudança profunda, orientada contra o regime vigente - "contra os partidos, contra os políticos" - gritando nas ruas consignas que recordam os tempos de Abril de 74, numa poderosa condenação do actual rumo de desastre que o governo de turno das troikas (externa e interna) vem impondo aos trabalhadores e ao país, a continuidade lógica das malfeitorias e crimes de lesa-povo que já se prolongam por longos 38 anos, sempre pela mão dos mesmos partidos do grande capital - PS, PSD, CDS - que se vêm revezando no poder."
    Se quiserem dar-se ao trabalho, http://oassaltoaoceu.blogspot.pt/
    Saudações.

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    1. Amigo Filipe,

      Li o seu artigo que refere, apesar de não me rever em qualquer partido, e ser genuinamente contra o sistema dominante de classes e partidos (porquê a necessidade de partidos?) gostei dos sues artigos e irei seguir as suas ideias.

      Nunca fui e nunca serei daqueles que não valorizam o partido comunista, ou sobretudo os sindicatos, como um elo fundamental no acordar dos povos, claro que tiveram, e ainda são fundamentais, mas não preconizo um tipo de sociedade promovida por partidos que quando chegam ao poder fazem o mesmo que aqueles que combatem.

      Obrigado pelo seu comentário e a sua acção política.

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  3. Ouçam o recente e excelente discurso do Magnifico Reitor da Universidade de Coimbra, aquando da abertura das aulas 2012/2012.
    Ele faz a critica, apresenta soluções e põe a Universidade ao dispôr para estudar e encontrar caminhos que não sejam criminosos por que assassinos, como os que estão a ser seguidos por aqueles que se acantonaram no poder pela mentira constante e insidiosa a mando de interesses tão criminosos como eles mesmos para iscar Portugal do mapa como nação independente e digna.

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    1. Olá António... Um hábito que eu tenho, provavelmente um mau hábito, é quando sugiro algo para ser lido, ou visionado, deixar as ligações para que a natural preguiça não se transforme em desculpa para não seguir o conselho...
      Assim e para facilitar a vida aos Amigos que por aqui passam ficam a seguir as ligações para o tal discurso:

      Em formato escrito

      Em formato vídeo

      Continuação e obrigado pela sugestão
      Abraços

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  4. E a "minha" resposta é:

    Ninguém vai admitir que a Grécia foi desfeita pelo pico do petróleo, ninguém vai nem mesmo discutir ou cogitar a possibilidade! Este ano não é 2004, os economistas a fazer uma previsão sobre o que pode acontecer em 2008. Isto é um exército inteiro de excepcionalmente bem remunerados, escritores, doutorados, analistas, políticos, empresários, economistas, professores universitários, especialistas e blogueiros de finanças-energia, ficção, poetas e pescadores de cima para baixo, ninguém quer ver o que está acontecendo bem debaixo seus narizes!

    Agora é a vez da Espanha ser varrida para fora da mesa pelos seus resíduos dos automóveis. A única questão é quanto tempo vai levar o processo. Usando a Grécia como um modelo, uma vez que o estabelecimento é reconhecidamente insolvente, o espasmo da nacional ruína e "follow-on" declínio a pique, é quase instantâneo.

    Como os gregos, a aposta espanhola do aluguer na economia americana baseada no consumidor de resíduos fósseis, não percebendo que era uma farsa. Agora que "sabem" (ou estão vagamente conscientes) não há nada que possamos fazer sobre isso, não há nada que o espanhol possa fazer sobre isso. Como os gregos, os espanhóis querem o euro, querem os carros, querem a modernidade e continuarão a quere, mesmo quando a economia espanhola está completamente em colapso. Os espanhóis passaram séculos vivendo da terra em pequenas aldeias e eles não têm desejo de voltar.

    Mesmo com o chinês e japonês
    (* E Os portugueses, obviamente.)

    Traduzido do blogue do JMS

    blogue do autor:Disintegration/Economic Undertown



    Um beijo

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    1. Não penso que a Espanha irá padecer dos mesmos males que as economias da Grécia ou Portugal, porque a Espanha sempre sobe viver com os seus 25% de desemprego à custa da sua economia paralela.

      É a quarta economia europeia, a seguir à Alemanha, à França, e ao Reino Unido, logo antes da Polónia. Vive bem do seu turismo, o maior Europeu, e das suas exportações, sendo as pescas o sector que maior exporta na União Europeia.

      Claro que a Espanha vai ser sujeita a um "resgate", mas as condições serão sempre diferentes e mais benéficas que os outros países regatados. Vão ter melhores condições, primeiro porque tem uma economia muito mais sólida, e segundo porque é um valor que a ser resgatado seria incomportável para a Europa.

      Não penso que a Espanha será um problema, no meio disto tudo, como também não penso que a Itália que tem uma dívida pública altíssima será um problema porque essa dívida é detida pelos próprios italianos e não credores estrangeiros.

      Penso que o sistema está-se a equilibrar e que daqui a um ou dois anos esta crise não passará de mais um mau bocado, como outras, mas sempre à custa do rendimento do trabalho, menores direitos dos trabalhadores, diminuição do apoio social, e a sempre a favor do grande capital.

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    2. Ainda bem que o dr. Octopus tem uma visão optimista do futuro. Podem dar as voltas que quiserem que o problema de fundo é sempre o mesmo: acabaram-se as energias baratas e a partir daqui tudo vai regredir e o que me revolta, é a falta de visão de futuro de que padecem estes líderes corruptos que na corrida do salve-se quem puder, estão mais interessados em obedecer a ordens de estrangeiros, do que preocupados em adoptar políticas alternativas para que os povos se adaptem da forma menos custosa ao novo paradigma. Como disse e continuo a dizer, é o salve-se quem puder e depois instala-se a lei da força e da ditadura. É lógico que quem se vai tramar e bem tramadas, vão ser as gerações futuras, sejam elas espanholas, gregas, portuguesas, alemãs, americanas, francesas, japonesas ou chinesas e isso demonstra uma tal falta de carácter dos políticos e de todos os albitres que neste momento se chamam de opinion makers, que se torna assustador!

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