quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Quanto custa um dia de greve?

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As contas difíceis.


Para saber do impacto de um dia de greve geral sobre a economia portuguesa, podemos fazer um cálculo simples (simplista) dividindo o PIB português pelos número de dias de trabalho. Teríamos então, os cerca de 170 mil milhões de euros do PIB anual dividido pelo número de dias úteis de trabalho, o seja 170 mil milhões de euros dividido por 225 dias úteis (365 dias menos 53 sábados, 52 domingos, 9 feriados e 25 dias de férias). Chegaríamos a um valor de 764 milhões de euros.


Mas estas contas por alto servem quanto muito como uma referência. A economia não funciona só aos dias úteis; nem todos os trabalhadores fazem greve; a produtividade dos dias não é toda igual; e em muitos sectores o trabalho "perdido" num dia de greve pode ser compensado nos dias seguintes.


Para Luís Bento, autor de um estudo segundo o qual cada feriado tem um impacto de 37 milhões de euros sobre a economia, "não é possível" fazer a transposição deste valor para uma greve geral, como a que foi marcada pelas confederações sindicais para esta quinta-feira.


Os efeitos das greves gerais são muito diversificados, até porque variam de um sector de actividade para o outro. A adesão nunca é de 100%, e as greves gerais paralisam sobretudo a função pública e o sector empresarial do Estado.


No sector privado, apesar de muitas pessoas não conseguirem chegar aos postos de trabalho por causa da paragem dos transportes, o que afecta 25 ou 30% do sector privado, quanto mais não seja por atrasos, do ponto de vista produtivo não existem grandes desvantagens, até porque as empresas não pagam os salários das greves.


No sector dos transporte, por exemplo, existem apenas as perdas dos passageiros ocasionais, sendo que os passes já estão pagos e que não haverá gastos com os combustíveis e haverá descontos aos trabalhadores que fazem greve.



Impacto simbólico?


O investigador António Costa Pinto, vai mais longe,  e considera que uma greve geral tem um impacto económico "completamente nulo", defendendo que tem apenas um significado "simbólico" do descontentamento da sociedade. "Um dia de greve geral é completamente nulo em termos de impacto económico, é apenas " simbólico", uma vez que não contrariará em nada as medidas em curso, apenas demonstra descontentamento".


De acordo com o sociólogo, "se se fizer uma análise comparada das greves em Portugal, França, Itália ou Inglaterra, verifica-se que Portugal é um país de fraca conflitualidade social e também que é um país menos desenvolvido", o que quer dizer que, "no caso português, não há nenhuma relação negativa entre a taxa de greves e a diminuição da produtividade".


O investigador disse ainda que "é natural" que exista contestação social, face às medidas de austeridade.
"Se ela não existir, isto quererá dizer que a sociedade portuguesa confirma uma das suas características: a fraca dinâmica da sociedade civil e uma cultura de passividade como elemento dominante. Ou seja, caso não exista, não é porque a sociedade portuguesa, como corpo unido, concorde com a austeridade, é porque tem um escasso capital social e uma escassa dinâmica social".


As greves gerais têm assim muito mais benefícios do que custos e têm um efeito normalizador das relações e tensões sociais. São uma espécie de gritos de alerta que ajudam a pacificar as populações.



Um sinal revolucionário?


Apesar da situação política ser diferente da actual, Jean Jaurès explicava porque era contra as greves gerais, não pela legitimidade da greve em si, mas porque essa deveria apaixonar e preparar esse movimento e nunca servir de disfarce da violência. 


Não estando reunidas estas condições, as greves gerais arriscam-se a ser perigosas utopias que afastam as classes mais desprotegidas dos combates mais realistas com vista à conquista de de melhorias sociais.


No entanto reconhecia que as greves gerais, apesar de impotentes como método revolucionário, só por si são um sinal revolucionário da maior importância por serem um aviso prodigioso para as classes privilegiadas, mais de que um meio de libertação para as classes exploradas.





http://aeiou.expresso.pt/impacto-no-pib-de-um-dia-de-greve-e-impossivel-de-calcular=f689187
http://www.dinheirovivo.pt/Economia/Artigo/CIECO023537.html

http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=2061941


6 comentários:

  1. Por falar em sinal revolucionário:

    (... )Os pensamentos da classe dominante são também em todas as épocas, os pensamentos dominantes, ou seja a classe que tem o poder material numa dada sociedade, é também a potência dominante espiritual. A classe que dispõe dos meios materiais é a que dispõe também dos meios de produção espiritual, de tal modo que o pensamento daqueles a quem são recusados os meios de produção intelectual está da mesma forma submetido à classe dominante. . Os pensamentos dominantes são apenas a expressão ideal das relações materiais dominantes concebidas sob a forma de idéias e portanto, a expressão das relações que fazem de uma classe a dominante, dizendo de outro modo,, são as idéias do seu domínio.(...)

    A concorrência isola os indivíduos uns dos outros, não apenas os burgueses, mas também e mais ainda os proletários, se bem que os concentre. É por este motivo que decorre sempre um longo período antes que os indivíduos se possam unir, abstraindo do facto de que - se se pretender que a sua união não seja puramente local - esta exige préviamente a construção dos meios necessários pela grande indústria, tais como as grandes cidades industriais e as comunicações rápidas e baratas, razões porque só depois de longas datas se torna possível vencer qualquer força organizada com indivíduos isolados e vivendo em condições que recriam quotidianamente esse isolamento. Exigir o contrário equivaleria a exigir que a concorrência não devesse existir em determinada época histórica ou que os indivíduos inventassem condições sobre as quais não têm qualquer controlo enquanto indivíduos isolados. (...)

    Karl Marx in: A Ideologia Alemã

    Talvez Marx ainda não soubesse que um dia chegaríamos a um ponto sem retorno. O que ele criticava no "maquinismo" elevou-se ao expoente máximo com a ciência e a tecnologia. E assim um dia a Humanidade compreenderá, que se tornou muito tarde para fazer revoluções contra os seus próprios carrascos.

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  2. Ainda para mais quando os carrascos usam de todas as artimanhas para se manterem no poder,e não estou a falar do poder politico.O que estamos a ver é um teatro de sombras ou um jogo de espelhos que nos confunde e nos divide!

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  3. E andei eu a vender os meus livros de Karl Marx (por falta de espaço na minha biblioteca...). PARABÉNS pela mais que oportuna entrada,Srª «Fada». paulobateira@gmail.com

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  4. Obrigada sr. Paulo Bateira. :)

    E para corroborar que Marx foi um génio, sinto-me tentada a deixar este pequeno excerto do mesmo livro:

    (...) Também assim se explica o motivo pelo qual a consciência ao preocupar-se com aspectos singulares que são passiveis de uma síntese mais geral, pode por vezes ultrapassar as relações empíricas contemporâneas, de tal modo que nas lutas de um período posterior, seja licito utilizar-se as conclusões a que possam ter chegado teóricos anteriores(...)

    Karl Marx in: A Ideologia Alemã.

    Foi mesmo pena ter-se desfeito dos livros...
    Um abraço.

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  5. Cara Fada do Bosque,

    É sempre com enorme satisfação que leio os seus comentários. Mais uma vez elogio o seu vasto conhecimento e a perspicácia da sua cultura política.

    Fica contente por lerem os seus comentários, já que não tem um blogue, e deveria, porque teria em mim o fan número um.

    Um abraço

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  6. Caro dr. Octopus,

    Muito obrigada pelas suas palavras. Apesar de não ter um blogue, já fiz parte da coluna de opinião de um dos sites mais antigos e mais lidos na internet em Portugal, como aqui se pode ver. Já há muitos anos que tento desmascarar a NOM... mas quem sou eu? uma gota no Oceano.
    Acredite dr. Octopus que há muito quem não goste, especialmente em blogues de pessoas com um certo "prestígio" na sociedade portuguesa.
    Decidi que é por aí que "ataco" e através de comentários. Deve dar resultado, pois no "fio de prumo" e no "duas ou três coisas" fui já alvo, no 1º de uma "cilada" e no 2º ficou demonstrado o quanto sou "persona non grata", especialmente para as mulheres. Caso pensem que me intimidam, estão bastante enganadas, é só o tempo de respirar fundo.
    Por isso dr. Octopus, fico muito grata pelo seu reconhecimento.

    Um bem haja para si dr. Octopus e muito obrigada pela Coragem com que divulga informação, esta sim, de importância fundamental para a Humanidade.

    No link acima (NOM), deixei uma das melhores reportagens de Alex Jones, sobre a Nova Ordem, do blogue de Fernando Negro, "Um Blogue Pró Liberdade e Anti Nova Ordem Mundial".
    http://blackfernando.blogspot.com/2011/11/thats-francisco-pinto-balsemao.html#comment-form

    Um abraço.

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